Longe daquela casa, os dois acenderam uma fogueira e descansaram ao redor dela, ambos pensativos por conta dos acontecimentos. Scotty conseguia manter a calma, diferente da moça que estava muito perturbada.
-Por que me salvou? - ele perguntou.
-Sério que você fala apenas isso? - ela indagou - E o obrigado? Arh, esquece, eu vi o menino desesperado e achei que estava pedindo ajuda, então decidi seguir ele.
Os dois ficaram em silêncio, olhando para o nada enquanto estavam sentados no chão úmido e frio.
-Ainda estou esperando - disse a moça.
-Esperando o quê? - perguntou o caçador.
-O agradecimento.
Scotty riu e disse:
-Realmente, você não parece nem um pouco com uma dama. Deveria se comportar mais como uma mulher e...
-Vai começar com seu machismo de merda? - gritou.
-Tudo bem, tudo bem, fique calma. Olha, obrigado, senhorita... ahm, qual seu nome mesmo?
-Me chamo Katarina Jobs. E o senhor?
-Scotty Saimon, o melhor caçador de todos os tempos... que foi salvo por uma mulher - disse com receio, baixando a cabeça.
-Bem... melhor do que morrer para uma, não acha? Ainda mais por uma idosa.
Scotty deu uma risadinha, mas logo em seguida ficou sério e disse:
-Aquilo não é humano, deve ser obra daquele monstro.
-Você... ainda quer matá-lo? - Katarina perguntou enquanto pegava uma espiga de milho da bolsa e começou a assar na fogueira.
-Eu já disse que vou! Irei arrancar a cabeça dele, mas por enquanto estou sem armamento. Por falar nisso, onde conseguiu essa espingarda? E esses milhos? E esse trator de montanha também?
-Em...uma fazenda próxima - disse hesitando em falar.
-Não sabia que você era capaz de roubar - ele brincou.
-Os donos da fazenda não me deram escolhas.
-Os donos? - ele viu o olhar de tristeza de Katarina - Você os matou, não foi?
-Mas... Como você sabe?
-Conheço o olhar de quem acaba matar... Como foi ?
-Não foi de propósito! - ela gritou - Eu... cheguei lá e... eles me atacaram. Eu... eu apenas tentei me defender, tá bem? eles eram loucos como aquela velha, devem ser seguidores de Bamburdie ou algo assim. Então eu tive que revidar... era eles ou eu! A culpa não é minha!
Ela dizia isso enquanto chorava, seu desespero era evidente, mas Scotty ouvia atentamente os seus lamentos. Ele entendia muito bem que aquilo poderia afetá-la e persegui-la para sempre.
-É melhor ir dormir - disse ele - você teve um dia cheio.
Katarina o encarou desconfiada.
-Não se preocupe - o caçador riu - não farei nada com você enquanto estiver dormindo.
A moça pegou a espingarda e deitou-se com ela em seus braços.
-É melhor prevenir - disse ela.
Enquanto Katarina descansava, Scotty pensava em como matar a criatura. Também se perguntava como ela tinha tanto poder, não só por conseguir controlar as árvores e, de certa forma, as pessoas. Mas o que mais lhe intrigava, era a capacidade de entrar na mente humana.
O caçador achava que a criatura havia entrado em seu sonho naquela casa, ela também conseguiu reproduzir algo de sua mente na vida real.
Havia um mistério que Scotty não compreendia, mas achava que matando-a poderia entender melhor.
Pensava em vender seu corpo para pesquisadores, para que eles pudessem estudá-lo. Além disso, ele ganharia milhões e ficaria famoso mundialmente.
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Enquanto isso, no bar da vila de Erythrina, as pessoas embriagadas estavam caídas no chão ou nas mesas. O lugar tinha ficado uma bagunça depois daquela festa, mas ainda sobraram dois homens dispostos a beber mais.
-Hey... amigo - disse o anão enquanto soluçava, sentado na mesa junto com o homem magrelo - faz um tempão que eu pedi... uma cerveja... onde está ela?
-Eu já te falei... - disse o magrelo com a cabeça sobre a mesa - acabou a cerveja...
-Mas eu não quero... manteiga - respondeu o anão.
-Eu não disse manteiga, caramba...
-Então... o que você disse?
-Eu... eu não sei - o magrelo levantou-se meio tonto.
Durante isso, a garçonete estava no balcão limpando o copo, enquanto olhava para cima. Parecia estar preocupada com algo.
-Você está bem, senhorita?- disse o homem forte aproximando-se dela.
-Ah... sim! Por que você ainda está aqui?
-Estou acompanhando aqueles dois patetas. Mas tem certeza que está bem? Por que você está limpando esse copo faz muito tempo.
-Nossa, nem percebi - ela sorriu porém logo ficou séria - mas confesso que estou um pouco preocupada com aquele homem. Faz duas horas que ele foi caçar o monstro.
-Também estou... isso porque apostei que ele iria sobreviver.
-Como vão saber se ele estar vivo?
-Aquele velho partiu em direção a floresta para verificar.
A garçonete começou a limpar o balcão e logo fez uma pergunta:
-Você disse que Bamburdie vai atrás de pessoas que fizeram muita maldade. Mas eu já fiz muitas coisas cruéis e mesmo assim nunca me senti perseguida por ele.
-Ninguém entende aquela criatura, não sei quais são os seus motivos, talvez ele nem tenha um. Enfim, acho melhor levar aquele casal embora, já fizeram muita baderna aqui.
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O Segredo da Floresta
KorkuA lenda de uma criatura que vivia em uma floresta obscura, perpetuava o vilarejo de Erythrina. Os contos do monstro eram passados para as pessoas de todas as idades, seja para crianças, adultos ou idosos. Seu nome era mais conhecido como: Bamburdie...