Capítulo 22 - Seu cheiro de vodka está contaminando toda minha sala.

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No segundo que os lábios de Natasha se encostaram aos de Júlia a DJ se deu conta do que estava acontecendo.

– Não – Natasha empurrou Júlia como força e sentiu a sobriedade voltando ao seu corpo e trazendo junto com ela uma culpa que nunca havia sentido antes.

Júlia também se dava conta do que quase fizera e lutava para conseguir organizar seus pensamentos.

– Eu não acredito que eu fiz isso – Natasha se levantou e andava de um lado para o outro na sala de Júlia.

– Nat, me desculpa. A culpa foi minha – Júlia esfregava os olhos com as duas mãos e suspirava.

– Não Júlia, a culpa foi minha. Alex é minha irmã e você é o amor da vida dela – Natasha inconsolável chutou a garrafa de vodka vazia jogada aos seus pés.

– Nós não fizemos nada, você me parou antes que eu sequer abrisse a boca – Júlia tentava controlar a garota que se entregava em um choro desesperado.

– Essa não é a questão, Júlia – Natasha disse entre soluços. – Nós quase nos beijamos. Tem ideia de quantas maneiras isso acabaria com Alex?

– Nat, por um instante eu achei que você fosse ela. E foi somente por isso que eu quis te beijar. A culpa foi minha, eu sou tão teimosa e estou lutando tanto para tirar Alex da minha mente, mas quanto mais eu tento, mais ela volta.

– Isso não importa, você poderia ter me confundido até com o Papa, eu não deveria deixar que isso acontecesse.

– Eu não beijaria o Papa.

– Júlia! – Natasha gritou com a menina – Duas pessoas precisam estar envolvidas para um beijo acontecer.

– Mas não aconteceu. Nós estamos bêbadas, Nat. Foi um momento de confusão, eu nunca quis isso. Pensa um pouco, em algum momento da sua vida já passou pela sua cabeça a ideia de ficar comigo?

– Nunca – Natasha olhou para a garota e fez uma careta. – Você é minha amiga, Júlia.

– Eu também nunca pensei isso, Nat.

– Eu preciso contar para Alex – Natasha controlou o choro e suspirava fundo na esperança de controlar a respiração.

– Vou com você.

– Não, eu preciso fazer isso sozinha. Você não deve nada para ela, não estão juntas. Ela é minha irmã, eu devo tudo a ela.

– Nat, não fala assim – Júlia sentia uma culpa esmagadora. Sabia que o que aconteceu não fora somente pela quantidade absurda de álcool que as duas ingeriram, mas porque ela ainda amava Alex e tentava de toda forma preencher o vazio que a menina deixara em sua mente e em seu corpo.

– Vou pedir para alguém buscar o Paçoca mais tarde e levá-lo para minha casa. Faça uma boa viagem e tenha bons jogos – Natasha disse recolhendo sua bolsa do chão. A vodka e a crise de choro agora faziam sua cabeça latejar de dor.

Natasha deixou a casa de Júlia e lutava contra o álcool para organizar seus pensamentos. Decidiu ir andando até o consultório de Alex, não queria estar bêbada quando conversasse com a irmã.

– O que aconteceu com você? – Lara perguntou ao ver os olhos vermelhos e a expressão derrotada da garota.

– Preciso falar com a Alex, onde ela está? – Natasha perguntou baixinho.

– Está com um paciente, senta e espera um pouco – Lara disse preocupada, nunca vira Natasha naquele estado. – Ela já deve estar acabando

Natasha obedeceu e sentou-se com a cabeça baixa. Lara lhe ofereceu um copo com água, mas a DJ não aceitou. Não queria nada que pudesse fazer lhe sentir melhor. Merecia aquela dor e lidaria com ela.

Alguns minutos depois Alex saiu com um cachorro nos braços e dava as últimas instruções para o dono que balançava a cabeça atento a tudo o que a veterinária dizia.

– Você está horrível – Alex disse para Natasha após entregar o cachorro para o dono e se despedir deles.

– Precisamos conversar – Natasha disse ainda sem levantar a cabeça.

– Vem – Alex estendeu a mão para a irmã e a levou para o consultório.

– Alex, você tem todo o direito de me odiar pelo resto da sua vida. Eu vou entender se você fizer isso depois de ouvir o que eu tenho para dizer.

– Você nunca foi tão dramática – Alex puxou a irmã e a abraçou. – Eu nunca odiaria você, Nat. Não importa o que você acha que fez.

– Alex, por favor. Me deixa falar – Natasha disse desviando-se do abraço da irmã, sabia que aquele poderia ser o último que receberia em sua vida, mas não podia aceitá-lo enquanto não contasse a verdade.

– Não precisa.

– Eu preciso, Alex. Você não está entendendo.

– Nat, eu já sei de tudo.

– Como assim sabe de tudo? – Natasha perguntou confusa.

– Júlia me ligou assim que você saiu da casa dela e me contou o que aconteceu. Ela estava preocupada com você e honestamente eu também estou. Nunca te vi assim por beijar uma garota.

– Eu não beijei uma garota qualquer. Foi a Júlia. Sua Júlia.

– A Júlia não é minha. Ela não é de ninguém além dela mesma e nós não estamos juntas, ela não me devia nada.

– Eu devo, Alex. Você a ama e eu a beijei – Natasha disparou a chorar novamente.

– Você acha mesmo que eu estou preocupada com um beijo que segundo a Júlia não passou de um selinho de três segundos que vocês deram após beber uma garrafa inteira de vodka sozinhas? Nat, eu sei que você me chamou naquele restaurante hoje para me fazer encontrar com ela, eu estraguei tudo levanto a Emma. O que você faz por mim, ninguém mais faria.

– Alex, você não está entendendo o que eu estou querendo te dizer.

– Você que não está entendendo, Nat. A Júlia te beijou porque por um momento achou que era eu quem estava ali. Isso pode parecer estranho, mas eu fiquei extremamente feliz ao ouvi-la dizendo essas palavras.

– E eu a beijei porque sou uma sem-vergonha.

– Isso não é nenhuma novidade para mim, eu sempre soube que você não vale nada – Alex disse sorrindo, mas Natasha permanecia séria. – o que importa para mim é que você pode ser uma sem-vergonha, mas você também é minha irmã, que se preocupa comigo e que se recusou a ficar com uma garota maravilhosa que estava jogada em você porque sabia que isso me magoaria. Essa é a pessoa que você é, Nat.

– Alex, me diz que você foi sequestrada por alguma seita e substituída por essa versão madura e good vibe, porque eu estou ficando assustada.

– Deixa de ser idiota – Alex jogou uma caneta nela e Natasha respirou aliviada, ainda era sua irmã que estava ali. – Agora vá para casa tomar um banho, seu cheiro de vodka está contaminando toda minha sala.

– Não dá, tenho que encontrar alguém para ir buscar o Paçoca. Eu prometi que cuidaria dele.

– Eu já resolvi isso com a Júlia – Alex disse feliz, a ligação de Júlia rendera mais do que elas imaginavam. – Eu consegui convencê-la de que deixá-lo com você era uma ideia maluca. Vou ficar com ele enquanto ela está fora.

Natasha olhou com os olhos semicerrados para a irmã e virou levemente a cabeça para o lado analisando-a.

– O que você quer que eu diga? Júlia e eu voltamos a ser amigas. O seu plano deu certo no final das contas.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora