Capítulo 7

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Depois que a minha irmã veio buscar o Kauã aproveitei pra fazer uma faxina em casa, quando acabei aproveitei pra dormir um pouco e acordei no final da tarde com o meu celular tocando, era a minha sogra me chamando pra ir no culto com ela. Eu não tinha uma religião, sou batizada na católica e batizei meu filho lá também mas só vou quando a minha vó me chama e é assim também com igreja evangélica, eu penso que se alguém me chama pra ir em alguma igreja algo motivo tinha, eu acredito muito em Deus.

- As pessoas já foram mais discretas - falei me sentando no banco e percebi várias pessoas me olhando

- É assim mesmo, minha filha - minha sogra falou baixo

- Me sinto um bicho em zoológico - falei incomodada

- Com o tempo passa - falou rindo baixo e chamaram ela - Já volto

- Ta bom - falei e ela se levantou, observei algumas pessoas e percebi alguém se aproximando, quando olhei era uma amiga de muitos anos da minha mãe

- Oi, Nathália - falou sorrindo

- Oi, dona Débora - falei sorrindo de lado

- Posso falar com você rapidinho? - perguntou e eu assenti

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupada

- Não, só sinto que preciso falar com você - falou se sentando ao meu lado

- Pode falar então - falei baixo

- Na maioria das vezes acontece coisas nas nossas vidas que nos faz parar e pensar "porque comigo?" ou até pensar mais forte ainda com "será que Deus existe? ele não permitiria que isso acontecesse" - falou dando uma pausa e eu ouvia tudo com atenção - Mas na verdade tudo que acontece em nossas vidas é com a permissão dele, uma miséria topada no sofá é com a permissão dele

- É difícil pensar assim, sabia? Eu sei que o Michel acabou com várias famílias, eu tenho essa consciência mas é tão difícil aceitar a perda dele - falei sentindo as lágrimas escorrerem e limpei rapidamente - Será que é castigo?

- Não, minha querida - segurou a minha mão - Por diversas vezes Deus poupou a vida do Michel e isso desde que ele era um menino ainda. Mas chegou a hora que Deus resolveu recolher ele e assim foi feita a sua vontade. Ele realmente não foi uma pessoa correta, como você disse, mas o que você pensar é nos momentos bons que você e o pequeno Kauã tiveram com ele

- Eu me sinto tão fraca - confessei fungando

- Fraca? - perguntou confusa

- É, eu tento entender e por alguns momentos acho até que consigo - falei olhando pra ela - Mas quando eu vou dormir parece que tudo vai por água a baixo e eu durmo chorando

- Você não é fraca por isso - falou simples - Você é humana, minha filha, chore tudo que você tiver pra chorar e não se envergonhe disso em nenhum momento

- Um dia vai passar, né? - perguntei esperançosa

- Vai sim - falou sorrindo fracamente - Você vai encontrar algumas pedras no caminho mas com sabedoria vai conseguir superar tudo

- Pedras? - perguntei pensativa - Que pedras?

- Não sei - falou simples e me abraçou - Fica bem, menina

- Vou tentar - afirmei e ela saiu

Quando eu saí da igreja passei na casa da minha mãe e peguei o Kauã que foi o caminho inteiro me contando sobre a tarde dele no shopping com as tias. Assim que chegamos em casa coloquei ele pra tomar banho, tomei o meu e ficamos deitados assistindo desenho.

- Mãe - escutei o Kauã me chamando e tirei os olhos da tv

- Que foi? - perguntei olhando pra ele

- Agora que eu não tenho pai - falou dando uma pausa - Eu sou o que?

- Como assim? - perguntei confusa

- A tia Gabi disse que você é uma viúva gata - falou e eu neguei com a cabeça rindo baixo - Ela falou que viúva é quando a mulher perde o marido

- Isso mesmo - confirmei

- E eu sou o que então? Por que eu perdi o meu pai - perguntou curioso

- Quando uma criança perde pai ou mãe é órfão - falei explicando e ele assentiu - Mas você tem uma mãe maravilhosa que está aqui pra te dar muito amor e carinho

- Uma viúva maravilhosa - falou rindo

- Cala a boca, Kauã - falei beliscando a barriga dele e o mesmo riu

- Não faz isso, mãe - falou se levantando

- Vai dormir no seu quarto hoje? - perguntei olhando pra ele

- Não, só vou no banheiro - falou me olhando - Posso dormir aqui de novo, né?

- Pode sim - falei e ele entrou no banheiro que tinha no quarto

NatháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora