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Ayla on

Já tinha se passado cinco horas, ou talvez 5 minutos, desde que cheguei. Estávamos no escritório do meu pai, ninguém falava nada, e isso já passava mais de 2 horas, desde que alguém falou algo.

Eu ainda estava encolhida na cadeira, com um cobertor e um chocolate quente. Era esquisito estar numa sala cheia de gente, e totalmente silenciosa.

- Ayla? - meu pai perguntou. - O que você está sentindo, querida?

- Dor - eu falei bem baixo, e se não fossem vampiros não iam ouvir - e muito cansaço. E sede e fome e frio, e sei lá.

- Okay, querida - meu tio Kol falou - Podemos resolver todos eles. Você precisa dormir.

- Eu estive dormindo por um mês - eu falei com a voz bem rouca, o mais alto que falei desde que voltei dos mortos - A única coisa que eu não preciso é dormir - terminei de falar encarando ele, percebi que ele estremeceu.

- Okay - Rebekah falou - Vamos com calma, tá bom? - ela perguntou e levantou uma sobrancelha para o Kol.

- Nós só queremos ajudar - Tia Freya falou.

- Desculpa - eu falei e me encolhi mais na cadeira, se é que fosse possível.

O silêncio na sala voltou, mas tudo em volta de mim fazia barulho. O mosquito voando perto de minha mãe. O passarinho bicando a árvore. O barulho de alguém escovando os dentes. Tudo fazia barulho exceto as pessoas na minha frente, que mal respiravam.

- Bom - Elijah começou - Como você acordou?

- Eu que deveria estar fazendo essa pergunta, não vocês - eu falei.

- Nós não temos resposta para tudo, querida - Elijah responde calmo. - E como foi você que voltou dos mortos...

- Desculpa, tio Elijah - eu sussurrei.

- Você estava viva o tempo todo? - Ele perguntou - O que você via? Sonhava com algo ou era um breu total?

- Calma, Elijah - Klaus falou e olhou para mim esperando as respostas.

- Eu sei que eu morri - eu falei com convicção - eu me senti sair do corpo. Eu sei que eu morri. Eu sabia que eu ia morrer. Mas não sei como, eu sonhei, a morte pode ser bem traiçoeira, brincando com os seus pensamentos. Eu sei que eu só acordei depois de alguma coisa que aconteceu mas me parece tudo muito vago.

- Okay - minha mãe falou - Podemos trabalhar com isso. Agora vê se descansa. Não precisa dormir, mas descansar.

Fiz que sim com a cabeça e ela me ajudado a levantar da cadeira. Eu juro que eu não conseguia dar um passo direito sem cair e sendo assim, meu pai me levou até meu quarto.

- Nós vamos dar uma passada para comer - meu pai falou - e daqui a pouco já voltamos.

- Traz um pouco para mim - eu pedi bem baixo e meu pai só riu e balançou a cabeça.

- Vai descasar, princesa - ele falou - Amanhã conversaremos melhor.

Os dois beijaram a minha testa, e saíram do quarto rapidamente. Não apagaram a luz, graças a Deus, não sei se estou preparada para enfrentar o escuro ou qualquer coisa que possa ocorrer nos próximos 10 dias.

Eu podia ouvir os passos de alguém chegando no quarto, e mesmo que eu não quisesse conversar com ninguém, eu não tinha forças para sair da cama e trancar a porta.

Bateram na porta. Eu revirei meus olhos e falei para poder entrar. Não sei se a pessoa ouviu ou não. Mas no momento eu não me importava.

- Oi, Ly - era a hope. - Então, antes de te buscarem, eles me ligaram falando que você estava falando que você precisava falar comigo. Sobre o que você precisava falar?

Tomei um gole da minha bebida que ainda estava firme e forte. Cheguei mais para o lado, ou o máximo que eu conseguia sem quase morrer de novo. Ela sentou do meu lado e também se cobriu com o cobertor.

- Na hora, eu acho que estava em choque - eu falei - Mas agora, eu não sei bem o porquê, eu não me lembro.

Mentira. Eu lembrava muito bem, mas eu não queria voltar ao assunto 'sonho esquisito que você teve enquanto você estava morta, e não era para estar viva'.

- Tá bom - Hope falou e ficou em silêncio por um tempo - Quando você quiser conversar é só me chamar.

- Eu sei, Hopezinha- Eu falei e dei um leve sorriso.

- Só fica bem, Ly - ela falou - Eu acabei de te recuperar, não quero te perder de novo.

- Você não vai - eu falei, tentando mais me convencer do que a ela.

- Okay - ela disse. - Vou te deixar descansar.

Ela saiu do meu quarto sem falar mais nada, e eu sei o quanto ela queria conversar comigo.

Eu me ajeitei na cama e fiquei encarando um ponto fixo na parede. As imagens dos meus sonhos, se é que podíamos chamar assim, voltavam cada vez mais rápidas e mais fortes.

Será que eu seria a culpada para o massacre? Será que eu vou causar o caos? Por que estou viva e como eu estou viva? E o que será que os olhos significam?

Senti leves calafrios passando por mim e cada vez ia me encolhendo mais na cama, e continuava a encarar o ponto na parede. Esse quarto era meu, verbo no passado, eu não consigo mais me ver aqui. Olho para a parede que pintei, a única coisa que era realmente minha naquele lugar sem vida alguma. Até eu estava sem vida naquele lugar.

Eu não queria dormir com medo de que eu tivesse aquele pesadelo de novo, ou qualquer pesadelo que eu poderia ter. Mas era mais forte do que eu, e sem que eu percebesse já estava dormindo com a xícara de chocolate quente nas mãos que provavelmente vai cair em cima de mim durante a noite.

A Mikaelson perdida - temporada 2Onde histórias criam vida. Descubra agora