Capítulo 30 - Dessa vez eu estou com você.

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- Meu pai? Isso não é possível – Alex com cuidado dobrou a carta e a devolveu para a mochila de Júlia pensando que aquele era mais um plano sem noção da irmã. – O que a Natasha disse? Ela só pode estar maluca.

- Ela estava tentando falar com você há algumas horas, como você não atendeu ela ligou no meu celular – Júlia explicou enquanto Alex conferia as chamadas perdidas no seu celular. – Ela não parecia estar brincando, Al. Acho que alguma coisa está mesmo errada.

Alex sentou-se na cama assustada com a quantidade de ligações de Natasha e esfregou o rosto com as duas mãos.

- Isso não pode estar acontecendo – ela suspirou enquanto retornava a chamada para Natasha.

Júlia observava Alex com atenção e não sabia o que fazer. Elas haviam acabado de se conectarem outra vez e Júlia ainda não definira os limites para estar na vida de Alex. Sua pretensão era ouvir sua razão e ir aos poucos, não planejava ser o apoio que Alex precisava. Pelo menos não ainda.

- Onde você se meteu? - Natasha atendeu a ligação no primeiro toque.

- Como assim onde me meti? Estou na Júlia, lembra?

- Eu me esqueci – Natasha falou com a voz cansada.

- Como se esqueceu? Nat, você acabou de sair daqui – Alex lembrou a irmã e instantaneamente soube que alguma coisa estava muito errada. Natasha era uma agenda eletrônica humana e nunca esquecia nada, muito menos um evento daquele porte e que ainda por cima ela mesma organizara.

- Eu sei, eu me esqueci por um momento. Me desculpe.

- O que aconteceu? Júlia disse que o pai teve infarto. Nat, isso não é possível, é?

- Temo que sim, little sis. Eu recebi uma ligação do Hospital de Base, eles não falaram muita coisa pelo telefone, só que ele está na UTI. Estou procurando um voo para Brasília, o próximo sai em duas horas. Mas fique tranquila, se fosse alguma coisa muito ruim eles teriam me dito – Natasha tentava proteger a irmã, não queria preocupá-la antes de ter notícias certas.

- Reserva um lugar para mim, eu vou com você.

- Não, Alex. Fique aqui e se resolva com a Júlia. Eu vou ver qual é a situação e te mantenho informada. Não precisa ir agora.

- Nat, é claro que eu vou. Reserva um lugar para mim.

- Ok, tá legal – Natasha não podia com a teimosia da irmã - Nos encontramos em Congonhas, não se atrase. Te mando as informações do voo por SMS.

- Obrigada, Nat. Me avise se souber de mais alguma coisa, ok?

- Pode deixar, sis. Até logo.

Alex desligou a ligação e encontrou o olhar de Júlia.

- É verdade – ela disse contendo um choro. – Vou para Brasília hoje. Me desculpa, eu disse que ficaria com você, mas eu preciso ir.

- É claro, Al. É seu pai, é claro que você precisa ir. Eu entendo.

- Você vai estar aqui quando eu voltar e prometo que vou te recompensar – Júlia abaixou a cabeça e apressou a encarar seus pés ao ouvir as palavras de Alex.

- Que horas é voo? Eu te dou uma carona para o aeroporto.

- Não precisa, tenho que ir em casa pegar umas roupas – Alex disse procurando sua calça jeans pelo quarto. - Vou pedir a Lara para trazer o Paçoca para você.

- E o Shoyu? – Júlia perguntou também vestindo suas roupas. – Eu fico com ele, assim retribuo o favor.

- Obrigada – Alex não conseguiu mais segurar o choro e desabou escondendo o rosto entre as mãos.

- Alex, vai ficar tudo bem – Júlia disse sem jeito. – Seu pai é jovem, forte. Você vai ver que tudo não passou de um susto.

- Não sei o que vou fazer se alguma coisa acontecer com ele.

- Não vai acontecer nada, ele vai ficar bem, ok? – Júlia segurou o rosto de Alex entre as mãos e disse com carinho. Estava cansada de correr e não tinha mais como negar, estava comprometida com Alex outra vez. – Vamos, vou te levar em casa. Não vou te deixar sair assim, aproveito e já trago os cachorros.

Enquanto era puxada por Júlia, Alex apressadamente recolheu suas coisas do chão e as enfiou desajeitadamente na bolsa. Sentia o toque de Júlia em sua mão enquanto sua cabeça rodava ainda com as palavras da carta que escrevera, misturadas a seriedade da voz de Natasha. Deixava que as lágrimas caíssem pelo seu rosto, pois temia explodir se elas não saíssem.

Alguns dias atrás a menina falara ao telefone com seu pai e lhe contara que reencontrara com Júlia.

- Se você a ama não desista, filha – ele dissera quando Alex lhe contou que Júlia não estava disposta a perdoá-la.

Alex relembrava aquela conversa e intimamente receava não ter a chance de contar ao seu pai que não desistira.

Ao chegarem à casa, Júlia brincava jogada no chão com os cachorros enquanto Alex se apressava em apertar algumas roupas emboladas em uma mala e dava instruções sobre o cuidado com Shoyu.

- Alex, fica tranquila. Eu conheço o Shoyu desde filhote, eu sei cuidar dele. Não se preocupe, ele vai ficar bem.

- Eu sei, obrigada por fazer isso.

- É um prazer, assim eu aproveito e mato a saudade desse peludo. Tem mais alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar? - Júlia perguntou levantando-se do chão e olhando em volta. Era a primeira vez que entrava na casa e se admirou ao perceber que Alex decorara exatamente do jeito que tantas vezes falavam e sonhavam nas tardes ensolaradas debaixo das árvores no parque.

- Não, preciso desmarcar algumas consultas, vou ligar para Lara no caminho do aeroporto e pedir que ela faça isso.

- Tem certeza que não quer que eu te leve?

- Sim, vá para casa, você precisa descansar. Eu vou pedir um Uber.

- Tudo bem, me dê notícias e diga que eu mandei um abraço para ele.

- Vou dizer – Alex fechava sua mala enquanto Júlia prendia Shoyu e Paçoca nas guias para levá-los até o carro. – Júlia?

- Oi? – Júlia perguntou enquanto era arrastada pelos cachorros animados com a possibilidade de um passeio surpresa.

- Obrigada por essa chance, vou fazer dar certo dessa vez.

- Nós faremos! – Júlia olhou para sua mão e com um impulso irracional tirou a aliança. – Quero que você fique com isso. Te entrego essa aliança e junto com ela o meu coração outra vez. Se as coisas ficarem complicadas eu quero que você se lembre de que dessa vez eu estou com você. Talvez não fisicamente, mas não se esqueça de que estou com você, me promete que não importa o que aconteça você não se esquecerá disso?

- Prometo.

Alex estava tão agradecida por sentir aquele amor outra vez que não reparou nas lágrimas que caiam dos olhos de Júlia quando elas se afastaram depois de um longo abraço.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora