A semana passou e Júlia tentava encontrar uma maneira de não pensar no encontro com Alex e em suas últimas palavras.
Exponencialmente.
Aquela expressão parecia tomar conta de todos os seus pensamentos e a deixava extremamente irritada. Se Alex realmente sentira sua falta então porque simplesmente não a procurou?
Os últimos cincos anos de sua vida foram como uma espécie de coma. Júlia conquistou tudo o que sonhara, mas nada a fazia feliz. O coração em seu peito parecia sentir a dor de ser constantemente esmagado. A garota tentara se relacionar com algumas pessoas, mas depois de alguns meses quando as coisas começavam a ficar sérias, ela desistia e desaparecia sem deixar explicações. Sua capacidade de confiar estava destruída e a impedia de ter qualquer envolvimento. Ela já não ligava mais para isso, estava acostumada a ficar sozinha. Quando se assumiu para seus pais e eles a expulsaram de casa, a garota também perdeu grande parte dos seus amigos. Tudo que lhe restara era seu talento para levantar bolas e Paçoca.
Júlia balançou a cabeça para se livrar dos pensamentos que insistiam em voltar para Alex e em como ela ficava extremamente sexy usando aquele jaleco.
- Ok, já chega – Júlia disse para si mesma em voz alta, forçando-se a se concentrar no problema que tinha pela frente.
A segunda fase do Grand Prix seria disputada em Cuba e Júlia embarcaria em três dias. O único problema era que a garota não conseguia encontrar um lugar onde pudesse deixar Paçoca. Era julho e a maioria das pessoas que viajavam de férias deixavam seus animais nas hospedagens em clínicas veterinárias. Júlia passara a manhã inteira no telefone e ainda não conseguira uma vaga para Paçoca.
- O que eu vou fazer com você? – Júlia acariciou o cachorro que deitou em seus pés, alheio a tudo o que estava acontecendo.
A menina discou mais alguns números antes de desistir e se jogar no sofá entre as almofadas.
- Não acredito que vou fazer isso – Julia gemeu e novamente pegou o telefone. Não queria ter que pedir ajuda, mas diante daquelas circunstâncias foi obrigada a ligar para a única pessoa que poderia lhe ajudar.
- Júlia, que surpresa!
- Oi, desculpa te incomodar, não sei se deveria ter ligado, mas preciso de um favor – Júlia disse ao ouvir a voz do outro lado e contendo-se para não desligar o telefone em um ato de desespero.
- O que você manda?
- Eu viajo na quinta-Feira e não consegui um hotel para o Paçoca, não sei mais a quem recorrer. Não posso deixá-lo sozinho, preciso da sua ajuda.
- Deixa eu ver se entendi direito, você quer que eu cuide do seu cachorro enquanto você está fora?
- Sim – Júlia respondeu receosa. Sabia que aquilo não era uma boa ideia.
- Você ficou maluca?
- Natasha, por favor. Eu não tenho mais ninguém a quem pedir, você é uma das poucas pessoas que eu conheço nessa cidade e minha única amiga – Júlia constatou com tristeza.
- Júh, você já parou para pensar que isso pode não ser uma ideia muito sensata? Não sei se você se lembra, mas eu não sou a pessoa mais indicada para lidar com cachorros.
- É claro que eu me lembro, mas eu não pediria se não fosse importante.
- Você já falou com a Alex? Por motivos óbvios ela é uma escolha muito mais confiável.
- Não. Eu não quero envolver a Alex nisso. Quero mantê-la o mais longe possível da minha vida. Por favor, Nat.
- Tá legal – Natasha respondeu enquanto bolava um dos seus planos. – Eu cuido do pulguento. Mas quero um favor em troca.
- Qualquer coisa – Júlia disse e imediatamente se arrependeu. Sabia que não era muito sábio conceder um pedido assim para Natasha.
- Quero o telefone da Bia – Natasha disse sem pestanejar.
- Não.
- Você disse qualquer coisa.
- Qualquer coisa menos o telefone da Bia. Afinal de contas o que você quer com ela? Pensei que você estivesse casada.
- Casada, não morta.
- Natasha, a Bia está jogando em um time da Holanda. Não acho que falar com você é o que ela precisa nesse momento.
- Ok, então eu quero almoçar com você.
- Hum – Júlia pensou de quantas maneiras aquilo poderia ser suspeito. – Por um acaso você está atraída por mim?
- Urgh! Não, que horror – Natasha respondeu fazendo uma careta. - Quero almoçar com você para colocar o papo em dia. Saber o que você fez nos últimos anos. Apesar de tudo nós somos amigas, não somos?
- Somos – Júlia respondeu ainda pensando onde é que estava se metendo. Olhou para Paçoca e o cachorro se espreguiçou com um olhar doce. – Tá legal, almoçamos juntas.
- Isso! – Natasha comemorou pensando nas maneiras de fazer seu plano dar certo. – Passo na sua casa na quarta para pegar o vira-lata e vamos a um restaurante aí perto na Paulista.
- Como você sabe onde eu moro? – Júlia perguntou desconfiada. Mudara-se há poucas semanas e nem mesmo sua equipe técnica tinha seu endereço.
- Ahn, eu li a ficha de registro do Paçoca no consultório da Alex outro dia – Natasha improvisou torcendo para que realmente esse dado estivesse na ficha do cachorro.
- Certo – Júlia não se lembrava de ter preenchido nada, mas sabia que havia respondido algumas perguntas de Lara enquanto Alex examinava Paçoca, provavelmente havia dito seu endereço.
- Ótimo! Te vejo em breve – Natasha desligou antes que se enrolasse mais.
Natasha andou de um lado para o outro em sua sala. Tiago estava sentando em uma cadeira trabalhando em um desenho.
- Ti, você acredita em amor adolescente? – Natasha perguntou pensativa.
- É claro que eu acredito, você é meu amor adolescente – Tiago respondeu levantando os olhos do desenho. – Nos conhecemos um pouco depois disso, mas quando se trata de amor, somos dois adolescentes.
- Você tem razão – Natasha sentou-se no colo do rapaz que já esquecera o que estava desenhando e concentrou-se na morena em sua frente. – Por que as pessoas complicam tanto o amor?
- Não sei, mas se eu pudesse apostar diria que é por medo.
- Medo?
- O amor é uma força poderosa, ele é capaz de transformar vidas. Algumas pessoas tem razão em temer – Tiago disse pensativo. Natasha adorava quando ele fazia aquela cara e se derretia.
- Isso mesmo, Ti. Nem todo mundo foi feito para viver um amor. Mas eu conheço duas pessoas que foram.
- E você vai ajudá-las a entenderem isso? – Tiago perguntou erguendo uma sobrancelha. Conhecia Natasha o suficiente para saber que a menina não descansaria enquanto não executasse o que estava planejando.
- O que mais eu posso fazer? Às vezes eu acho que nasci só para me meter na vida da Alex.
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O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)
RomanceJúlia era uma garota absurdamente comum. Tudo em sua vida a levava para o futuro que ela sonhava desde que era criança: ser uma jogadora de vôlei e passar o resto dos seus dias ao lado do seu namorado. Mas quando uma garota nova chega na escola e me...