Estrelas sob a janela

Capítulo dezesseis

Cecília dança incrivelmente bem e eu finalmente descobri o tema da festa (sim, tem um tema) por causa da apresentação: princesa mecânica. Não sei exatamente o que isso significa, mas adorei a maneira com que a aniversariante conseguia se mover: às vezes líquida como água, às vezes rígida como metal.

Ela, repentinamente, vai até Luzia e a tira para dançar. No início, a convidada fica tímida, porém logo se solta e sincroniza com Cily. Tão lindas...

- Você não vai querer ficar parada, não é? - Julian me oferece a mão e eu aceito sem pensar muito.

A pista volta a encher, as músicas são cada vez mais animadas e a energia que as pessoas transmitem mesmo para gente que não conhece e talvez nem chegue a conhecer é eletrizante.

E dançar com Ju é pedir para morrer de rir, nossos olhares não se desviam e não há nada que me pare. Durante longos minutos, tenho a impressão de que todos somem e tudo que me importa é o garoto de cabelos cacheados à minha frente.

Uma batida lenta começa a tocar e reconheço de imediato: "Perfect", do Ed Sheeran. E eu amo essa música. Inconscientemente, meus lábios se movem junto com a letra e meu amigo arrebata-me em uma valsa para lá de clichê. Pareço flutuar nos braços dele, o ambiente era quase mágico e eu não queria acordar desse sonho.

Sinto o rosto dele se aproximar, meu coração acelera, mil pensamentos explodem em mim. Será que é impressão minha? Será que vai ser o meu primeiro beijo? Ah, meu Deus! É impossível, não é? Um garoto como ele beijar uma garota como eu! Tento me preparar, mas não dá para se preparar para o desconhecido, dá?

Chego a prender a respiração, no entanto uma exclamação de comemoração coletiva quebra nossa conexão.
Olho em direção à aniversariante e tenho uma das surpresas mais impressionantes da minha vida: Cecília e Luzia estavam... se beijando! Não pude deixar de gritar muito, é a minha menina sendo feliz e foi a primeira vez que vi uma lágrima correr pelo rosto de Julian, uma lágrima de puro orgulho.

- É hora do parabéns, galera! - gritou a dona da festa, andando até a mesa do bolo e dos doces de mãos dadas com a minha vizinha.

- É por isso que você desenvolveu um recheio de rosas, é? - brinquei com Luzia enquanto saboreava aquele bolo tremendamente delicioso. A massa é de baunilha com gotadas de chocolate e recheio de rosas.

- Hã? Cla-claro que não. Foi só uma ideia aleatória, ok?

- Ah, tá. Vamos fingir que é verdade. E que beijão, hein?

- Pare com isso, Lisa. E eu vi que você e Julian quase estavam se beijando também.

- Você acha? Quer dizer, nunca! Isso nunca aconteceria.

- Ah, lá. Ficou até com um sorrisinho bobo.

- Estamos falando de você, Lu. Não desvie do assunto.

- Você e seu irmão arrasaram! - um homem desconhecido elogia e ela sorri em resposta. - Vocês têm algum contato profissional?

- Sim, aqui está.

- Obrigado.

Resolvi sair um pouco do meio da multidão, já tinha comido alguns doces e eu preciso de um pouco de ar. Tento entender quantas coisas aconteceram em poucas horas de festa e, caramba, daria uma ótima história se eu tivesse para quem contar.

Ainda dançamos por algum tempo, mas o salão esvaziava com rapidez. Eu não fazia ideia de que horas eram, peguei meu celular e levei um susto! Já passavam de duas da manhã! 
Thiago me mandou um boa noite muito fofo pelos dois e é a única mensagem que recebi.

O que eu estava esperando? Algum contato de Bia, Caio ou Diego? Eu sou muito boba. Ou muito otimista. O céu ganha minha atenção, há poucas estrelas hoje e muitas nuvens. Até a lua parece brincar de pique-esconde.

- Docinho? A Cecília está nos chamando. - ele deve ter percebido meu olhar distante, porque ouço sua aproximação lenta. - Ei, está tudo bem?

- Está sim. Eu só gosto de observar o céu quando estou confusa.

- E por que você está confusa?

- Você me beijaria? - disparo antes de pensar muito e desistir. Viro-me para ele, fingindo uma segurança que não tenho.

- O quê?

- Não finja que não entendeu, Julian. Olha quem eu sou, olha como eu sou! Naquela hora, na pista de dança, foi impressão minha? Tinham tanto meninas quanto meninos com olhares interessados para você. - imaginei que ele se afastaria a cada palavra com um olhar assustado, mas aconteceu exatamente o contrário e isso me pegou de surpresa. - Eu não tenho isso, eu nunca vou ter isso. Você não precisa se prender a mim por pena, não precisa dançar comigo por pena, nem me beijar por pena. Veja-me como eu... - ele não permite que eu termine ou que dê tempo para lágrimas se formarem e caírem.

Suas mãos pousam em cada lado do meu rosto e seus lábios estão pressionados contra os meus. É tudo tão... doce. Tão melhor do que eu jamais imaginaria. Porém não dura tanto quanto eu queria e não passa de um selinho.

- Eu te vejo exatamente como você é, Lisa. Eu não reparei em outros olhares e não queria reparar, apenas queria o seu e foi por isso que te ofereci o meu. - estou sem reação, somente tentando desvendar se aquilo é ou não é verdade. Tenho certeza de que minhas pernas estão tremendo. - Sinceramente, eu poderia passar o resto do amanhecer me afogando no verde dos seus olhos, mas Cecília e Luzia estão nos esperando, não é? - afirmo freneticamente com a cabeça e Julian me guia até o local.

- Vocês demoraram, hein? Não guardaríamos docinhos para vocês, só para avisar. - brincou a aniversariante, sentada no chão da cozinha com uns três ou quatro pratos de brigadeiros e trufas ao seu redor.

- A minha sorte é que o meu docinho favorito é o que você odeia, irmã.

- Não brinca não,maninho, brigadeiro de amêndoas também é o favorito da Cily.

- Ah, não, Cily! Passa essa preciosidade para cá. - o garoto logo se junta às duas.

- E você, Lisa? Qual docinho você prefere?

- Hum, tem brigadeiro de limão siciliano? - tento disfarçar meu choque e também me sento no chão.

- Ela tem gosto refinado, ela, hein? Eu adorei te conhecer hoje, Lisa. Depois peça meu número a qualquer um dos dois, ok?

- Com certeza.

Depois de "sequestrarmos" os doces restantes, fomos para a casa dos gêmeos, onde passaríamos a noite. Porém, um envelope diferente do que eu tinha deixado estava grudado no portão com fita adesiva. Uma pontada de culpa recaiu sobre mim enquanto eu peguei a carta e entrei no prédio.
Enquanto meus amigos revesavam para tomar banho, abri o envelope com certo receio.

Lisa, 

Temos uma festa hoje para ir. Então não poderemos vir conversar com você. Perdoe-nos.
Esperamos que você fique muito bem e Diego está conosco, não se preocupe.  
Amanhã estaremos aqui com toda certeza.
Desculpe de novo.

Assinado: Bia, Caio e Diego.

Abracei o papel, aliviada por não ter deixado eles me esperando ou ter feito eles saírem de suas casas para nada, até que um pensamento me ocorreu: será que... será que eles estavam lá?