Capítulo 4

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No dia seguinte eu acordei com o Kauã me chamando, assim que eu levantei dei café da manhã pra ele e fui tomar um banho enquanto ele assistia desenho. Uma hora depois mais ou menos nós saímos de casa e eu fui deixar ele na minha sogra, ela queria distrair a cabeça e pediu pra deixar ele lá. O Rael tinha decretado luto na favela por três dias, tudo estava fechado e apenas algumas pessoas estavam pela rua. Depois que eu deixei o Kauã na vó dele eu fui atrás do Rael, perguntei pra um vapor e ele me disse aonde ele estava.

- Tá fazendo o que aqui? - Rael perguntou quando eu entrei na boca - O Michel odiava você aqui

- Não enche - falei revirando os olhos e eu olhei em volta, tinha poucas pessoas por ali - Os meninos estão diferentes, mesmo os que estão em grupinho tão quietos

- Tão sentindo a falta do mano pô - falou e saímos da boca nos sentando na calçada em seguida - Além dele ser cria da favela era bom pra todo mundo, eles respeitavam e gostavam dele

- Eu sei - falei olhando pro nada - Me responde uma coisa

- Depende - falou e eu olhei pra ele

- Vocês pegaram o policial que atirou nele ou não sabem quem foi? - perguntei pegando uma pedrinha no chão

- Esse aí já tá em outro plano pô - falou me olhando - Na hora que o mano caiu ele levou um tiro bem na nuca, nem viu de onde veio - contou - O menor que baleou ele ainda conseguiu tirar o corpo do Michel de lá, vai receber até uma promoção

- Me sinto horrível por dizer que tô feliz com isso - falei sincera - Mas é inevitável

- Nessa vida é matar ou morrer pô - falou e eu taquei a pedrinha na rua - A gente tá chorando mas a família dele também tá

- É foda - falei apoiando a cabeça no meu joelho - Eu sei bem a dor que eles estão sentindo

- A única coisa que temos em comum com os cu azul é não saber se teremos o amanhã - falou e eu concordei

- Tá preparado pra ser dono disso aqui? - perguntei pegando outra pedrinha

- Não, até porquê não vou ser - falou e eu olhei confusa pra ele

- Como não? - perguntei sem entender, geralmente quem assume quando o dono é morto ou preso é o gerente geral

- Ordem de cima - falou simples - Mas na real tô nem com cabeça pra isso, mil vezes meu mano aqui do que ter que ocupar o lugar dele

- De cima da onde? - falei ainda sem entender

- Do comando pô, eles mandam e a gente obedece - falou óbvio

- E quem vai assumir? - perguntei e ele fez que não sabia

- Não sei te dizer mesmo, mas sei que é alguém com conceito bem alto lá dentro, patente alta mesmo - falou pensativo - Eles confiavam muito no Michel e querem alguém da confiança deles pra tá lá

- Você é de confiança - falei olhando pra ele

- Esse mundo é louco - falou e eu assenti - Nem tenta entender

- Não tento - falei dando de ombros

- Se liga o Michel tinha um conceito bom dentro do comando, fez muita coisa pela favela e pela facção - falou e eu sabia bem disso - Você vai receber uma meta maneira todo mês pra tu e pro menor

- Não precisa - neguei - Eu tenho os aluguéis e você sabe

- Dinheiro nunca é demais - falou igualzinho o Michel - E é por um tempo, tá ligada? Até você se ajeitar e quem sabe se casar novamente

- Não sei se isso vai acontecer - falei olhando pra ele

- É engraçado, você sempre fechou 10/10 com ele, é bonita, deu um herdeiro pra ele e mesmo assim ele - estava falando mas ficou quieto

- Você sabe, né? - falei e ele me olhou achando que eu estava jogando algum verde

- Deixa pra lá - falou tentando se levantar mas eu puxei o mesmo - Só estava pensando que se eu fosse ele teria saído dessa vida - desconversou

- Eu sei, Rael - falei baixo

- Sabe o que? - perguntou assustado

- O segredo do Michel - falei ainda baixo - Eu só não sabia que você sabia

- Como? - perguntou confuso

- Eu descobri, maior tempão já, confrontei ele e ele abriu o jogo - contei - E você sabe desde quando?

- Nós era menor ainda, eu fiquei zuando ele por não ter perdido o bv ainda e chamando ele de viadinho, ai ele disse que achava que era mesmo - falou baixo - Mas nunca fiquei sabendo de nada

- Então sei mais do que você - falei batendo no braço dele  - O melhor amigo era meu afinal - falei lembrando de quando eu vivia perturbando ele com isso

- Chata - falou revirando os olhos

- Estou surpresa por você saber - falei olhando pra ele

- Digo o mesmo - riu negando com a cabeça e eu me levantei

NatháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora