13

43 5 0
                                    

E mais uma vez ele estava me afastando. Não havia meios de ficar ao lado de alguém que não deseja sua companhia e não seria eu a rastejar em busca de atenção. Se ele mudasse de idéia saberia onde me encontrar, pensei.

_ Tudo bem.

_ Obrigado.

Sabia que ele não está me agradecendo por ceder apenas, mas por todo o resto. Chegamos ao meu apartamento e nos despedimos como dois meros conhecidos, sem nem ao menos um beijo. Fiquei observando o carro se afastar, imaginando se aquele seria um até breve ou um adeus definitivo.

"Pareceu um adeus, para mim!"

A rotina do trabalho logo tomou conta dos meus pensamentos, na maior parte do tempo, logo uma semana havia se passado e nem uma notícia dele. Aceitando que o que tivemos, fosse lá o'que fosse, havia acabado antes mesmo de começar, decidi encerrar aquele capítulo da minha vida e tentar tirá-lo da cabeça. Para isso nada melhor que me jogar de cabeça no trabalho!

_ Soube que a dona Mercedez está praticamente recuperada! contou Marcelo

_ Isso é ótimo!

_ Ela já está programando uma nova viagem... de avião. Nada de cruzeiros, disse ela!

Rimos.

_ Melhor assim. Pra que abusar da sorte?

_ E você Clar? Vai parar de abusar da boa sorte e ir atrás do seu homem?

_ Ele não é meu, Anya! E não me quer... não vou correr atrás de quem não me quer, hora essa!

_ Clarisse, se aquele homem não te quer, eu sou um mico preto!

_E isso quer dizer...?

_Que é óbvio que o cara ta na sua! traduziu Anya

_ Exatamente. Deixa de orgulho besta e vai atrás dele. A barra que ele está segurando é pesada... de um desconto!

_ As vezes eu me pergunto de quem vocês são amigos!

_ Nós somos os melhores amigos que você poderia desejar. Só queremos ver você feliz... você nunca esteve tão feliz, como nos últimos meses.

_ Não estou feliz agora. fiz

_ Isso é falta de sexo!

_ Anya!

_ Ok. É falta de um certo homem carrancudo e mal humorado.

_ Não vou implorar por ele, meus queridos. Minha cota de ser capacho de algum cara, já extrapolou faz tempo!

Os dias foram passando e logo se transformam em semanas. Passei por um longo período de autopiedade, me permitindo o luto que não vivenciei a tantos anos atrás, unido a perda de Helga e o afastamento de Clarisse. Depois de alguns dias percebi que a dor incômoda em meu peito, tinha uma grande relação com a ausência dela. Eu a magoei com minha frieza e distanciamento, não consegui baixar a guarda e me abrir com ela sobre minhas reais dificuldades. Essa percepção ainda que tardia, me fez decidir agir e ir atrás do tratamento necessário para me ajudar a voltar a sanidade, novamente.

O tratamento e controle do estresse pós traumático é algo de vital importância para meu restabelecimento. Enfrentar meus medos e revisitar meus traumas, até que deixem de me controlar, será uma tarefa árdua. Não confio em psiquiatras, desde que fui medicado e fortemente sedado, como tratamento paliativo para uma crise particularmente difícil nos primeiros anos após o acidente. Fiquei preso em mim mesmo por meses, sofrendo em agonia, mas sem poder extravasar. Tendo pesadelos recorrentes e não conseguindo acordar e escapar das terríveis visões, tudo tão real que era como se estivesse queimando novamente.

LUZ E ESCURIDÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora