4 • Descoberta

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A caminhada de volta para a caverna foi silenciosa. Ambos não tinham ideia do que dizer um ao outro. O silêncio era ensurdecedor.

Eijirou estava extremamente arrependido. Sabia que era errado e mesmo assim ousou tentar ter um contato mais íntimo com o humano.
Estava se remoendo em pensamentos auto-depreciativos e angustiantes, lembrando-se de quando havia cedido a tal desejo pela primeira - e única - vez.

Acabou não podendo persistir em silêncio e começou a diminuir os passos, fazendo com que o loiro que andava atrás de si fizesse o mesmo.

- Eu sinto muito! - Declarou, ainda de costas para o loiro.

- Tá se desculpando pelo o que? - arqueou a sobrancelha confuso.

- Por tentar te contaminar.

- Hã? - indagou - De que porra você tá falando?

- Tentei tocar no corpo de outro homem como se fosse o de uma mulher. - Explicou - Isso é errado. - e voltou a andar.

Bakugou ficou em silêncio. Concordava e não concordava ao mesmo tempo. Parecia errado concordar com algo tão... injusto? Era confuso. Então sua natureza questionadora começou a despertar e não foi capaz de contê-la.

- Por quê?

O ruivo parou novamente, mas dessa vez virou sua face que exibia confusão em relação ao questionamento de Katsuki.

- Como assim? - indagou - É tremendamente errado. Um pecado. Homens não podem fazer isso com outros homens, dizem que não é másculo.

- Quem disse isso?

- Meus pais, quer dizer, meus pais adotivos diziam - olhou para baixo estreitando os olhos - Meus pais de verdade não estão mais vivos. - sussurrou, como se nem mesmo ele quisesse ouvir aquilo.

Katsuki arqueou as sobrancelhas surpreso, mas logo sua expressão contraiu-se em angústia e pesar.

- Sinto muito - aproximou-se o suficiente para tocar o ombro do ruivo em sinal de compreensão - Os meus também - Soltou, tão baixo que Kirishima quase não foi capaz de ouvir.

- Hã? E-Eu, sint-

- Não precisa se sentir mal por mim - deu de ombros, escondendo a angústia e a memória ainda fresca que aquela conversa havia trago.

Eijirou então se calou. Seu semblante estava fechado e sua face contraída em tristeza.

Ao menos haviam se esquecido do primeiro assunto.

*

Voltaram para a caverna e ocuparam-se até anoitecer, onde Bakugou finalmente pediria o que vinha pensando para Kirishima.

- Cabelo de merda - chamou pelo outro ao seu lado. Estavam sentando em frente a fogueira.

- Oi?

Começou a desviar o olhar para o outro lado, envergonhado com o que pediria.

- Eu meio que... não tenho para onde voltar - disse com certa dificuldade - posso ficar aqui? Pelo menos até eu achar outro lugar.

Kirishima o encarou boquiaberto, tratando de abrir um sorriso contagiante em forma de aceitação, que, como de costume, foi capaz de deixar Bakugou sem jeito.

- Sim!

*

Passou-se uma semana e meia depois de todo esse ocorrido. A conversa sobre a tal coisa errada foi 'esquecida' - o que quer dizer que nenhum deles soube como tocar no assunto novamente.

Mas, por outro lado, foram capazes de aprofundar - mesmo que minimamente - seu relacionamento.

Descobriram coisas que tinham em comum, e Kirishima teve seu momento, onde pôde compartilhar com o loiro tudo que julgava másculo.

Bakugou, no fundo, apreciava profundamente o quão amável aquele garoto era, sempre sorridente animado e gentil. Um verdadeiro anjo.

Tanto, que notou quando a frequência de sorrisos diminuiu. Também notou as profundas olheiras debaixo dos olhos do ruivo. Perguntava-se se o ruivo estava dormindo direito.

Ele não estava animado nem plenamente feliz. Mas fingia estar. E era doloroso demais vê-lo fingir, sempre que perguntou ao ruivo se estava bem, recebia respostas mentirosas como "Tudo ótimo, Bakugou!" com um sorriso vazio, ou respostas vagas, aéreas e até mesmo monossilabicas.

Não tinha mais aquela animação. Não tinha mais aquele sorriso que, em segredo, o loiro adorava contemplar. E faria de tudo para vê-lo novamente.

Contudo, não fazia ideia do que fazer. De como ajudar. Não tinha ideia do que Eijirou estava sentindo.

E para ser sincero, não sabia nem o que si mesmo estava sentindo. Os dias com Eijirou haviam ajudado a nublar a dor, mas agora ela voltava mais forte do que vierá.

Tentou questionar a Kirishima com seu jeito rude. Sem sucesso.
O mesmo apenas recuou com um sorriso desanimado e ignorou-o.

Então procurou pensar em outras alternativas.

*

Era de noite e estava no meio da semana.
A noite era silenciosa. Um silêncio confortável. Apenas o barulho do balançar das árvores e de grilos, que nem eram capazes de incomodar.

Katsuki tinha o costume de deitar-se cedo e acordar cedo, mas acabou acordando no meio da noite por conta de um pesadelo.
Acordou ofegante, agradecendo aos deuses por ainda estar na caverna e não no lugar qual ele havia sonhado.

Mas estranhou a falta do ruivo por perto.

Esgueirou-se de modo silencioso para fora da caverna, quase soltando um grunhido de surpresa ao ver o ruivo no gramado sendo iluminado pela luz da lua.

Mas tinha algo estranho.

Estreitou os olhos desacreditado do que via.
Kirishima possuía asas em suas costas. Asas de dragão.

Ele voava um pouco. Bem baixo na verdade, e sequer podia ouvir o barulho de suas asas se chocando contra o vento.

Pelo o que Bakugou identificou, o ruivo exibia uma expressão serena, como se aquilo trouxesse a paz ao interior da alma do ruivo. Como se fosse livre.

Katsuki buscou se aproximar, na intenção de ver o ruivo se divertindo em seu voo - por mais que aquilo estivesse o deixando extremamente confuso - mais de perto sem ser visto, mas falhou.
Acabou pisando em um galho que estava por ali, e fez um barulho consideravelmente alto, ainda mais em meio ao silêncio noturno.

Kirishima captou o som rapidamente - o que até assustou o loiro -, olhando exatamente na direção em que o loiro estava.

Sua expressão contraiu-se em terror enquanto pousava no chão, quase se desequilibrando.

A ficha de Katsuki logo caiu. Kirishima havia visto a si. Então ele se aproximou de vez para questionar sobre o que acabara de ver.

- B-bakugou? - chamou-o desesperado quando viu sua silhueta se revelar.

- Que merda é essa, Kirishima? - indagou totalmente surpreso e confuso. Mas também era inevitável que não houvesse uma irritação em sua voz, como se acabasse de descobrir que foi enganado.

- Por que está acordado? - gritou em desespero, ignorando a pergunta do outro.

Nunca imaginaria que o loiro fosse acordar no meio da noite.

[...]

Beloved Dragon [DESCONTINUADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora