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Rir com Clarisse tornou-se algo corriqueiro ultimamente, mas ainda capaz de me surpreender. A vida tornou-se leve e divertida, me mostrando que mesmo a alma mais sombria, precisa de luz, que amar e ser amado é sempre algo gratificante. Consegui voltar a ter contato com algumas pessoas do meu passado, parentes, colegas e conhecidos. Me surpreendi ao ver a alegria sincera da maioria e a curiosidade de alguns, sobre minha vida nos últimos anos. É bom poder falar sobre meus irmãos, com amigos em comum. Ou sobre meus pais com seus velhos amigos e associados da empresa, que antes frequentavam nossa casa e que eu afastei. Recebi diversas fotos nossas em alguns eventos, das quais nem me lembrava mais. Clarisse ficou emocionada ao vê-las e fez questão de emoldurar algumas e espalhar pela casa.

_ Esse mausoléu parece mais um museu, do que um lar Bast!

_Se você não gosta de algo, sinta-se livre para mudar o'que quiser.

E foi exatamente o'que ela fez. Meu apartamento antes tão desolador e melancólico, brilhava cheio de vida e alegria. Com pequenos ajustes sutis e um bom gosto inato, Clarisse transformou o frio ambiente, em um lar aconchegante e acolhedor.

_ Eu esqueci de perguntar se você gosta de plantas Bast!

_ Percebi. Mas é um pouco tarde para isso, não?

A gargalhada dela ecoou pela casa, aquecendo meu coração.

_ Tem razão. Transformei isso aqui em um jardim não foi?

Assenti sério.

Era exagero, claro. Mas me diverti provocando-a, só para ver aquela expressão contrariada no belo rosto feminino. Clarisse adicionou a quantidade exata de vida, necessária ao ambiente. Havia luz suficiente para manter as plantas viçosas e floridas.

_ Não gosto de buquês. Prefiro plantas vivas e alegres, que não vão murchar em questão de dias!

_ Bom saber! Seria contraproducente te enviar buquês de flores após uma briga.

_ Prefiro bombons finos ou jóias obscenamente caras!

_ Anotado. fiz sério

Mencionar itens caros é o jeito de Clarisse me lembrar que apesar de ser um homem rico, minha generosidade deve ter limites. Não devo insultar sua independência financeira, oferecendo presentes dispendiosos ou ajuda material de nenhum tipo. Posso no entanto mimá-la de outras formas, levando-a ao teatro, museus ou viagens românticas. Adoro passar esses momentos a sós com ela, longe de tudo e todos.

_Sr. Diether?

_ Entre srta Ramos.

_Eu vi na agenda que o senhor tem uma viagem programada para os próximos dias.

_ Ja. Algum problema?

_ Não exatamente. Desculpe senhor, é que...

_ Diga de uma vez srta Ramos.

_ Tem um compromisso agendado para o dia 17 senhor. Foi Helga quem agendou e...

_ Scheisse! Mas que droga Helga... resmunguei

_ D-desculpe senhor, eu...

_ Está tudo bem srta Ramos. Pode me dar licença por favor.

Ela assentiu, saindo em seguida

Peguei o porta retrato sobre a mesa a minha frente, observando os rostos sorridentes eternizados na imagem.

_ Dez anos. murmurei

A missa em memória da minha família seria exatamente no dia 17. A data marcaria também meu quadragésimo aniversário!

A igreja onde a missa de dez anos pela família Voigt era realizada, estava lotada de parentes, amigos e conhecidos. Foi uma celebração muito bonita e emocionante, deixando claro o quanto os que partiram faziam falta e que sempre seriam lembrados pelos que ficaram. Foi a primeira vez que Sebastian participou, mesmo sabendo que Helga organizava uma missa todo ano. Ficou comovido com as palavras do padre e com os pequenos discursos feitos por alguns amigos íntimos da família.

LUZ E ESCURIDÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora