Capítulo vinte e quatro

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- Não, Lu. Eu não quero passar tanta maquiagem.

- Pelo menos um batom vermelho, vai.

- Está bem, está bem. - eu não posso mentir: estou linda e pronta para uma festa. - Você está mais animada do que eu.

- Lisa, você vai se formar! Isso é tão incrível! Obrigada por me convidar.

- Não precisa agradecer, por favor. - abracei-a com carinho.

Enquanto Luzia arruma sua maleta de maquiagem, eu encaro meu reflexo no espelho do quarto. Giro lentamente até parar minhas atenções nas ataduras. Sinceramente, eu lutei comigo mesma para deixá-las à mostra, mas é parte de quem eu sou, não é?

- É por isso que você usava as luvas... - balbucia minha amiga com o acessório em mãos. Apenas confirmo em silêncio. - Achei que fosse estilo. Eu devia ter investigado isso mais afundo, talvez nada disso acontecesse.

- Não se culpe por nada. Eu não contei. Não tem como ajudar algo ou alguém que não conhece. Agora vamos.

Julian, Cily, Caleb e Thiago nos esperavam na sala já prontos e assistindo televisão. Todos tão arrumados, tão lindos. Um por vez, eles se viram para mim com admiração e eu sinto meu rosto esquentar de vergonha.
Sou coberta de elogios durante todo o caminho até o Salão e eu nunca soube reagir a eles. Até que chegamos na entrada e o meu trio está lá, esperando-me.

- Garota, você está linda! - exclama Bia ao me ver. Ela veste um macacão também midi de linho liso e uma jaqueta jeans com grandes flores bordadas.

- Obrigada, você também está. - ela me cumprimenta com um abraço e passa a falar com as outras pessoas que me acompanham. - Caio! 

- Olá, Lisa. Como está?

- Bem, muito bem. E você? - observo seus movimentos contidos educados. Bom, ele é o mais original de nós quatro já que usa a roupa da personagem que interpretou no Festival: a moça que descobriu o segredo do mundo. Sim, ele está de vestido e máscara.

- Isso é ótimo, estou bem também. Um pouco de teatro melhora tudo. - sorrio e dirijo-me ao último do grupo.

Diego parece nervoso, passa a mão na nuca freneticamente como aquele dia que o vi atrás da tenda de alimentos do Festival. Ele veste um terno azul celeste para lá de estiloso e seu cabelo está solto além do queixo, perco-me em seus olhos cor de mel lembrando da tenda "Além das linhas", quando ele fugiu de mim antes que eu pudesse saber seu nome.

Mas agora eu sei.

Seguro suas mãos, tentando imitar nossos movimentos daquele dia e seu olhar se ergue até o meu. Aquela conexão de outrora se faz presente e mais forte dessa vez, porque nos conhecemos agora. Temos identidades nas quais mergulhar e estudar. Toda sua timidez nítida some e consigo alcançar sua personalidade descontraída com facilidade

- Casal, temos que entrar. - brinca Beatriz ao me cutucar com o cotovelo. Desperto-me do transe e já sigo para a entrada quando ele segura meu braço.

- Ci-Cinderela... - chega a ser fofo ouvi-lo gaguejar meu apelido. Quer dizer, por que ele é tão tímido na minha frente, mas tão divertido quando não me via?

- Sim, garoto do chá? - um sorriso ilumina o lindo rosto dele.

- Eu... Eu... Trouxe um presente. Quer dizer, não é um super presente. É só uma lembrancinha. - vejo-o mexer no bolso interno do paletó e tirar um embrulho pequeno. Abro-o com expectativa e encontro uma pulseira preta com um botão de pingente. - Hum, minha mãe trabalha no Japão e eu já fui para lá algumas vezes. Nisso eu soube de uma tradição que os estudantes entregam o segundo botão de seus uniformes para as pessoas a quem se tem mais... carinho, porque é o mais perto do coração. E, bom, acho que um botão a menos não vai fazer mal se estiver com você.

- Oh, meu Deus, que coisa fofa. Mas... Por que para mim? Quer dizer, você me conhece há duas semanas, não é? Desde quando você tem um carinho tão grande por mim? - de repente, suas íris âmbar se intensificam e ele fica sério.

- Desde o sexto ano. 

Paraliso por completo, abro a boca para perguntar o que ele acabou de falar, porém ouço a cerimônia começar. Entramos às pressas, vestimos a beca junto com os demais e sentamos em nossos lugares enquanto eu coloco a pulseira. 
Com a cabeça a mil, pouco presto atenção no que a diretora fala. Na verdade, eu não estou muito à vontade na sua presença.

As meninas vieram também e sentaram todas separadas, não me importei muito já que nenhuma delas falou comigo.

Sinto um nervosismo me tomar conta quando chamam meu nome, subo no palco e recebo meu diploma. Nada fora do normal. Estou formada! Acho que foi o fim de ano mais emocionante da minha vida!

Depois da cerimônia toda, que dura de uma a duas horas, passo por um dos momentos mais inexplicáveis da minha vida: conheci a irmã mais velha da Bia, a mãe séria de Diego e os pais de Caio. 

- Você não tem escolha sobre ir a um psicólogo, Lisa. - sussurra Beatriz com seu super carinhoso e me dando muitas opções como deve-se perceber.

O salão se transforma como magia em uma balada para lá de agitada, luzes coloridas piscam de todos os lados e um Dj arrasa nas músicas entre eletrônica e pop.

Acredite se quiser, até meus pais vão para a pista e eles dançam muito bem! E é por causa dessa atitude que outros adulto são incentivados a curtirem a festa conosco. Afinal, todos eles fizeram parte do nosso ano.
Impressiono-me ao ver Cily dançando com a irmã e com um cara aparentemente mais velho que eu desconheço. Prefiro não atrapalhar o momento entre elas.

Como na festa de Cecília, eu estou livre. Completamente livre. Nosso grupo começa a encher com outros alunos da tarde e consigo ver que eles sorrindo até para mim. Quer dizer, é uma conexão sem palavras, baseada somente na dança e na simpatia.

Em dado momento, Beatriz sai da pista para pegar uma bebida e me leva junto. Nossas gargalhadas são tão altas e espontâneas que até a garçonete esboça uma risada ao entregar-nos uma água e um refrigerante. Sento-me em um banco levemente distante da música alta apenas para recuperar o fôlego e a menina senta ao meu lado.

- Bia... O Diego deu a entender que me conhece desde o sexto ano, mas... Nós nos conhecemos há algumas semanas. Como é possível?

- Ah, Lisa... Nós já sabíamos da sua existência, só não sabíamos o seu nome. Quando entramos na escola, no sexto ano, estávamos chegando e a turma da manhã estava saindo. Quando Diego bateu os olhos em você, bom... Ele jamais olhou para outra garota da mesma maneira. E ele nos fez prometer que não iríamos chegar em você nem saber seu nome. Caramba, Diego fica tão tímido perto de você! Nunca reparou? Ele é a pessoa mais descontraída da sala, mas só a sua presença faz o garoto perder a voz praticamente. - eu estou muda, completamente muda. Quer dizer... Sempre achei que passasse despercebida por todos... - Bom, vamos voltar para a pista e curtir o resto da festa?

Não respondi, eu não tinha o que responder.

Diego gosta de mim há... três anos?

Estrelas sob a janelaOnde histórias criam vida. Descubra agora