Num sábado de manhã, dia 6 de abril, minha tradição de dormir até tarde fora cruelmente revogada por minha mãe e suas reclamações mais do que pertinentes sobre o caos em que meu quarto (ou meu habitat, se considerarmos a quantidade de tempo absurda a qual eu passo dentro dele) estava e sobre a minha tendência a adiar a arrumação do mesmo. Se analisarmos as coisas desse modo tão desanimador, deve parecer que eu era só um desses adolescentes estereotipados que, além da clara inclinação a se render a misantropia, vive afundado numa suposta futilidade contemporânea por "não ter problemas de verdade". Não é nem de longe o caso. Se leu o conto passado, todas as questões sobre Alice e sua tristeza, tem base o suficiente para entender tudo que passei no mês de março.
Julgo que existe um estágio o qual o quarto muda de "meio bagunçado" para "isso é inaceitável, Martim". Tenho a teoria (especulação, pois a palavra teoria soa-me acadêmica demais) de que um novo estágio é criado quando restos de comida não são depositados no lixo. Nojento, não? E talvez um pouco decadente. Minha família foi até que bem compreensiva com o tempo que decidi ficar fechado no quarto, nem perguntando nada numa tentativa de me dar privacidade ou recriminando meus desleixos, mas passei do limite do aceitável e fui obrigado a fazer algo a respeito.
Claro, não é só porque eles estavam certos que eu tinha que estar feliz e satisfeito com a situação. Dois pesos e duas medidas, não é assim que funciona? Uma coisa não anula a outra, na verdade, até intensifica.
Como o bom cara de pau que eu sou (sério, eu devo ser desprovido de qualquer faísca de dignidade para afirmar isso de maneira tão orgulhosa), resolvi mandar mensagem para minha parceira, Evelin Carvalho. Possivelmente a única pessoa que acordaria cedo num sábado sem ser obrigada (do jeito que ela era, talvez até fizesse isso como um protesto a já esperada inclinação a acordar tarde ou coisa parecida) e que não hesitaria em me ajudar numa tarefa chata como a que executava naquele momento.
Eu: [Bom dia!!! Dormiu bem, fofa?]
Depois de, mais ou menos, uns 25 minutos, a resposta chega.
Eve:[O que vc quer, Tim?]
Eu:[Olha, me sinto desrespeitado quando você insinua que eu quero alguma coisa. Não está aqui pra conferir, mas estou te recriminando com o olhar enquanto balanço a cabeça negativamente. Isso que dá tentar ser um cara gentil.
Eve: [O "fofa" tornou isso um pouco obvio. Eu até gosto, mas você só usa ele quando quer alguma coisa.]
Merda, ela realmente me conhecia.
Eu: [Certo, pode vir me ajudar a arrumar meu quarto? Ele está um caos e eu não sei como lidar com isso. Daí você toma café aqui em casa.]
Eve: [Talvez... O que vai ter de café?]
Grito essa pergunta a minha mãe que a responde com outro grito.
Eu: [Pão francês e coisas que se colocam num pão francês. Acho que é o café da maioria das famílias, certo?]
Eve: [Sem ovos e bacon, my dear?]
Eu: [Na moral, se alguém come isso no café da manhã aqui no nosso país merece apanhar]
Eve: [Claro, por que não há nada mais patriota do que comer pão francês.]
Eu: [...]
Eu: [Estou me sentindo um hipócrita agora. Sério... Você acabou de me colocar uns dois passos mais próximo do suicídio. Valeu, Eve.]
Eve: [De nada, Tim kkkkk. Já chego aí]
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Nossa coleção de fracassos
Teen FictionDepois de um fatídico encontro com um esteriótipo de hippie, que ocorrera durante o passeio escolar que visava inaugurar o ano, Martim, um adolescente comum e sem tantas aspirações ambiciosas sobre seu futuro como as de seus colegas de classe, acaba...