Estrelas sob a janela

Capítulo oito

- Filha? Está na hora de acordar, minha estrela. - senti um carinho suave em minha costas e desejei ficar ali para sempre. - Bom dia.

- Bom dia, pai.

- O café está na mesa, estamos te esperando.

Espero que ele saia do quarto para me espreguiçar e deixar a cama.
Decido tomar um banho rápido apenas para clarear as ideias e procurar forças para mais uma semana dolorosa.
Seco meus cortes primeiro, passo álcool e aguardo a sensação amenizar.

O uniforme desliza com certa dificuldade por meu corpo e eu odeio isso, porque sei que não é pela pele úmida. Se eu não fosse gorda... Mudaria alguma coisa?
Quase posso sentir o olhar pesado e venenoso de Dália sobre mim.
Mudaria alguma coisa, Dália?

- Lisa, está tudo bem aí? Cuidado para não se atrasar.

Seguro o choro no último instante, Thiago coloca a cabeça para dentro do quarto e sorri. Ele caminha até mim, sua imagem refletida no espelho à minha frente. Seus dedos afundam em meus cachos ruivos em uma carícia sincera.

- Às vezes eu me impressiono com o quanto você é linda, Lisa. Tenho muito orgulho de você.

- Por eu ser linda?

- Por ser você. Agora vamos, o relógio está correndo.

- Certo. Vou passar na Dona Vive, tudo bem?

- Tudo bem, pequena. Cinco reais, não é? - concordo em silêncio.

Dou um beijo em sua bochecha como despedida, fazendo o mesmo com Caleb. Desejo um bom trabalho aos dois e saio com um anseio secreto de encontrar Julian no corredor, mas está vazio.
Desço as escadas, passo pelo portão e atravesso a rua. A loja de Dona Vive está vazia, ela deve estar no banheiro ou algo assim.
Encaro meu corpo redondo no uniforme, seria melhor se eu fechasse a boca, não é? Quer dizer, as coisas seriam tão mais fáceis. Viro as costas para o balcão, pronta para ignorar os roncos de minha barriga.

- Lisa, como vai? Seu frozen está guardado. Segunda é sempre de manga, não é? - estremeci. Não, eu não podia aceitar. Hoje eu não vou tomar. Só passei para dar um bom dia.

- Tomou café da manhã em casa?

- Não. Quer dizer, sim. - involuntariamente, minha voz vacila e a mais velha é atenta demais para deixar isso passar.

- Está tudo bem, Lisa? Está doente?

- Está tudo bem. Eu só não estou com fome.

- Mas você precisa comer, minha linda. Tome aqui, por favor. Eu não vou deixar você sair daqui até tomar, pelo menos, um terço da bebida.

- Mas... Mas... - por quê? Por quê?

- Você sabe que, daqui a pouco, seu pai Caleb vai sair pelo portão. Não quer que ele saiba que você não tomou café, não é? - suas feições eram sérias, mas repletas de carinho.

- Não.

- Então tome. Por favor.

Obedeci. Não podia desapontar Dona Vive, nem desmerecer todo seu cuidado comigo.
A verdade é que aqueles frozens são os melhores que existem! Eu já provei outros, mas nunca eram tão gostosos.
Ela me disse que aprendeu a fazê-los em uma de seus múltiplas viagens e foi adequando ao seu gosto e o de Seu Domingos. Por causa dessas modificações, o sabor é único e atrai muita gente até nos dias mais frios.

- Eu tenho que ir andando. - comento envergonhada.

- Tudo bem, não vou mais tomar seu tempo.

- Aqui o dinheiro.

- Não, esse foi por conta da casa. Quero te ver bem acima de tudo. Boa aula, querida.

- Um bom dia, dona Vive.

O dia parece ter ganhado mais cor depois daquela conversa, mesmo que meus pensamentos ainda sejam conflituosos.
Adentro a escola, seguindo de cabeça baixa para a sala. Não quero que Dália e companhia me irritem antes da aula.

TRIIIIIIIM!

O toque "suave" do sinal me assusta. Levanto ainda tonta e deixo a sala.
Tranco-me no banheiro feminino antes que as meninas terminem de comprar seus lanches, tiro uma barrinha de cereal do bolso do casaco e tento fazer o mínimo de barulho possível.
Ouço a porta principal e prendo a respiração na hora, como se fosse adiantar alguma coisa. Mas Dália parece ter um radar exclusivo para mim.

- Vamos, rolha de poço, saia daí. Só queremos conversar... - claro, claro. E eu vou cair nessa? Não mesmo. Não respondo. - Ora, sua imprestável! Eu sei que você está aí!

- Por que você não podia apenas continuar a ser minha amiga? Eu gostava de você.

- Oi? Até parece que eu vou ser amiga de alguém que tem dois pais! É nojento.

Abro a porta de supetão, a raiva subindo à cabeça, o coração acelerado de adrenalina e PAH! Desmancho aquele sorrisinho em dois tempos.
Ela leva a mão à bochecha, um vermelho já se formando ali, seu rosto se fecha em uma careta de ódio puro.
As outras meninas estão petrificadas no lugar e até eu mesma estou, nunca pensei em reagir. Caramba! Eu estou muito encrencada!

- Nunca mais fale dos meus pais. - e tranco-me novamente.
Dália esmurra a porta com toda a força de seus bracinhos de madame, vociferando tantos palavrões quanto possíveis.
Por um momento, acho que a porta vai ceder de fato, mas ela aguenta bem.

Ah meu Deus. Ah meu Deus. AH MEU DEUS! Dália é sobrinha da diretora. O que me resta é pedir para que essa história não chegue aos ouvidos nem de Thiago, nem de Caleb. Caso contrário, terei que inventar uma boa desculpa.

- Você acaba de assinar sua sentença, baleia!

Só saio de meu refúgio quando os passos já sumiram, estou trêmula. Eu não podia fazer aquilo, mas eram meus pais.
Quer dizer, ela não tem o mínimo direito de falar deles!
Não mesmo!

O sinal berra ao fundo, meu fluxo de pensamentos abafa sons exteriores, lavo o rosto com a estúpida esperança de tudo não passar de um sonho. Em vão. Eu dei um tapa na sobrinha da diretora.
Eu. Dei. Um. Tapa. Em. Dália.
Repentinamente, tudo gira ao meu redor. Fome. Isso que dá precisar emagrecer.
Vai valer a pena. Tenho certeza.

Saio do banheiro ainda um pouco tonta, porém pouco consigo me recuperar de um choque e já me vem outro:

"Aluna Elisabeth, do nono ano A, favor comparecer à diretoria!"

Não, não, não.
Dália não brinca quando o objetivo é acabar com a vida de alguém. Principalmente a minha.

Esse dia pode piorar?

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*Notas da autora*

Queridos leitores,
Estou aqui mais uma vez para alertar sobre algumas coisas.
Não mudem quem vocês são por ninguém. Se quiserem mudar suas dietas, vão ao nutricionista, elx saberá o que fazer. E se você se identifica com os comportamentos negativos da Elisabeth, procure ajuda.
Ser magro não é sinônimo de ser saudável! Ser saudável é ter os exames em dia e dentro dos padrões médicos.
Ser gordo não é sinônimo de ser feio. Todos são lindos e excepcionais do jeito que são.
E, por fim, não se prive de comer para agradar os outros ou emagrecer. Isso não é saudável e pode evoluir para uma anorexia.
Então, antes de tudo, procurem ajuda!