Capítulo 14
"Elis Regina"
I
Dizem que é doce sonhar. Bom, nem sempre.
Após um dia cheio de romance Tiago adormeceu nos braços de Lucifer, naquela cama tão macia ele caiu no em sono pesado que o transportou para um sonho, ele se viu criança, voltou a ser o garoto ranhento que foi quando tinha entre seis e sete anos de idade, ele e um Júlio gorducho com bochechas rosadas empurravam Danusa do balanço da pracinha do bairro, ela um tanto maior por ser mais velha ria enquanto a força combinada dos dois meninos a levava as alturas.
— Quando vai ser minha vez? — Júlio perguntou.
— Quando eu disser que é! Eu sou mais velha, mamãe disse que vocês tem de me obedecer!
— Deixa a gente balançar Danusa! — Tiago exigiu.
— Não! Ha!
— Isso não é justo! — Júlio reclamou.
— Eu não ligo! — Danusa gargalhou.
Tiago olhou para as costas da irmã com furia, o desejo que tinha era de retalhar a carne, rasgar a barriga dela e encher aos mãos com as vísceras quentes, ouvir ela berrar, saborear os espasmos de dor que o corpo de um torturado apresenta, sentir o cheiro do sangue, ah sim aquele cheiro de ferrugem, ver a areia daquele jardim se tingir de vermelho, ver a luz nos olhos dela se apagar quando a morte tomasse conta do corpo frio.
Mas então ele respirou fundo e se afastou do balanço.
— O que é isso? Eu nunca tive esses pensamentos... ainda mais com minha irmã.
Um leve zumbido atingiu seus ouvidos, quando olhou para Danusa novamente o balanço estava parado no ar, congelado, Júlio também imóvel ainda mantinha os bracinhos esticados no gesto que empurrar a cadeirinha do balanço.
— Você não gosta de sentir meus desejos dentro do seu coração? — uma outra voz infantil falou.
Tiago olhou em volta e próximo a ele sentada sozinha em uma gangorra estava uma menina loura de olhos verdes também aparentando ter seis ou sete anos, ela usava uma fantasia de anjo com asas de plumas artificiais penduradas nas costas e uma auréola de plástico sobre a cabeça.
— Eu to sonhando ou é você de verdade? — Tiago perguntou se aproximando.
— Você está sonhando sim, mas sou eu de verdade. Muito prazer Tiago, até que enfim nos conhecemos. Venha, vamos brincar juntos.
Tiago sentou na outra ponta da angorra, Smeralda deu impulso e eles começaram a balançar.
— Você é má.
— Tudo vai do ponto de vista, na verdade...
— Não perguntei, afirmei. Você é má.
— Está com medo?
— Medo de você?
— Sim.
— Sim e não.
— E de onde veio esse "não"?
— Você nunca se apresentou antes para nenhuma outra encarnação, eu não sei como explicar mas sei disso. O fato de você estar aqui na minha frente é sinal de que também tem medo de mim.
— Eu? ter medo de você? Você é minha face humana, só isso.
— Só isso não, eu sou a face humana, eu sou tudo isso. E não menospreze a humanidade, aqui dentro do meu corpo você e eu temos o mesmo nível de força, você não pode me fazer mal.
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Lucifer Smeraldina
FantasyA saga de uma alma, a alma da antiga esposa do Senhor do Inferno, uma alma de um ser angelical mas que agora habita em um corpo humano masculino. Todos os homens que amaram no passado ainda a vão amar Smeralda agora que ela se tornou Tiago? Lucifer...