Capítulo 19 - Às vezes acho que nasci só para me meter na vida da Alex.

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A semana passou e Júlia tentava encontrar uma maneira de não pensar no encontro com Alex e em suas últimas palavras.

Exponencialmente.

Aquela expressão parecia tomar conta de todos os seus pensamentos e a deixava extremamente irritada. Se Alex realmente sentira sua falta então porque simplesmente não a procurou?

Os últimos cincos anos de sua vida foram como uma espécie de coma. Júlia conquistou tudo o que sonhara, mas nada a fazia feliz. O coração em seu peito parecia sentir a dor de ser constantemente esmagado. A garota tentara se relacionar com algumas pessoas, mas depois de alguns meses quando as coisas começavam a ficar sérias, ela desistia e desaparecia sem deixar explicações. Sua capacidade de confiar estava destruída e a impedia de ter qualquer envolvimento. Ela já não ligava mais para isso, estava acostumada a ficar sozinha. Quando se assumiu para seus pais e eles a expulsaram de casa, a garota também perdeu grande parte dos seus amigos. Tudo que lhe restara era seu talento para levantar bolas e Paçoca.

Júlia balançou a cabeça para se livrar dos pensamentos que insistiam em voltar para Alex e em como ela ficava extremamente sexy usando aquele jaleco.

- Ok, já chega – Júlia disse para si mesma em voz alta, forçando-se a se concentrar no problema que tinha pela frente.

A segunda fase do Grand Prix seria disputada em Cuba e Júlia embarcaria em três dias. O único problema era que a garota não conseguia encontrar um lugar onde pudesse deixar Paçoca. Era julho e a maioria das pessoas que viajavam de férias deixavam seus animais nas hospedagens em clínicas veterinárias. Júlia passara a manhã inteira no telefone e ainda não conseguira uma vaga para Paçoca.

- O que eu vou fazer com você? – Júlia acariciou o cachorro que deitou em seus pés, alheio a tudo o que estava acontecendo.

A menina discou mais alguns números antes de desistir e se jogar no sofá entre as almofadas.

- Não acredito que vou fazer isso – Julia gemeu e novamente pegou o telefone. Não queria ter que pedir ajuda, mas diante daquelas circunstâncias foi obrigada a ligar para a única pessoa que poderia lhe ajudar.

- Júlia, que surpresa!

- Oi, desculpa te incomodar, não sei se deveria ter ligado, mas preciso de um favor – Júlia disse ao ouvir a voz do outro lado e contendo-se para não desligar o telefone em um ato de desespero.

- O que você manda?

- Eu viajo na quinta-Feira e não consegui um hotel para o Paçoca, não sei mais a quem recorrer. Não posso deixá-lo sozinho, preciso da sua ajuda.

- Deixa eu ver se entendi direito, você quer que eu cuide do seu cachorro enquanto você está fora?

- Sim – Júlia respondeu receosa. Sabia que aquilo não era uma boa ideia.

- Você ficou maluca?

- Natasha, por favor. Eu não tenho mais ninguém a quem pedir, você é uma das poucas pessoas que eu conheço nessa cidade e minha única amiga – Júlia constatou com tristeza.

- Júh, você já parou para pensar que isso pode não ser uma ideia muito sensata? Não sei se você se lembra, mas eu não sou a pessoa mais indicada para lidar com cachorros.

- É claro que eu me lembro, mas eu não pediria se não fosse importante.

- Você já falou com a Alex? Por motivos óbvios ela é uma escolha muito mais confiável.

- Não. Eu não quero envolver a Alex nisso. Quero mantê-la o mais longe possível da minha vida. Por favor, Nat.

- Tá legal – Natasha respondeu enquanto bolava um dos seus planos. – Eu cuido do pulguento. Mas quero um favor em troca.

- Qualquer coisa – Júlia disse e imediatamente se arrependeu. Sabia que não era muito sábio conceder um pedido assim para Natasha.

- Quero o telefone da Bia – Natasha disse sem pestanejar.

- Não.

- Você disse qualquer coisa.

- Qualquer coisa menos o telefone da Bia. Afinal de contas o que você quer com ela? Pensei que você estivesse casada.

- Casada, não morta.

- Natasha, a Bia está jogando em um time da Holanda. Não acho que falar com você é o que ela precisa nesse momento.

- Ok, então eu quero almoçar com você.

- Hum – Júlia pensou de quantas maneiras aquilo poderia ser suspeito. – Por um acaso você está atraída por mim?

- Urgh! Não, que horror – Natasha respondeu fazendo uma careta. - Quero almoçar com você para colocar o papo em dia. Saber o que você fez nos últimos anos. Apesar de tudo nós somos amigas, não somos?

- Somos – Júlia respondeu ainda pensando onde é que estava se metendo. Olhou para Paçoca e o cachorro se espreguiçou com um olhar doce. – Tá legal, almoçamos juntas.

- Isso! – Natasha comemorou pensando nas maneiras de fazer seu plano dar certo. – Passo na sua casa na quarta para pegar o vira-lata e vamos a um restaurante aí perto na Paulista.

- Como você sabe onde eu moro? – Júlia perguntou desconfiada. Mudara-se há poucas semanas e nem mesmo sua equipe técnica tinha seu endereço.

- Ahn, eu li a ficha de registro do Paçoca no consultório da Alex outro dia – Natasha improvisou torcendo para que realmente esse dado estivesse na ficha do cachorro.

- Certo – Júlia não se lembrava de ter preenchido nada, mas sabia que havia respondido algumas perguntas de Lara enquanto Alex examinava Paçoca, provavelmente havia dito seu endereço.

- Ótimo! Te vejo em breve – Natasha desligou antes que se enrolasse mais.

Natasha andou de um lado para o outro em sua sala. Tiago estava sentando em uma cadeira trabalhando em um desenho.

- Ti, você acredita em amor adolescente? – Natasha perguntou pensativa.

- É claro que eu acredito, você é meu amor adolescente – Tiago respondeu levantando os olhos do desenho. – Nos conhecemos um pouco depois disso, mas quando se trata de amor, somos dois adolescentes.

- Você tem razão – Natasha sentou-se no colo do rapaz que já esquecera o que estava desenhando e concentrou-se na morena em sua frente. – Por que as pessoas complicam tanto o amor?

- Não sei, mas se eu pudesse apostar diria que é por medo.

- Medo?

- O amor é uma força poderosa, ele é capaz de transformar vidas. Algumas pessoas tem razão em temer – Tiago disse pensativo. Natasha adorava quando ele fazia aquela cara e se derretia.

- Isso mesmo, Ti. Nem todo mundo foi feito para viver um amor. Mas eu conheço duas pessoas que foram.

- E você vai ajudá-las a entenderem isso? – Tiago perguntou erguendo uma sobrancelha. Conhecia Natasha o suficiente para saber que a menina não descansaria enquanto não executasse o que estava planejando.

- O que mais eu posso fazer? Às vezes eu acho que nasci só para me meter na vida da Alex.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora