Alex entrou no quarto com sua mente ainda fora de foco. Aquilo não podia estar acontecendo. Não conseguia acreditar que Júlia estava indo jogar na Turquia logo agora. Acabara de reconquistar o amor da sua vida e sentia vê-lo escapando entre seus dedos. Mais uma vez.– O que aconteceu, sis? – Natasha perguntou levantando-se da cama e indo de encontro a irmã. Sua consciência sempre pesava ao ver Alex com aquele pânico assustador no rosto.
– Júlia.
– O que tem ela? – Natasha perguntou desconfiada. Eduardo olhava as duas, mas não se meteu. Adorava ver a forma como as filhas se conectavam.
– Ela vai jogar no Eczacıbaşı.
– Eczacıbaşı? O time turco com o qual ela sempre sonhou? – Natasha perguntou sem entender o pânico de Alex.
– Esse mesmo – Alex sentou-se ao lado do pai e esfregou o rosto cansada. – O Gustavo acabou de me contar. Não consigo acreditar que depois de todo esse tempo ela ainda não consegue estar totalmente comigo. É isso... A Júlia e eu não nascemos para ficarmos juntas, sempre há alguma coisa entre nós. Eu sou uma idiota por achar que dessa vez seria diferente.
– Espera um pouco ai, Alex. Você está sendo injusta, como pode dizer uma coisa dessas? Ela fez de tudo para estar com você. Dessa vez é diferente.
– Eu sei que você é péssima em Geografia, mas eu preciso realmente te lembrar onde fica a Turquia? – Alex perguntou emburrada. – Eu só queria entender porque ela não me contou isso.
– Talvez ela não tenha tido a oportunidade certa – Natasha arriscou, não queria deixar Alex mais irritada do que ela já estava, mas soube que falhou ao ver o olhar fuzilador da irmã em sua direção.
– Ela teve todo o tempo desde o nosso reencontro para me dizer isso, mas ela escolheu não me contar. Isso é típico da Júlia.
– Ela estava ocupada demais tentando achar um jeito de te perdoar, filha – Eduardo disse e Natasha virou estupefata para o pai que acabara de tirar as palavras de sua boca. – Júlia provavelmente sabia que se te contasse você desistiria dela mais uma vez.
– Ele está certo, Al. Você pode se sentir triste, afinal a garota que você ama está saindo do país, mas isso não te dá o direito de ser uma babaca. A Júlia fez um esforço enorme para estar com você novamente. E o que você está fazendo é outra vez tirar conclusões precipitadas sem antes saber o que ela pensa.
– Não estou fazendo isso, Nat. Agora é diferente. Não é um garoto que está entre nós, dessa vez é o sonho dela. Não posso pedir para ela abrir mão dele como fiz com o Gustavo. Eu já devia saber disso, nossa história não foi feita para dar certo.
– Não cometa o mesmo erro outra vez, little sis. Você já a perdeu uma vez, não deixa que seu orgulho tire sua felicidade. Converse com ela antes de decidir o que acha que é melhor para vocês.
– Não temos o que conversar. Eu a amo, mas não vou voltar para vida dela se isso significa atrapalhar o sonho pelo qual ela tanto lutou.
– Eu não acredito que você está mesmo dizendo isso. Não seja idiota, Alex – Natasha se alterou.
– Ei, não fale assim com sua irmã – Eduardo advertiu a garota que suspirava fundo tentando controlar a raiva.
– Pai, você não faz ideia de como foram esses anos vendo a Alex se destruir dia após dia, eu estive lá todo esse tempo então eu tenho o direito de dizer que ela está sendo idiota. Ela nunca se perdoou pelo que fez e não seguiu em frente.
– Eu segui em frente, Natasha – Alex levou da cama e encarou a irmã. – Eu estudei, tenho uma profissão, um trabalho que eu sempre sonhei. Eu não deixei de viver só porque não estava mais com uma garota. Me desculpa se eu não sou feliz o suficiente de acordo com o que você acha que é felicidade. Não é porque eu não tenho um amor em cada esquina que eu não sou feliz.
- Você tem razão, meus padrões são altos e pra mim felicidade é mais do que a vida sem graça e robótica que você leva, com medo de se entregar e fugindo das pessoas que se importam com você quando as coisas ficam difíceis.
– Eu não fujo quando as coisas ficam difíceis – Alex tentou se defender.
- Não? Você veio para Brasília porque não conseguia aguentar o que aconteceu no Canadá e fugiu da Emma, depois se mudou para São Paulo para ficar longe da Júlia e de toda tristeza entre vocês. Alcatraz seria seu parque de diversões, você é uma especialista em fugas, Alex.
– Eu fiz escolhas, Natasha. Escolhas que me levam para longe da dor. Isso não é fugir.
– Sei que dói e odeio te dizer isso, mas dor é um sinal de que você está viva. Você precisa começar a sustentar as suas escolhas, mesmo que elas não sejam o que você esperava.
– Eu sustento minhas escolhas! Na verdade isso é muito engraçado vindo logo de você, uma pessoa que é tão infeliz no casamento e que precisa dormir com a minha secretária para sentir um pouco de paz e é tão covarde ao ponto de usar a desculpa de amor livre. Você deveria se preocupar com suas próprias escolhas e parar de tentar resolver a minha vida.
– Alex, pare com isso – Eduardo que observava apreensivo se intrometeu na conversa que começava a atingir níveis extremos de violência passivo-agressiva – já chega.
– Não pai, eu não vou parar. Eu estou cansada de ouvir os sermões da Natasha. Ela acha que sabe o que é melhor pra mim, mas olha só, surpresa: ELA NÃO SABE. Eu que fui estuprada, eu que entrei em um relacionamento complicado, eu que me envolvi com uma garota por amor e não por uma brincadeira, eu que sofri por anos lidando com as consequências de uma maldita carta, eu que me reconstruí enquanto a Natasha brinca de casinha com o Tiago e usa minha secretária. – Alex disse entre gritos e um choro que estava entalado – Então não, ela não tem o direito de dizer que eu fujo das coisas, não enquanto eu estive aqui lidando com essa merda toda.
Natasha desacreditada de tudo que ouvira encarou a irmã e sem dizer uma palavra saiu do quarto. Alex a viu sair e aos prantos se jogou na cama.
- Eu não queria dizer isso, me perdoa pai – Alex pediu ao se dar conta do que havia acabado de falar. – Não sei o que me deu. Eu simplesmente explodi. Não queria ter dito essas coisas.
- Não é para mim que você tem que pedir desculpas, filha – Eduardo disse acariciando os cabelos da menina. – Eu sei que você está triste, mas sua irmã não merecia isso.
- Eu sei, eu sou uma idiota. A Natasha é a melhor coisa da minha vida, eu não teria aguentado nada disso sem ela – Alex respirou fundo e esfregou os olhos com as mãos fechadas. – Preciso me desculpar.
- Dê um tempo, ela não vai querer te ouvir agora.
- Você tem razão, o que eu faço enquanto isso?
- Que tal dar um pouco de carinho para o seu pai que está convalescendo?
- Meu Deus, pai! Você teve um infarto – Alex subitamente se lembrou do motivo de estar ali. – Você quase morreu e eu estou aqui criando um caos no seu quarto de hospital.
- Tudo bem, filha – Eduardo disse compassivo - quando se trata de você e sua irmã, eu não poderia esperar e nem ao menos querer nada menos que um encontro que teste o meu sistema cardíaco.
E ai, pessoal, o que estão achando da história? Se possível, deixe seu voto nos capítulos pra eu saber quem está acompanhando. Beijos ;)
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O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)
RomanceJúlia era uma garota absurdamente comum. Tudo em sua vida a levava para o futuro que ela sonhava desde que era criança: ser uma jogadora de vôlei e passar o resto dos seus dias ao lado do seu namorado. Mas quando uma garota nova chega na escola e me...