Luz. Muita luz e um calor entrelaçado na minha mão. O cheiro de produto de limpeza incomoda meu nariz e lençóis macios cobrem minhas curvas. Dor de cabeça. Estou com dor de cabeça. E com fome.
O que está acontecendo?
Meus olhos demoram para se acostumar com a claridade.
Isso é... Um hospital?
Azulejos claros como os do banheiro da escola.- Lisa? Oh, meu Deus! Lisa! - e então, senti o abraço mais gostoso do mundo. Caleb. São os braços de Caleb, mas meus músculos estão doloridos demais para reagir. Repentinamente, ouvi algo que nunca esperei de meu pai: um soluço. Seguido de lágrimas, muitas lágrimas. - Por favor, nunca mais faça isso.
- Pai... - consegui dizer com um fio de voz.
- Eu achei... Achei que... Não tinha mais tempo. Achei que minha estrela tinha se apagado.
- Príncipe, trouxe seu café. - mas o copo com a bebida caiu e espalhou-se pelo chão. Vi sua feição mudar de uma pessoa cansada para a pessoa mais feliz do mundo, um tremor percorreu sua pele. Ele está em choque. - Lisa... - foi a última coisa que Thiago disse antes de me abraçar e cair no choro também.
Um enfermeiro adentra o quarto com um sorriso agradável. Não presto atenção no que ele fala, afinal estou com meus pais e não há nada mais importante do que isso. Nada.
Acima de tudo, são meus primeiros amores, meus melhores amigos. São o meu tudo.Em dado momento, eles saíram do quarto dizendo que tinham uma surpresa. Nesse tempo em que fiquei sozinha, encarei meus braços enfaixados, ataduras que escondem minhas marcas... No fim, foi isso que aconteceu. Eu aconteci. Fecho e abro as mãos e sinto a dor se espalhar.
Eu. Estou. Viva.
Mas como?A porta se abre e três figuras adentram com os rostos inchados de chorar. Uma menina e dois meninos. Ou melhor, uma menina, um menino e o garoto do chá... Eles estavam ali. Minhas estrelas sob a janela finalmente têm rostos.
Rostos, braços, aromas...
Ainda estava atordoada demais para ouvir com clareza alguém que não fale no meu ouvido, então continuei sem saber quem era quem. Menos Bia, essa era óbvio.Depois vieram Seu Domingos e Dona Vive, não imaginei o quanto estavam preocupados. Deixaram um belo buquê de flores sortidas na mesa ao lado da cama.
Os gêmeos também estavam lá e, caramba, como pareciam aliviados! Não teve momento romântico ou embaraçoso com Julian, o clima era o da mais pura vitória. Luzia deixou uma caixinha de som pequena com a nossa playlist só para mim. Só para eu ouvir quando me sentisse sozinha, perdida ou desnorteada. Ela garantiu que jamais me deixaria e seu irmão concordou de prontidão.
Imaginei que tudo acabaria ali, todas as visitas. Mas alguém inesperado atravessou a soleira com uma postura hesitante: Dália. Ficamos longos minutos apenas olhando nos olhos da outra, esperando quem iria falar primeiro até que ela se aproximou a passos rápidos.
- Me desculpe. Por tudo. Eu... - sua voz vacilou. - Nunca pensei que poderia causar isso. Quer dizer, até onde foi meu ódio? Não é obrigada a me perdoar. Isso é tão irreal! Apenas... Me desculpe, Elisabeth.
- Falou certo, Dália. Não sou obrigada a te perdoar. - quando foi que consegui falar tão alto e claro? - E não vou tão cedo. Você não tem noção do que causou em mim. Então finalmente vai me deixar em paz? É preciso que eu quase morra para você perceber o quanto está errada?
- Eu não queria que morresse. Eu só...
- Não, Dália. Saia do meu quarto.
- Mas...
- Achou que seria fácil assim? Viria aqui com cara de arrependimento e tudo ficaria bem? Eu posso ter sido ingênua, mas hoje não.
- Então é isso? Vai se vingar de mim?
- Não. Nunca me vingaria de você. A culpa já vai fazer esse trabalho. Mas, de onde eu venho, palavras não valem nada sem verdade, sem ações. Então se quer se desculpar, saia do meu quarto.
E ela obedeceu sem mais uma palavra. Talvez eu tenha errado em falar tudo isso. Entretanto não sou eu quem deve desculpas aqui. Muitas desculpas.
Estou quase me rendendo ao sono quando meus pais enchem as quatro paredes com suas lágrimas felizes. E carregam um pacote nas mãos.- Estrelinha, espero que nos perdoe por não termos prestado atenção em você. Por não termos acreditado em sua palavra. Jogamos tudo contra você sem ouvir a sua versão da história.
- Perdoe-nos por não sermos bons o suficiente. Espero que goste.
- Estão brincando comigo? Vocês são os melhores! Sempre foram e não importa o que tiver nessa caixa, não precisam pedir perdão. - e estava ali a roupa mais linda que eu podia querer: um cropped curto de amarrar estilo tie dye com um coração dourado desenhado na altura do peito, uma saia midi preta metalizada e o par de tênis dourados que usei na festa de Cecília.
- Presente de formatura. - disse uma voz que eu conhecia bem e há pouco tempo.
- Cily!
- Oi, pequena! Deu um susto na gente, hein? Mas não fiz esse presente sozinha. William me ajudou. - o atendente da loja de vestidos estava com um sorriso satisfeito no rosto.
- É a roupa mais emocionante que já fiz. Vai ficar ainda mais linda nela.
- Mas eu fui expulsa... Não vou me formar... Desculpa.
- Querida, pega o presente que o resto a gente resolve depois. Descanse e esteja bem para brilhar na sua formatura. - meu mais novo amigo, William, sempre com uma boa resposta.
- Obrigada... Vocês são incríveis! - eles logo saíram, deixando-me a sós com Thiago e Caleb. O primeiro encosta sua testa na minha e assim fica.
- É melhor dormir. Amanhã é a sua festa e sua formatura. E temos coisas a resolver com Dália e aquelas garotas.
- Pai... Pai... Me desculpem.
- Está tudo bem. Agora está tudo bem.
- Ei, que dia é hoje?
- É domingo. Tudo que aconteceu ontem foi apenas um pesadelo.
- Certo. Apenas um pesadelo.
E assim, de mãos dadas com os meus pais, voltei a dormir um sono sem sonhos.
Foi extremamente revigorante saber que não estava sozinha, nunca estive.
Mas ainda não sei como vim parar aqui.
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Estrelas sob a janela
Teen FictionÀs vezes, as linhas das constelações não são as mais suaves. Art By @gold.en.star.s Início: 18. 03. 2020 Final: 13. 04. 2020 Plágio é crime!