Eu não sei quanto tempo levou pra chegarmos, eu não conseguia nem queria falar, eu pedi ao Mike que explicasse quando chegássemos e desde aí eu não falei mais...
Quando chegámos, a chuva não havia parado, quando eu saí do carro eu senti a chuva em mim outra vez, mas dessa vez me senti um pouco mais aliviada, eu queria que ela levasse tudo o que eu sentia agora mas não era possível.
A chuva estava intensa mas consegui ver o Luís da janela do quarto dele, ele olhava pra mim também, eu não senti raiva, eu não sentia mais nada... eu só queria dormir.
Meus pais esperavam na porta preocupados...
- Meu amor, aí mds, o que aconteceu? você tá bem? ficamos tão preocupados - meu pai veio me tirar da chuva me envolvendo com uma toalha.
Eu olhei para a minha mãe, ela não perguntou nada, parecia triste, e simplesmente me abraçou, aí eu chorei ainda mais... enquanto o Mike explicava o que aconteceu ao meu pai, a minha mãe me levou para o quarto e começou a me secar.
- Vamos tomar um banho? - ela sabia que eu não ia responder, apenas fiz que sim, eu não conseguia falar nada, as lágrimas só escorriam, eu chorava em silêncio, e a minha mãe parecia fazer um esforço para não chorar também.
Ela me ajudou a tomar banho e a me vestir. Eu ainda tinha o cabelo húmido, ela pegou meu uniforme e meteu pra lavar, voltou ao quarto e me fez deitar no colo dela.
- Eu já sei o que aconteceu... - ela começou a falar, com a voz embargada - eu lamento muito meu amor, mas olha não aconteceu nada, você já tá aqui comigo - ela parou de falar, respirou fundo e continuou - eu sei que você não consegue falar ainda, tá em choque, sei que as suas palavras se perdem no caminho entre o cérebro e a boca, mas não é bom guardar as coisas aí dentro - ela me fez ficar de frente pra ela - lembra do dia em que você caiu da bicicleta e machucou o joelho? - fiz que sim enquanto limpava as lágrimas - eu fiquei muito preocupada porque seus amigos ficaram gozando com você por não saber andar de bicicleta, e você só tinha 6 anos, eu pensei que fosse ficar muito triste, mas você me disse " mamã, eu caí, então eu vim pra você me ajudar a andar de bicicleta na frente deles". Você queria mostrar que não ia deixar de tentar por causa deles, então eu sei que você não é de sentir vergonha nem esconder os sentimentos pra mim... pode falar quando quiser.
Depois de me lembrar disso eu consegui organizar os meus pensamentos...
- Foi horrível mãe - disse entre soluços - eu não consegui fazer nada, eu só sentia medo e minhas forças desaparecerem, eu não consegui fazer nada, não consegui fazer nada, não consegui fazer nada...
- Hey, você não tem culpa nenhuma, nem sempre você vai poder usar esses golpes fantásticos que sabe, as vezes você só vai depender da vontade de Deus filha.
Ficamos um pouco mais no quarto e depois o meu pai veio para o quarto com o Mike junto...
- Oi - meu pai disse batendo na porta - tem alguém que quer falar com você...
Minha mãe me deu um beijo na testa e saiu deixando eu e o Mike no quarto, eu estava sentada na borda da cama ainda pensando, com os olhos marejados...
- Você tá melhor? - fiz que sim - eu não sabia... se eu soubesse que já havia passado por isso eu mesmo ia estar disposto a te obrigar a aceitar que eu te levasse e te trouxesse pra casa.
- Eu não gosto de falar sobre isso, além disso ninguém precisa saber.
- Seu pai disse que vai contratar um guarda-costas pra você.
- Acho que já não consigo me defender sozinha mesmo.
- Você mesmo assim continua sendo a garota que partiu o nariz de uma amiga minha.
Pela primeira vez eu sorri ao lembrar disso.
- Por favor não conta pra ninguém sobre isso.
- Tarde demais, o Luís e a Lisa já sabem... mas eles não vão falar com mais ninguém.
- Tá...
- Então eu já vou, você precisa descansar...
- Eu vou junto, assim desço e aproveito pra comer também.
- Depois de tudo isso você ainda consegue sentir fome...
- Não tenho porquê ficar de jejum mesmo - e sorri de novo.
Após ele ter ido embora jantamos. O jantar não foi tão animado como das outras vezes mas foi normal...
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Ninguém precisa saber
Teen FictionA vida de Anne muda quando ela acha que seria tão monótona como nunca... Acontecimentos fazem ela perceber que ela não deve subestimar a vida, confiar em todos e que ficar presa ao passado nem sempre é assim tão mau.