9 • Desentendimento

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Enquanto o esverdeado atendia os clientes - em sua maiorias guerreiros, caçadores e comerciantes -, ficou questionado onde o loiro esteve todo esse tempo, mas sempre sendo ignorado.

- Kacchan, você sumiu por dois meses! - disse espantado com a ignorância do outro - Ao menos dê uma explicação.

"2 meses?" Eijirou pensou. Então Katsuki esteve sozinho esse tempo todo?

- Eu estive por aí.

- Como assim por aí? Não seja tão vago!

- Pela merda da floresta, Deku. Sobrevivendo. - resmungou.

- Por que ficou na floresta? Você sabe que pode me procurar se precisar de ajuda!

Silêncio, novamente.

Eijirou lembrava-se muito bem que o loiro dissera não ter para onde retornar, e agora seu amigo se madeixas esverdeadas dizia o contrário? Apenas contribuiu para levantar mais suspeitas acerca de Katsuki. Já buscava parar de alimentar a confiança que havia depositado nele e, consequentemente, o amor que começara a nutrir.

Todavia, esperaria até o momento que ele havia lhe prometido explicações. Sempre atento a qualquer ato minimamente suspeito do outro.

- Deku - chamou a atenção do outro - Tem alguma casa de hospedagem por aqui, né?

- Sim. Pretende ficar?

- Não sei.

- Olha, se não for ferir seu orgulho - estreitou os olhos ainda irritado - você pode dormir na minha. Há quartos sobrando.

Qual era pior; ter que pedir dinheiro para pagar a estadia em algum local de hospedagem ou aceitar a oferta gentil de seu amigo de infância e passar a noite em sua casa?
Bom, talvez a segunda opção não fosse tão ruim, então lançou um olhar para Eijirou, a fim de descobrir se compartilhavam da mesma opinião e recebeu um aceno positivo.

- Que seja - buscou ser o menos educado possível, mas Izuku sabia ler suas palavras muito bem.

Ficaram o restante do tempo no bar, onde o ruivo foi capaz de conhecer outros "amigos", ou ao menos, conhecidos de Katsuki, como por exemplo; Denki Kaminari, um comerciante ardiloso com uma aura eletrizante, capaz de deixar o ambiente mais alegre. Possuía madeixas louras, com uma mecha negra e olhos cor âmbar. Este era acompanhado de Hanta Sero, um guerreiro empenhado e ágil, tendo uma personalidade que era o total oposto de Denki. Possuia cabelos negros e olhos cor carvão, sendo apenas alguns centímetros mais alto que o loiro.

Katsuki parecia não desgostar totalmente da presença desta dupla, ao mesmo tempo que vez ou outra, encarava fixamente o ruivo, tentando comunicar-se pelo olhar e, infelizmente, falhando quando o Kirishima virava sua cara com um leve e quase imperceptível rubor.

Não tinham para onde ir e, certamente, não poderiam conversar da forma que conversaram.
Bakugou ansiava por tocar Eijirou. Beijá-lo gentilmente e acalmá-lo. Explicar-lhe toda a situação e deixar claro que nunca teria intenção de sequer fazer menção de feri-lo.
Não era este tipo de caçador, mesmo que tivesse treinado para ser um.
Ao passo que, também estava temeroso quanto o evento que contaria. Se culpava tanto desde que aconteceu, que era inevitável não sentir medo.

- Ah, verdade - Kaminari pareceu se lembrar de algo - Por que precisava daqueles remédios que troquei com você, Bakugou?

- Não interessa. - disse ríspido, seria um saco explicar.

- Não foram aqueles que me deu? - Eijirou acabou por expô-lo sem pensar muito, arrependendo-se assim que viu o loiro emergir em fúria.

- Porra, Kirishima.

- Ah, foi mal... - olhou para baixo envergonhado. Não deveria ter se metido em uma conversa de humanos assim.

- Bom, agora sabemos que não estava sozinho - Sero sorriu.

- Eu estava!

- Então como conheceu o Kirishima? - Midoriya perguntou levemente curioso. Só havia parado para pensar nesta questão agora.

Os olhos curiosos fitaram os dois. Katsuki não respondeu.

Como explicaria que o ruivo o salvou e depois eles viveram uma semana em uma caverna sem isso parecer no mínimo estranho?
Por outro lado, a mente de Eijirou o levava as piores suposições. Talvez o loiro tivesse vergonha de si? Era um dragão, e ainda por cima, um homem, afinal. Era uma relação a qual acreditavam ser um dos piores pecados carnais, então até faria sentido.

- Onde é a merda da sua casa, Deku? - desviou do questionamento anterior.

- Kacchan, por que não responde simplesmente como se conheceram? - Perguntou insistente.

Antes que tivesse a oportunidade de responder, Eijirou se pronunciou.

- Ele me salvou de um urso gigante! - disse empolgado - Foi incrível! Só estou vivo agora por causa dele, então eu tinha que compensar de alguma forma, não? - sorriu coçando as têmporas, tanto que convenceu os outros.

- Que foda, Bakugou! - Denki elogiou.

- Não duvido que tenha sido incrível, já vi você matar coisas maiores e foi demais! - Sero comentou.

"Coisas maiores", Eijirou pensou.
Maiores, tipo, dragões...
Já estava ficando paranoico demais.

Midoriya não comentou nada sobre o grande resgate que Katsuki executou. Ele sabia muito bem que era mentira, mas mesmo assim indicou onde ficava sua casa ao loiro.

Eijirou se despediu do trio, e acompanhou Katsuki, mais uma vez, em silêncio.

Ao chegarem, adentraram-na. Era simples e rústica, feita de madeira, como todas casas daquela vila. Era um lugar confortável.
No momento que entraram, Katsuki se pronunciou.

- Obrigado - murmurou baixinho, se aproximando do ruivo.

- Vai me dizer o que aconteceu agora? - por mais que não quisesse, ignorou o agradecimento.

Antes de dizer qualquer coisa, Katsuki tentou passar seus braços ao redor do ruivo para puxá-lo para um abraço carinhoso, porém foi recusado, vendo Kirishima se afastar temeroso.

- Tem medo de mim? - arregalou os olhos. Não recebeu nenhuma resposta - Você tem medo, né? - deu um passo a frente, fazendo Eijirou dar uma para trás, batendo as costas na parede.

- Me diz o que você fez... - disse baixo. Precisava saber. Estava insuportável conter a vontade de pular nos braços do loiro com medo de que ele lhe apunhalasse pelas costas.

Katsuki encarou-o apreensivo. Merda, lembrava do sonho na noite anterior.
Aquela cena do dragão amarelo banhado em sangue lhe assombrara por estes dois meses. Se culpava tanto.
E ela havia sido substituída pela do ruivo. Por quê? Era ainda pior.

- Olha, eu... - tentou achar palavras para descrever o que havia ocorrido, mas não conseguia. Simplesmente estavam entaladas em sua garganta.
Era para ser algo fácil de se dizer, certo? Não havia feito aquilo diretamente, mas mesmo assim se culpava.

- Cheguei, Kacchan - o esverdeado abriu a porta, fitando de imediato a cena que se desenrolava em sua frente - O que está acontecendo?

O loiro bufou, irritado pela interrupção, começando a se afastar, adentrando mais a casa e deixando um esverdeado confuso e um ruivo assustado para trás.

[...]

Beloved Dragon [DESCONTINUADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora