Capítulo 16 - O que diabos você fez com o Paçoca?

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Alex sentiu um frio percorrer pelo seu corpo ao ouvir aquela voz. Ainda com a cabeça baixa, ela fechou os olhos e respirou fundo. Não estava preparada para o momento em que teria Júlia entrando novamente em sua vida.

– Eu trabalho aqui – Alex respondeu ao levantar a cabeça e encarar Júlia.

Quando seus olhos se encontraram Alex foi invadida pela força daquele azul da cor do céu.

– O que aconteceu com o Paçoca? – Alex perguntou ao se dar conta de que Júlia estava em uma espécie de choque.

– Ele está morrendo – Júlia despertou dos seus pensamentos, lembrou-se do que viera fazer ali e o pânico voltou a tomar conta de si.

– Coloque-o aqui, por favor – Alex apontou a mesa de exames e Júlia prontamente levou o cachorro até lá.

– Hey garotão, o que você tem? – Alex falava baixinho com Paçoca e enquanto o examinava sentia o peso dos olhos de Júlia.

A brasiliense observava e mordia os lábios com aflição.

Alex usava o estetoscópio e apalpava o cachorro que parecia não se incomodar com o toque da veterinária.

– Aparentemente não tem nada de errado com ele, vou pedir os exames de sangue e...

– Como assim não tem nada de errado com ele? – Júlia perguntou sobressaltada. – Ele está morrendo!

– Ele não está morrendo, Júlia.

– Então o que ele tem?

– Quando os exames ficarem prontos eu vou saber exatamente, mas fique tranquila. Aparentemente ele não está sentindo dor e também não está desnutrido, não acho que seja alguma coisa grave. O que você notou de diferente no comportamento dele? – Alex perguntou fazendo carinho no cachorro que parecia estar mais com preguiça do que qualquer outra coisa.

– Eu cheguei em casa e ele não correu para a porta, não me seguiu abanando o rabo como sempre faz – Júlia se aproximou e também fazia carinho no cachorro, por um momento seus dedos quase encostaram nos de Alex. Aquilo foi o suficiente para lhe deixar sem ar. – Eu não posso perdê-lo, Alex. Paçoca é o único que me restou.

– Você não vai perdê-lo – a vontade de Alex era tomar Júlia em seus braços e consolá-la.

Alex não pode deixar de notar que Júlia se tornara uma mulher incrível, seu corpo havia mudado e ganhado uma forma extremamente sexy, mas não perdera o jeito de menina teimosa e carente.

Júlia tirou a mão de Paçoca antes que o calor do quase toque de Alex a consumisse.

– O que eu faço agora? Quando os exames ficam prontos?

– Vou pedir para Lara chamar o laboratório de plantão e pedir urgência. Eles devem estar aqui em no máximo vinte minutos e os exames ficam prontos em duas horas. Você pode sentar-se lá fora e aguardar – Alex disse com sua pose profissional, mas se deteve diante dos olhos chorosos de Júlia. – Ou você pode ficar aqui com ele e acompanhar o procedimento.

– Obrigada – Júlia agradeceu colocando as mãos dentro do bolso do casaco.

Quando a garota fez aquele movimento, Alex se deu conta do que Júlia estava vestindo.

– Você está na seleção – Alex disse exasperada como se Júlia não soubesse daquilo. – Esse é o uniforme da seleção.

– Sim – Júlia respondeu sem graça.

Alex subitamente lembrou-se da entrevista de Júlia que vira na noite passada e sentiu novamente o ingresso pesando em seu bolso.

– Hoje é o seu primeiro jogo com essa camisa. O que está fazendo aqui? O jogo vai começar em uma hora, você precisa ir se aquecer!

– Eu não vou jogar – Júlia disse surpresa por Alex saber que aquele era o seu primeiro jogo.

– Júlia, você precisa ir! Esse é o seu maior sonho – Alex disse e por um momento pensou que talvez pudesse ter dito a coisa errada. Aquele era o sonho da Júlia de cinco anos atrás.

– Não vou deixar o Paçoca. Já disse que ele é tudo o que eu tenho.

– É o seu primeiro jogo, você precisa ir – Alex alarmou-se. – Eu te garanto que o Paçoca está bem.

– Não posso deixá-lo, Alex. Já deixei coisas demais escaparem de mim, não vou deixar que o Paçoca escape também. Quero estar aqui com ele.

– Acredite em mim, Júlia. Eu sei que você tem motivos para não confiar, mas estou te pedindo como a pessoa que resgatou o Paçoca e como veterinária – Alex disse firme. Não podia deixar que Júlia perdesse aquele jogo. Mesmo que não reconhecesse aquela mulher sabia que no fundo daqueles olhos ainda havia a menina que dedicara sua vida para vestir aquela camisa. – Eu nunca fui relapsa com nenhum paciente e com Paçoca não será diferente. Eu cuidarei dele.

– Alex, você tem suas coisas para fazer, não pode cuidar dele a noite toda. Me diz o que eu tenho que fazer, eu o levo para casa e fico com ele.

– Paçoca vai passar a noite em observação, eu dormirei aqui com ele. Tem um colchão nos fundos que Natasha usa quando não consegue encontrar as chaves de casa – Alex disse sem pensar duas vezes. – Eu te mando uma mensagem após o jogo acabar te atualizando do resultado dos exames e você pode vir buscá-lo amanhã cedo.

Júlia pensava na proposta e atentamente observava Paçoca, que parecia tranquilo e até mesmo feliz recebendo os carinhos de Alex.

– Tá legal – Júlia cedeu. – Se você puder mesmo ficar com ele eu vou para o ginásio. Cuide dele, Alex. Por favor.

– Eu posso – Alex disse esquecendo-se de todos os seus compromissos. Naquele momento a única coisa que lhe importava era que Júlia entrasse na quadra. – Ele está em boas mãos, confie em mim.

– Eu confio – Júlia sentiu o estômago revirar ao dizer aquelas palavras. Sabia que ainda confiava em Alex.

Júlia se despediu de Paçoca com beijos no focinho e saiu do consultório após deixar uma dezena de recomendações para que Alex lhe avisasse sobre qualquer alteração nos exames.

– Espera um pouco – Alex chamou antes que Júlia entrasse no carro. – Existem milhares de clínicas em São Paulo. Como você descobriu a minha?

– Encontrei um panfleto daqui dentro da minha caixa de correio essa manhã. Acho que o destino quis trazer o Paçoca de volta para você.

– Sim, com certeza foi o destino – Alex mordeu o canto dos lábios pensativa. Aquilo só podia ser obra de uma pessoa, já que ela nunca mandara fazer panfletos de propaganda para a clínica. – Boa sorte no jogo.

– Obrigada – Júlia agradeceu com um sorriso e foi embora.

Alex entrou na clínica pisando firme e discou o número do celular de Natasha.

– Eu vou te matar – Alex disse pausadamente. – O que diabos você fez com o Paçoca para Júlia achar que ele está doente?

– Eu preciso que você tenha muita calma nessa hora – Natasha disse do outro lado da linha.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora