16 • Afastamento

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É indescritível a mágoa súbita que Eijirou sentiu ao ouvir aquela negação do loiro. Quer dizer, há tempos atrás era o próprio que negava isso então por que doía tanto ouvi-lo pronunciar aquilo com tanto raiva? Bakugou provavelmente já não necessitava mais de si - ou talvez nunca tivesse - depois de reencontrar os progenitores e amigos. Estava tudo certo então.

Engoliu a mágoa e sorriu para o casal mais velho.

- Só somos amigos, senhora - falou com a loira - Não há necessidade de ir com vocês, posso me virar sozinho - sorriu falsamente.

Katsuki ouviu aquilo indignado. Como caralhos o ruivo levara tão bem? Ele simplesmente ignorou sua fala. Das últimas vezes isso nunca teria acontecido... Huh, talvez ele estivesse de acordo com sua mentira, afinal.
Realmente, não o merecia.

- E onde pretende ficar, querido?

- Ele pode ficar aqui, meus pais estão em viagem - Midoriya informou, lembrando-se da promessa que havia feito com Todoroki.

- Por mim tudo bem - o ruivo respondeu meio sem vontade.

- Tsc - apenas estalou a língua com toda essa ignorância.

Mitsuki observou seu filho, levando o olhar ao ruivo e vendo seu semblante vacilar por um segundo. Havia algo errado ali, não era doida, o que vira no quarto foi muito real.
Contudo, decidiu deixar daquele jeito. Teria - ou tentaria ter - uma conversa séria com o filho quando chegassem em casa.

- Certo então, querido - ela sorriu para o dragão, se despedindo de todos e arrastando Katsuki para casa.

Bakugou, muito a contragosto, deixou-se levar. Depois do sonho, dos pensamentos suicidas, da briga que se envolvera, depois de tudo isso... talvez de fato não merecesse ficar com aquele dragão. Ao fitar aquela expressão cheia de calma, negando o fato de serem apaixonados um pelo outro... aquilo machucava. E muito.

Mas, mesmo assim, rumou à sua casa nova, não sabendo se veria o ruivo no dia seguinte.

***

Chegou na casa, qual se assemelhava um pouco à de Midoriya, mas com mais objetos e características que se lembrasse. Parou na porta do cômodo que era designado à si, vendo os pertences que havia deixado para trás perfeitamente arrumados.
Suas espadas, facas, colares com dentes de animais mortos... tudo que lhe ligava àquele dia.

Sua mãe lhe encarou preocupada, vendo-o paralisado na porta do quarto sem fazer menção de entrar.

- Tudo bem? - colocou a mão em seu ombro, usando uma voz estranhamente calma.

Katsuki acenou em silêncio.

Os pensamentos mesclavam-se em sua mente. A morte de All Might causada por si, os dias pacíficos com Eijirou, a briga que arrumou na tentativa de morrer de uma vez. Tudo.

- Quero conversar com você depois, tudo bem? - Mitsuki questionou-o ansiosa, recebendo outro aceno positivo e logo vendo seu filho adentrar o cômodo preocupada.

Katsuki deitou na cama. Ah, era o mesmo colchão destruído qual sempre amou deitar. Por que agora lhe trazia lembranças tão ruins?
Por que seu peito apertava?

A memória de Kirishima lhe fitando amargurado veio a mente. Falou merda naquele momento e pretendia se retratar, mas o garoto pareceu não se importar e até mesmo concordou.

- Por que? dragão de merda... - murmurou, sentindo a garganta fechar.

Talvez tudo que tivesse passado não fosse de fato nada importante. Não parecia ser isso, deveria ser mais positivo, mas... Katsuki já não é positivo há muito tempo.

E por que caralhos negou? pensou.

Como pôde simplesmente ser tão estúpido a esse ponto? Lembrou do leve medo que sentiu no fato de seus pais saberem sobre seus romances.
Era uma das proibições de sua antiga vila, afinal. Sempre respeitou as regras até o momento que foi expulso. Até o momento onde notou que de nada valiam aquelas merdas e começou a ser quem realmente era.

Admitiu estar apaixonado pelo ruivo mais de uma vez e no momento que seus pais, antigos habitantes daquele lugar, suspeitaram de suas condutas, foi inevitável o medo lhe consumir de forma tão desproporcional que negou.

Será que Eijirou havia ficado magoado? Talvez nunca fosse saber, talvez...

- Katsuki - ouviu a voz de seu pai lhe chamar - Jantar.

Se levantou sem vontade alguma, engolindo o bolo que se formava em sua garganta e respirando fundo antes de ir para a pequena sala com as paredes feitas de madeira.

Viu a mesa e as três tigelas de sopa que sua mãe fazia. Era sua comida favorita. Inalou o o cheiro quente e sentindo a sensação de acolhimento que tal prato lhe passava.

Sentou na mesa e começou a beber em silêncio.

- Filho - a mulher lhe perguntou na cadeira ao lado - Temos que conversar agora, tudo bem?

Era estranho ver sua mãe tão calma. Ela sempre costumava gritar muito.

- Tanto faz - falou indiferente.

- Vou ser direta - ela suspirou - O que aconteceu?

- Sobre?

- Onde esteve nos últimos dois meses.

Katsuki engoliu o líquido na sua boca sem vontade.

- Não é da sua conta. - ouviu Mitsuki suspirar.

- E o garoto? O que houve entre vocês?

- Também não é da sua conta, velha - rosnou, terminado de dar o último gole apressado e cheio de nervosismo. Não queria pensar naquilo. Estava tudo uma imensa bagunça.

- Katsuki! - ouviu sua mãe lhe chamando desesperada antes de começar a correr para o quarto e bater a porta com força, se jogando na cama frustrado.

Porra, que merda havia feito?

[...]

Beloved Dragon [DESCONTINUADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora