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As gotas de água caem cada vez mais grossas e rápidas, e o barulho da chuva é mesmo irritante agora. Acelero o passo, vendo finalmente o carro negro ao fundo da rua, no mesmo lugar de à meia hora atrás.

Entro o mais rápido possível. Sento-me, e agora num lugar de confidência, posso finalmente tirar os óculos, e usar a minha temperatura corporal aumentar, de modo a secar-me. - Hogan, vou te pedir um favor.

Ele olha para mim, demasiado sério. - Por quê Hogan? Nunca me chamas Hogan. - sorrio, sentindo-me realmente bem disposta e paciente.

- Lembras-te aquela vez, em que desapareceste o dia inteiro, e eu te cobri para o Tony dizendo que tiveste uma emergência familiar com a tua tia, quando na reali... -

- Okay, okay! - ele manda-me calar sem o fazer. Coloco o cinto, satisfeita.

- Hora de devolver o favor. Preciso que me leves até a ponte de Brooklyn, e não posso dizer mais nada. - ele olha silenciosamente para mim, julgando-me. - Desculpa, a localização é confidencial. Ao me deixares podes ir embora, eu arranjo-me depois.

Ele liga o carro, e avança. Não demora muito, mas a viagem também não é curta. A chuva finalmente parou quando me deixa novamente, desta vez sozinha.

Coloco mais uma vez os óculos, e olho em volta. Brooklyn não é o lugar onde cresci, mas onde vivi, não são grandes as memórias, nem boas, mas tenho um carinho especial pelo lugar. Lembro-me de ter uma ama, mesmo eu tendo 3 anos, que todas as sextas à tarde, me trazia até à ponte de Brooklyn, e ficávamos apenas a olhar para a água.

Caminho pelas ruas, até um pequeno bar, quase vazio, a não ser por dois idosos a jogar cartas a um canto, um casal de meia idade a beber uns copos, e um homem por de trás do balcão. Não é o mesmo da última vez.

Este tem indícios de quem vai ser careca em uns 3 anos, e por muito que tente esconder através das roupas folgadas, e tentativa de parecer desleixado, está com o olhar atento em cada pessoa na sala, e com postura alerta.

Aproximo-me do balcão com calma e autoridade. Tiro os óculos pousando-os na gola da t-shirt e sorrio. - Tequila com um toque de Vodka. - o homem demora um pouco a reagir, assimilando cada detalhe do meu rosto, e só então me libera a passagem, deixando-me passar para o interior do balcão, e então para os fundos do bar.

À medida que adentro no estabelecimento, o ambiente aclara, até chegar a uma porta branca. Esta claramente não abre pelo simples facto de não ser uma porta, e também porque não é a primeira vez que a uso. Coloco a palma da mão direita no terceiro tijolo à minha direita, o que me dá acesso livre ao elevador escondido do outro lado. 

Em poucos segundos estou dentro de uma das bases da S.H.I.E.L.D. e nada me satisfaz mais do que a enorme presença de pessoal, novamente no seu total potencial. Endireito as costas, e caminho o mais recta possível até ao meu destino, o gabinete de Nick Fury.

Desço mais uns níveis, passando por alguns agentes que tinham desaparecido com o estalo, mas não lhes dando a atenção que merecem. Não voltei a nenhuma base desde que trouxemos todos de volta, provavelmente porque as memórias eram demasiadas, e não queria sentir ainda mais a dor da perda dela, mas tenho de a honrar, em vez de derramar lágrimas.

O homem está de frente para inúmeros ecrãs do outro lado da porta de vidro. Abro a porta, não me incomodando em bater. - Sabia que era uma questão de tempo até vires ter comigo. Pensei que fosse demorar mais, e mais uma vez subestimei-te. - Dá a volta, e não precisa de pedir aos dois agentes para saírem, estes o fazem sozinhos, passando por mim a uma velocidade enorme.

- Se calhar fiz isso até comigo mesma. Eu venho pedir uma coisa, e espero que respeite a minha decisão. Nos passados 3 anos venho dedicando grande parte da minha vida e tempo a esta organização, e por sua vez, apenas pude fazer isso pois a Natasha sempre me apoiou, contudo, para eu participar de uma missão de campo, apenas podia ir com ela, e aceito que o Senhor requeira que eu possua mais treinamento, faça como quiser, mas eu gostaria de passar a poder ter as minhas próprias missões e um lugar definitivo aqui. - finalizo, olhando fixamente para ele, sem desviar o olhar. 

- Ouvi dos seus feitos. - comenta, virando-me as costas. - Ouvi dos acontecimentos de Wakanda, dos últimos três anos, e de duas semanas atrás. Admito que no primeiro dia que tive contacto, acreditei que viesse a dar problemas. Fui requerido a um departamento, e estava lá uma criança de cerca de 4 anos, de cabelos extremamente claros, e de olhos focados em um dicionário. Sabia que os agentes Brown tinham tido uma criança, mas nunca tinha conhecido a mesma. - senta-se em uma das cadeiras. Não me sento, não mudo a minha postura, contudo, olho curiosa para ele. 

- Ao lado do dicionário estava um caderno todo escrito, com um primeiro olhar podiam parecer gatafunhos, mas eram inúmeras frases, apenas com uma letra extremamente difícil de ler. Olhei para a menina e ela olho para mim, e o azul dos olhos ficou tão escuro, que me fez lembrar alguns dos homens mais aterradores que já tinha conhecido. Anos depois quando vim a descobrir que o agentes que tinham morrido na explosão eram os Brown, eu tive que rebuscar todo o teu passado, passou pela minha mente, admito, que não tivesse sido um simples acidente, contudo, não passou disso. Sei de toda a história seguinte, Smith, é um prisioneiro excepcional, mas tenho que admitir que com o histórico dos progenitores, tive de me certificar. - reviro os olhos ao ouvir o seu nome. - O meu ponto é que sei cada erro que cometes-te, cada deslize, mas aprendi a partir de um dos melhores agentes que vou conhecer, Romanoff, que os erros não definem uma pessoa, mas como se aprende com eles. Cresces-te, e acima de tudo, tornas-te uma pessoa melhor.

- Desculpe, o que descobriu? - procuro na minha memória, o momento que ele descreveu, não sendo capaz de encontrar nada. Aliás, não consigo lembra-me de nada que me possa pintar como alguma psicopata.

- Nada que interesse, o ponto é, eu me sentiria honrado em ter a tua total devoção à S.H.I.E.L.D..

Sorrio de lado, ele acredita mesmo que já terminei? - Tem uma condição. - ele franze a testa. Eu a que venho pedir para me aceitar como agente total, e eu a que faço exigências? - Pelo máximo de tempo possível, vou manter a minha aparência, ou melhor, eu tenho o meu papel nas Indústrias Stark, e quero mantê-lo, mas estou pronta a dar a cara. - coloca-se de pé, e aproxima-se de mim. Oferece-me a mão, que aperto de forma firme.

- Obrigada. Vou ser difícil de lidar sabe disso, certo?

- Estou a contar. - sorrio abertamente, desfazendo a minha pose.

Sigo até à porta, mas antes de sair volto a falar. - Só volto em dois dias.

- Para onde foi a postura de soldado de ainda à pouco? - pergunta, e eu apenas lhe levanto os ombros.

Tony Stark está prestes a receber 2 notícias inesperadas.

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Olá meus amores, tudo bem com vocês? Espero que simmmmm!

Mais um capítulo que espero que tenham gostado, foi realmente especial para mim escrber isto.
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Beijos ^^

A Stark but not a Stark | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora