Capítulo 7 - Eu odeio ter que te dizer isso, mas eles fedem!

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– Ok, eu vou voltar para cama. Mais tarde vou mandar uma mensagem para Júlia e convidá-la – Alex bocejou e fez menção de sair.

– Você ficou maluca? – Natasha perguntou sobressaltada.

– Não? – Alex perguntou sem entender a explosão de Natasha.

Sis, você não vai levar a Júlia para o seu quarto naquele estado.

– O que você quer dizer com isso?

– ALEX – Natasha se irritou. – Você está mantendo dois vira-latas lá dentro. Eu odeio ter que te dizer isso, mas eles fedem!

– Xiu, fala baixo – Alex olhou em direção a porta para se certificar de que estavam realmente sozinhas. – E não são vira-latas, são filhotes.

– Que fedem.

– O que você queria que eu fizesse? Eles estavam abandonados na chuva, não podia deixá-los lá – Alex disse exasperada. – E eles não fedem! É cheiro de filhotes!

Alex voltava para casa após uma aula extra de português, quando ouviu um choro fino vindo dos fundos de uma banca de revistas. Era uma cadela que acabara de dar à luz a dois filhotinhos. Alex entrara em contato com abrigos e com a ajuda de Júlia no mesmo dia conseguira levar a cadela e os filhotes até uma feira de adoção, mas após permanecerem várias horas embaixo de uma árvore não conseguira quem os adotasse. Sem sucesso no final da feira Alex não pensou duas vezes antes de levar os cachorros para casa, mas no meio da noite foi obrigada a acordar a irmã e pedir por cobertura. Alguma coisa estava errada com a cadela e enquanto Natasha se deitava com os filhotes, Alex embrulhou a mãe em seu lençol e a levou até uma clínica veterinária. Mesmo sob os apelos da veterinária de plantão, a menina se recusara a voltar para casa e passara a noite nas cadeiras da pequena sala de espera do consultório. A mãe dos filhotes não resistiu e morreu quando Alex ainda dormia na cama improvisada pelos funcionários da clínica sobre as caixas de transportes. Desde então ela vinha mantendo os dois filhotes escondidos em seu quarto, mas sabia que o disfarce não duraria muito tempo.

– Você tem seis horas para encontrar um lar para eles. E acenda alguns incensos no seu quarto para tirar aquele cheiro horrível de vira-latas.

– É cheiro de filhote – Alex disse alarmada. Não entendia como a irmã era capaz de falar assim das pequenas bolinhas puladas.

– Que seja. Livre-se deles, eu vou cuidar do resto – Natasha saiu da cozinha deixando Alex à beira de um ataque. Como conseguira um lar para os cachorros em seis horas?

Alex passou o resto da manhã pendurada no telefone, outra vez tentou os abrigos, amigos da escola e até ousou fazer anúncios em grupos de adoção na internet. Não obteve respostas, ninguém queria os filhotes.

– Não se preocupem, eu não vou abandonar vocês – Alex fez carinho na cabeça de um dos cachorros que deitara em seu colo.

O prazo dado por Natasha havia acabado e Alex ainda não conseguira um lar para os cachorros. E agora parecia que tudo havia se enrolado, ela andava de um lado para o outro dentro do quarto e começava a entrar em desespero.

– O que você está fazendo? – Natasha abriu a porta e tirou Alex do seu estado de transe.

– Não sei o que fazer – Alex respondeu pegando um dos cachorros que tentara passar pela porta.

– Me dê esses cachorros – Natasha pegou o filhote dos braços de Alex e com a outra mão alcançou o outro que também tentava fugir do quarto. – Eu vou buscar Júlia no aeroporto, entre no banho e se arrume. Nada de jeans!

– Espera – Alex disse um pouco atordoada. – Como você sabe que Júlia está chegando? Como vai buscá-la? E o que vai fazer com meus cachorros?

– Eu te disse que estava cuidando de tudo.

– Nat, o que vai fazer com os cachorros? – Alex perguntou mais uma vez.

– Vou levar eles para um passeio.

– Natasha!

– Relaxa, São Francisco de Assis, eu vou passar a noite na casa da Bia e vou levá-los comigo. Amanhã trago eles de volta. Agora vá tomar seu banho e pelo amor de Deus, acenda um maldito incenso.

Natasha pegou um táxi e foi até o aeroporto encontrar com Júlia. A menina não queria admitir, mas estava muito animada. Era a primeira vez em meses que via sua irmã feliz e faria tudo para que ela continuasse assim.

– O que a Alex está fazendo aqui? – Gustavo perguntou para Júlia quando eles chegaram a sala de desembarque.

– Não é a Alex – Júlia abriu um sorriso. Olhar para Natasha fazia seu coração bater mais forte, aquele era o rosto da garota que amava – É a gêmea dela.

– Uau. Ainda dizem que Deus não existe. Rodrigo vai adorar saber que existem duas dela. – Gustavo disse com um sorriso malicioso e levou uma cotovelada de Júlia no estômago.

Ao ouvir o comentário de Gustavo, Júlia imediatamente perdeu o humor. Doía só de imaginar que outra pessoa pudesse olhar para Alex como ela olhava.

– Me desculpa – Gustavo disse ao perceber que Júlia estava chateada.

– Olá, Júlia – Natasha se aproximou da menina e a puxou para um abraço.

– Oi, cunhadinha – Júlia sussurrou no ouvido na menina e passou o braço pelos ombros dela, deixando Gustavo para trás. – Onde está minha garota?

– Provavelmente tirando o cheiro de cachorro morto do quarto – Natasha acenou para Gustavo que balançou a cabeça em resposta. O rapaz ainda estava fascinado pela ideia daquela beleza ser divinamente duplicada.

– Os cachorros morreram? – Júlia perguntou com um grito.

– Não, mas fedem como se estivessem mortos – Natasha revirou os olhos e Júlia se acalmou.

– Idiota – Júlia deu um soco fraco no ombro de Natasha.

– Então garotas, o que acham de sairmos para comemorar o terceiro lugar do CEU? – Gustavo as alcançou. – Vamos chamar Rodrigo e Marcos também.

– Parece tentador – Natasha deu um sorriso encantador. A menina sabia como usar seu charme. – Mas vamos precisar adiar. Na verdade, eu vim até aqui para sequestrar a Júlia, vamos fazer uma festinha só para as garotas do time na casa da Bia.

– O voo da Bia ainda não chegou – Gustavo disse.

– Eu sei, eu estou organizando a festa. As outras meninas vão direto para lá quando chegarem. Eu vim buscar a Júlia porque o voo de vocês foi adiantado e não consegui falar com ela mais cedo.

Júlia encarava Natasha com uma expressão curiosa, sabia que a menina estava mentindo. Bia passara a maior parte da manhã reclamando de cansaço, a última coisa que faria era uma festa em sua casa.

– Vamos Júlia? – Natasha se apressou a puxar a levantadora. – Você se importa, Gustavo?

– Não – o garoto respondeu sem entender bem, mas era impossível negar um pedido de Natasha. Júlia riu porque sabia disso.

– O que você está tramando? – Júlia perguntou quando ficou sozinha com Natasha.

– Nada – Natasha foi até um táxi que estava parado e abriu a porta para menina, entregou algumas notas para o taxista e fechou a porta. – Cuide bem dela ou eu iria atrás de você e farei com que pareça um acidente.

Natasha deu tapinhas no carro e o taxista arrancou com Júlia.

O carro parou em frente à porta da casa de Alex, e Júlia desceu carregando sua mala. Tocou a campainha até a garota abrir a porta com um sorriso. Seus cabelos estavam molhados e seus olhos castanhos pareciam enxergar o interior de Júlia.

A atleta jogou sua mochila no chão e antes que a menina pudesse ter alguma reação, a agarrou pelo pescoço e lhe beijou apaixonadamente.

– Não consigo mais ficar longe de você – Júlia suspirou ainda com o corpo colado ao de Júlia.

– Não fique – Alex a puxou pela mão, fechou a porta e conduziu a garota até o quarto.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora