Capítulo 28

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     - Esquece isso rapaz, eu levo esse aqui para a enfermaria, vocês precisam conversar - dito isso o Mike se foi com o Fernando.

     - É a segunda vez que eu te vejo chorar - ele falava enquanto limpava o meu rosto -  e acho que me enganei, você não é nada bonita quando chora, fica horrível - ele riu e eu ri também - já sei que depois disso você não vai confiar em mais rapaz nenhum então vamos ficar separados de novo.

     - Não - consegui finalmente falar - eu confio em você - e abracei ele.

     - Sabe que você tá entrando num sítio que não dá pra sair mais... - ele disse me abraçando de volta.

     - Onde?

     - Na minha vida super pessoal.

     - Como assim? - falei olhando pra ele super confusa.

     - Essa é a minha maneira de dizer "namora comigo?".

     - Que horror Luís, eu mereço melhor não acha - e começamos a rir.

     - Eu não sei fazer isso, minha mãe não chegou a me ensininar essa parte.

    - Eu entendo.

     Ficamos os dois sentados no chão ao lado do carro do Mike a olhar para o teto.

     - Você não precisa responder agora... não é uma boa hora...

     - Uhumm.

     - Você... quer dizer alguma coisa sobre o que aconteceu hoje?

     - Eu acho que nunca mais vou ser a mesma de antes depois disso.

     - Como assim?

     - Eu não sei o que todo mundo vê em mim, sei lá... acho que depois das férias eu não volto pra escola.

     - E vai ficar sem estudar?

     - De certeza que quando o meu pai ficar sabendo ele vai arranjar uma solução.

     - Desde que você fique bem pra mim tá ótimo.

     - Você gosta mesmo de mim?

     - Eu acho que sim!

     - Não acredito.

     - Eu sei que não. Mas não me importo porque sei que lá no fundo você sabe que é a verdade. No entanto tu precisas de um tempo, eu entendo.

     - Ainda bem.

     - Então amanhã não irás ao festival?

     - Sem chances. Preciso relaxar.

     - Anne... - olhei pra trás e estava o meu pai - entra no carro agora...

     Eu nunca havia visto o meu pai assim e fiquei assustada então obedeci rapidamente. 

     Ele falou alguma coisa ao Luís e em seguida entrou no carro também e fomos pra casa.

     - Pai eu...

     - Não, agora não tá.

    "O que é que se passa?". Fiquei calada o resto do caminho com milhões de perguntas na cabeça.

     Quando chegamos eu desci do carro com a mochila e entrei...

     - Anne? - minha mãe chamou por mim saindo da cozinha.

     - Eu vou trocar de roupa... - respondi sem ânimo.

     Subi as escadas mas estava tão atrapalhada nos meus pensamentos que esbarrei com uma rapariga.

     - Ai - ela gemeu de dor quando caiu.

     - Desculpa - falei ajudando ela a levantar - quem é você?

     - Raquel Shots, quer dizer, Adams agora.

     Ahamm lembrei!

     - Tá, desculpa aí - falei entrando no quarto e fechando a porta.

      Enquanto tomava banho eu pensei em tudo uma última vez porque eu não ia pensar nisso nunca mais até que alguém me recordasse de novo. Quando saí do banho já havia deixado as lágrimas e os traumas no banheiro...

      Me arrumei e desci para a cozinha mas sem ânimo ainda, me sentei, servi o meu prato... a mesa estava mais silenciosa do que nunca.

     - Você vai me explicar o que aconteceu? - meu pai falou muito sério.

     - Porquê? você já não sabe? - respondi sem olhar para ele.

     - Eu quero saber o que você fazia no estacionamento com aquele rapaz depois de tudo?

     - Estava agradecendo por ele ter me ajudado - as minhas respostas eram tão calmas e tão frias ao mesmo tempo.

     Ele não fez mais perguntas, ao fim do jantar a Raquel saiu da cozinha e ficámos só os três.

     - Filha desculpa por ter te incentivado a ficar com ele, lamento muito.

     - Você não ia adivinhar - falei na tentativa de confortar um pouco a minha mãe.

     - Mas agora você não vai mais ver nenhum rapaz até segundas ordens, nem Mike nem Luís nem outro ser humano que tenha um pénis entre as perna a não ser eu - meu pai quase gritou.

     - Não precisa gritar - eu falei ainda sem humor nas palavras olhando ele nos olhos - eu sei que você também tá sofrendo por causa disso, eu sou sua filha, eu sei que dói, mas dói em mim e na mamãe também, no Luís e no Mike também. Mas não faz isso, não seja frio como agora porque não faz o seu tipo.

     Quando eu disse as últimas palavras a expressão dele se alíviou, ele sorriu...

     - Eu estava quase - meu pai falou sorrindo mas com as lágrimas na borda dos olhos...



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