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Tudo naquela mulher me desconcerta. Sua presença marcante, seu jeito direto e franco, a compaixão que demonstra em situações difíceis.

Mas nada me abalou mais do que sentir o toque suave de sua mão.

Fiquei paralisado, sentindo a cálida sensação reverberar por todo meu corpo. Minha atitude a fez se afastar sem jeito e senti a perda dessa pequena ligação, como um golpe físico.

Não menti ao dizer que prefiro manter as pessoas a uma certa distância. Mas não porque não tolere contato físico, como ela deduziu, e sim para evitar o ar de repúdio e pena, de que sou alvo muitas vezes. As pessoas me olham e vêem apenas a superfície e se apiedam do pobre homem deformado, sem levar em conta como me sinto sobre isso. Odeio os olhares piedosos, prefiro ver medo e asco, bem mais verdadeiros, pois com esses sentimentos eu aprendi a lidar.

Mas não a desconcertante mulher a minha frente. Ela me encara de frente e me olha nos olhos, não evita, titubeia ou desvia o olhar de mim. E não estremeceu quando tocou em minha mão em um gesto de conforto e empatia. Não fez cara de nojo ao sentir a pele enrugada do tecido cicatricial, deixado pelas queimaduras e pinos.

Senti mais do que vi, o olhar intenso dele sobre mim, enquanto eu lia o documento a minha frente. Ele recindiu o contrato de forma a possibilitar uma nova negociação, devolvendo o pagamento e acrescentando o valor alto de uma multa, a ser depositado em minha conta.

_ Não posso assinar isso!

_ Algo errado?

_ Sabe que sim. Sou eu quem decidiu encerrar o contrato, não há razão para o'que está descrito aqui.

_ Assumo a responsabilidade por fazer você tomar essa decisão.

_ Não preciso que você assuma minhas responsabilidades! A decisão é minha.

_Quero que se sinta livre para mudar de ideia novamente.

_Oque acha que eu sou? Uma criança birrenta?

Furiosa rasguei o documento ao meio como ele fizera mais cedo e atirei sobre mesa.

_Tenho uma cópia do original no meu arquivo, vou enviar para o seu e-mail e sua nova secretária pode imprimir. Assim podemos assinar e acabar logo com essa palhaçada toda!

_ Não vou assinar nada diferente daquilo que já havia assinado.

_ Não preciso da sua maldita condescendência!

_ Não a terá. Agora por favor, podemos encerrar por hoje?

_ Não! Não resolvemos nada ainda.

_ Essa reunião acaba agora. Você já tem minha resposta, não vou mudá-la.

_ Estamos em um impasse então.

_ Aceito isso.

_ Por favor não me obrigue a abrir um processo. pedi

_ Não o farei.

_Vai assinar?

_ Nein.

_ Mas que droga! Eu não tenho tempo para isso.

_ Pense melhor. pediu

Algo no tom dele me fez calar e observá-lo atentamente, indecisa sobre o'que fazer.

_ Porque está fazendo isso?

_ Não quero perder isso também.

_ Mas... eu não entendo!

_ Sem mas. Apenas fique. instou se aproximando

A intensidade do olhar dele sobre mim, fez minha pele se arrepiar e meu corpo estremecer em resposta. No entanto minha reação visceral ao magnetismo masculino dele o fez se retrair imediatamente. Desviando o olhar e se afastando novamente para o outro lado da sala.

LUZ E ESCURIDÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora