Capítulo 10

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Eu já não teria aulas durante o resto do dia então fui a refeitório que estava meio fazio, sentei e comecei a desenhar enquanto ouvia música.

O Mike puxou uma cadeira, eu fingi que não o vi, mas retirei um dos lados dos auscultadores.

- Vais ficar sem falar comigo até quando?

- Até a Cláudia se comportar.

- Ela até é bem comportada, só um pouco mimada.

- Achas que ela não virá ajustar contas comigo? - falei largando o lápis e parando a música.

- Como assim?

- Eu sou novata e já estou perto demais de um rapaz que nem você, achas que isso não é motivo suficiente?

- Ela não vai fazer isso.

- Fica sentado e observa - falei notando que ela vinha com mais duas amigas.

Uma delas, despejou sumo de laranja no meu desenho o que me lixou a cabeça.

- Ups, estraguei o seu trabalho de casa?

- Não querida, acabou de dar a sentença de morte para a sua rainha - disse me levantando .

- Vai fazer o quê? tá armada em poderosa novata? você e esses seus desenhos ridículos não são ninguém - dessa vez foi a Cláudia que respondeu.

- Se eu fosse você pedia desculpa Cláudia - Mike se fez ouvir.

- Tarde demais... - rebentei um soco na cara dela que provavelmente partiu o nariz - não acha esse tom de vermelho lindo? - falei passando os dedos delicadamente no nariz dela.

- Não acredito que você fez isso - Mike falou não tão surpreso mas limitou-se a continuar sentado.

- Você vai ficar aí e não vai falar nada? - a outra rapariga se pronunciou pela primeira vez para o Mike.

- Ela mandou sentar e observar, melhor obedecer se não o meu nariz será o próximo.

Avistei o Luís na porta do refeitório observando tudo então arrumei as minhas coisas e fui ter com ele.

- Uuh tá de mau humor gostosa...

- Quer um soco também?

- Não, só um beijinho, tu ficas tão sexy quando estás nervosa...!

- Vai gozar com o seu pai idiota.

Chegamos em casa e ele levou a moto no estacionamento, decidimos ficar no meu portão a conversar um pouco.

- Então... fiquei sabendo que você é assim mal humorado por causa da sua mãe?

- Uuuh assunto delicado.

- Se não quiser falar tudo bem.

- Eu quero que você saiba.

- Certeza?

- Claro!... - fez que sim com a cabeça - havia uma pizzaria onde a minha mãe me levava, a mim e ao meu irmão, era o nosso sítio de passar o tempo. O meu pai havia viajado então ela decidiu nos levar à jantar fora naquele lugar, se ela ainda estivesse aqui teria achado aquele dia normal, mas eu lembro de cada detalhe de uma forma muito especial. Foi divertido. O meu irmão sempre foi mais ligado ao meu pai e eu a minha mãe, mas ambos gostávamos muito dos dois, éramos muito amigos ainda. Depois de jantar voltamos pra casa. A minha mãe era da polícia, e não sei como ela percebeu que algo não estava bem em casa, ela estacionou o carro ali - ele apontou para a porta da garagem - e disse ao meu irmão "não saiam do carro até eu voltar"... ela nunca voltou. Ela pegou a arma e entrou. Eu estava assustado e com medo, ela era minha melhor amiga! Passaram alguns minutos e eu estava muito inquieto até que ouvimos tiros, nem o Mike conseguiu me segurar... eu entrei na casa feito um furacão e... encontrei ela no chão da sala, sangrando. Ela não tinha mais vida, eu nem pude ouvir os últimos desejos, os últimos suspiros, nem uma última recomendação ou um último sermão, não pude segurar a mão dela e dizer " aguenta firme que a ambulância já vem mãe". Não pude fazer nada disso porque ela já não estava aí. Não havia mais ninguém na casa além de mim, o meu irmão e o corpo da minha mãe. Eu só queria alguém pra culpar mas nem o assassino estava lá, eu só conseguia culpar-me por a ter obedecido uma última vez. Eu devia ter ido com ela, de algum jeito eu sinto que podia evitar isso de tantas maneiras mas não o fiz. Eu sinto muito a falta dela. sei lá...

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