Na segunda aula do dia 8 de abril, fazíamos prova de literatura, pois o horário mudara recentemente. O silêncio, tão raro quando o cenário em questão é a nossa sala, agia como o maior delator para aqueles que tentavam inutilmente sussurrar a alternativa certa aos seus companheiros inaptos para com a disciplina correspondente. Embora esse fosse um dos poucos dias em que eu não estava nesta situação, quase comprometendo a nota de Alex por conta da minha incompetência e me martirizando por não ter tido a simples capacidade de olhar as questões na noite anterior, eu sinto uma pena genuína das pessoas recriminadas pela nossa desastrada professora de português. A moça não passava de uma novata e a gente era sua primeira turma, agora junte isso com a vontade de se provar na função e pronto. Não sei qual é o pior: Esses professores metidos a idealistas recriminando todos que não partilham de sua animação pela matéria ou aqueles que simplesmente não se importam se o aluno aprende ou não se estiveram com o seu salário em dia.
Depois de assinalar o gabarito, infelizmente tendo rasurado a questão 7 por um descuido idiota, eu levanto, caminho até a mesa e entrego a prova para a nossa professora. Não fui o primeiro (mesmo eu sendo bom na matéria, não quer dizer que eu era um aluno excepcional), mas isso já era algo esperado.
Passou algum tempo até que todos terminassem (ou fossem forçados a terminar pelo horário ter acabado) e como, convenientemente, tínhamos duas aulas de português seguidas, a professora resolveu corrigir a prova e deixar a gente a toa até bater o sinal para irmos até o recreio (intervalo, Martim. Você tem o que, 5 anos? Sério, hoje nada está saindo direito). Foi legal da parte dela nos proporcionar esse mimo.
Olho para o lado e noto que Mia, uma das amigas de Eve que por algum motivo ainda me odeia, estava conversando animadamente com Nícolas Alves, o líder estereotipado da nossa turma. Nosso representante é um bom amigo de todos que caem naquele papinho de bom samaritano e, provavelmente, o par perfeito para Mia, a defensora das leis.
— Pessoas populares também te irritam? — pergunto a Alex, meu melhor amigo sensato que abrira um dos seus vários pacotes de salgadinho. Acho que a mãe dele trabalhava numa fábrica ou algo assim. Honestamente, eu não me lembro.
— Para caralho. — respondeu apanhando um bom tanto com sua mão livre e depois me oferecendo. Pego um punhado. — Sério, as vezes parece muito que estão deliberadamente tentando colocar a gente para baixo com suas atitudes descoladas. É um saco.
— Tem razão... Mas talvez, somente talvez, esse problema só nos atinja por causa de um complexo de inferioridade nosso. Já pensou nisso?
— Já, mas eu não concordo.
— Por que não?
— Olha, a meu ver, se existe um complexo de inferioridade nosso, será que o mesmo não é apenas uma consequência? Digo, a causa de um tipo de sistema que nos guia para agirmos de um jeito específico?
— Mas, se pensarmos no que você disse, talvez eles também sejam uma consequência. Só que uma consequência mais "adequada". Se alguém está acima, deve haver alguém abaixo. É assim que as coisas são.
— É um pensamento bem deprimente...
— É um mundo deprimente, então não tem jeito.
Enquanto divagávamos sobre coisas aleatórias, Mia se levanta da mesa a qual estava sentada e caminha até a gente, incompreensivelmente nervosa. Quando chega perto, bate com as duas palmas na minha mesa, com força o suficiente para me fazer querer correr e também para atrair a atenção de alguns alunos.
— O que vocês estão olhando? — pensei na hora que era um desperdício essa garota ser tão nervosa, pois ela era linda demais. Seus cabelos negros eram curtos e repicados, roçando-lhe o pescoço pálido. Os olhos eram de um azul tão escuro que beirava o preto. Dá para dizer que o nariz dela era um pouco grande, mas isso a tornava mais bonita. Os seus seios, oh que seios ela tinha! Sério, ela conseguia ser mais peituda que a nossa professora. Além de usar suas "roupas de adulta" que contrastam de forma quase antagônica com as roupas que Eve usava, sendo elas um sobretudo bege por cima do uniforme.
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Nossa coleção de fracassos
Ficção AdolescenteDepois de um fatídico encontro com um esteriótipo de hippie, que ocorrera durante o passeio escolar que visava inaugurar o ano, Martim, um adolescente comum e sem tantas aspirações ambiciosas sobre seu futuro como as de seus colegas de classe, acaba...