22 de Março de 2018
Hoje estava sendo o dia mais triste da minha vida, ser casada com um traficante é saber que a qualquer momento o seu marido pode morrer ou ser preso. O Michel foi morto ontem em um confronto com a polícia, quando eu recebi a notícia parecia que meu mundo iria desabar mas eu tinha que ser forte pelo meu filho. O corpo dele estava sendo velado e em nenhum momento eu saí de perto, na minha cabeça toda nossa vida passava como um filme. Saí dos meus pensamentos quando alguém se encostou ao meu lado, quando olhei era o Jean.
- Oi - falei fungando e eu percebi as lágrimas escorrendo pelo rosto dele
- Oi - falou me abraçando e eu desabei novamente no choro, nesses quatro anos ele se tornou um grande amigo
- Ele deixou a gente - falei chorando - Ele não vai tá aqui pra vê o Kauã crescendo
- Ei, eu tenho certeza que aonde ele tiver tá olhando pela gente, viu? E pode ter certeza que o Kauã vai crescer um garoto incrível e sabendo que o pai amava muito ele - falou fazendo carinho no meu cabelo
- Eu nunca vou deixar meu filho esquecer dele - falei tentando controlar o choro
- Ele não vai - garantiu e beijou minha testa
- Comadre - Rael falou se aproximando, ele era amigo de infância do Michel, eram como irmãos e ele era gerente geral na favela - Tá na hora do enterro
- Só vamos fazer uma oração antes - falei e ele assentiu, estava estampado na cara dele o quanto ele estava sofrendo pela perda do amigo - Chama a dona Fátima pra mim - falei me referindo a minha sogra, ele saiu e uns dois minutos depois a minha sogra entrou com o meu filho. Eu tinha conversado com ele e achei melhor traze-lo mas ele ficou o tempo inteiro lá com fora com a minha mãe - Vem cá, meu amor - chamei e peguei ele no colo
- O papai tá dormindo? - perguntou olhando curioso pro Michel no caixão
- Lembra que a mamãe falou que o papai iria morar no céu e não poderia voltar mais? Só nos nossos sonhos? - falei e ele assentiu - Agora nós vamos nos despedir do papai, ele precisa ir embora
- O céu é longe, mamãe - falou fazendo bico pra chorar - Eu não quero que ele vai
- Eu também não quero - falei limpando uma lágrima que escorreu - Mas ele precisa ir
- Por que? - perguntou me olhando e eu não sabia o que falar pro meu próprio filho
- Olha pro dindo - Rael falou chamando a atenção dele - O seu pai precisa proteger a gente, por isso que ele tá indo, menor. Ele vai proteger a gente de lá e eu daqui
- Ta bom - falou contrariado
- Dá um beijo nele - falei e ele se esticou dando um beijo na bochecha do pai, eu me aproximei e beijei a testa do Michel - Eu sempre vou amar você - sussurrei fungando
- Eu também, papai - Kauã falou baixinho e eu nem tentava mais segurar as lágrimas
Depois do enterro eu fui pra casa com o Kauã e o Jean, minha cabeça estava explodindo e eu não fazia ideia de como ia dormir essa noite sem ele. Nesses quatro anos nós tínhamos uma parceria incrível, estávamos mais amigos do que nunca, parceiros da vida, relação de homem e mulher mesmo era raro, tínhamos nossos momentos e quando acontecia era incrível. Eu iria sentir muita falta dele.
- Cadê o Kauã? - Jean perguntou quando eu desci
- Dormiu - falei me sentando no sofá com ele - Você sabe que o Michel te amava, né? Tem noção disso?
- Sim, e eu amava aquele louco também - falou me olhando - Nós tivemos sorte, Nat, o Michel era um homem incrível
- Eu sei - falei e ele fez carinho na minha mão - Tenho uma coisa pra você
- O que? - perguntou curioso
- Faltam dois anos ainda pra você se formar, né? - falei e ele assentiu - Eu sei que a sua faculdade é pública mas você tem gasto com passagem e outros gastos da vida adulta como bancar a casa, e eu sei também que você perdeu o emprego há três meses. Depois do nosso acordo doido o Michel passou a ser aberto comigo e me contou que estava te ajudando
- Eu falei que não precisava mas ele insistiu muito, eu iria dar um jeito - falou e eu sabia que era a cara do Michel
- Nada demais ele te ajudar, vocês estavam juntos há quatro anos - falei olhando pra ele - Enfim, quem vive nessa vida sabe que o amanhã pode não chegar e tem que ser esperto, se garantir
- Sempre esperando pelo pior - falou baixo
- Prisão ou cadeia, não tem outra alternativa - falei colocando o cabelo atrás da orelha - Quando ele me contou que estava te ajudando eu não achei ruim, inclusive pedi pra ele te dar uma segurança e mesmo que ele deixasse pra depois eu faria, mas até que resolvemos isso bem rápido
- Como assim? - perguntou confuso
- O Michel sempre foi muito esperto, conforme ele foi subindo de cargo e o dinheiro aumentando ele começou a comprar casas e lojas aqui na favela e no asfalto - falei e ele arregalou os olhos surpreso - E estava tudo no meu nome mas alguns colocamos no nome do Kauã
- Tu é próspera hein - falou e ela pela primeira vez eu dei um sorriso sincero
- Você sempre agiu na pureza e percebemos isso, não era de pedir nada e estava na cara que você era completamente apaixonado por ele - falei dando uma pausa - Eu coloquei uma casa na Barra no seu nome, ela está alugada no momento
- Nathália - falou surpreso e eu peguei a pasta que eu tinha deixado no sofá
- Eu sei que a casa que você mora era dos seus pais e você ficou com ela quando eles morreram - falei e ele confirmou - Com o aluguel da casa você pode se manter e mais pra frente se for esperto comprar outra casa e alugar também
- Eu não posso aceitar - negou me olhando - Eu realmente amava ele e eu criei um amor por você e pelo Kauã, nada foi mal intencionado
- Isso é um sinal que nós te amamos e queremos você bem - falei sorrindo
- Tudo bem - falou e eu entreguei a pasta pra ele
- Os documentos da casa e o contrato do aluguel - falei explicando
- Eu posso continuar em contato com vocês? Eu me apeguei demais - falou me olhando
- Nem ouse sumir - falei abraçando ele
- Não vou - falou beijando meu rosto

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Nathália
FanfictionSabe quando você acha que tem o controle de tudo na sua vida mas algo acontece e você percebe que nada é como você imaginava? Nathália sempre teve uma vida diferente das meninas da sua idade, engravidou cedo e teve que amadurecer mais rápido do que...