Capítulo 14 - Natasha, por que você está gritando?

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5 anos depois

Alex entrou em casa e se jogou no sofá, pensou em assistir alguma coisa na televisão para tentar esquecer aquele dia.

Perdera dois pacientes e o choro desesperado das crianças a quem ela dera a triste notícia não saia da sua cabeça.

Aquela era definitivamente a pior parte da sua profissão, mas apesar de dias como aquele a menina adorava o que fazia.

Passara os últimos cinco anos se esforçando para ser uma boa profissional e sua clínica sempre cheia em São Paulo era a prova de que ela conseguira conquistar a confiança das pessoas e o carinho dos seus pacientes animais.

Alex passava pelos canais e não encontrou nada que prendesse a sua atenção. Desinteressadamente apertava os botões do controle quando uma imagem apareceu na tela e a paralisou.

Era Júlia.

O controle caiu de sua mão quando ela se deu conta de que sua ex-namorada estava sendo entrevistada para um programa de esportes.

Júlia havia recebido sua primeira convocação para a seleção brasileira e falava sobre como estava se sentindo ao representar o Brasil no Grand Prix de vôlei.

Alex se apressou em pegar o controle do chão e aumentar o volume da televisão.

– Estou muito feliz com essa primeira convocação. Estou preparada e com certeza vou dar o meu melhor para o time – Júlia falou uma frase decorada com um sorriso. Alex já não ouvia o que ela dizia, mas não conseguia tirar os olhos dela. Como é possível que ela estivesse tão diferente e ao mesmo tempo tão a mesma? Seu jeito de falar ainda era decidido e cheio de certeza. E seus olhos... Seus olhos ainda eram carregados daquela incrível imensidão azul que a fazia perder o juízo.

Desde que deixara Brasília no dia seguinte ao infarto de Gustavo, Alex nunca mais ouvira falar de Júlia. Ela deixou uma carta terminando tudo com Júlia e pedindo que a menina não lhe procurasse.

Apesar de duvidar que algum dia Júlia tivesse coragem, Alex ansiava para que a atleta vencesse o medo e fosse atrás dela. No fundo sabia que era uma espera inútil, mas ainda assim sua vida parecia atada ao passado.

A entrevista com Júlia acabara e Alex ainda não conseguia tirar os olhos da televisão. Seu coração batia acelerado e sua mente era bombardeada das lembranças boas que tivera ao lado da menina. A primeira festa que foram juntas, o primeiro beijo, a primeira noite de amor, as tardes preguiçosas embaixo das árvores no parque e certeza de que aquilo duraria para sempre.

Cinco anos se passaram e Alex não fora capaz de esquecer aquele frio no estômago e uma sensação de segurança que a invadia quando pensava em Júlia.

O telefone tocou tirando Alex da espécie de transe em que se encontrava, a menina levantou-se do sofá com um pulo e ainda assustada com sua reação atendeu ao telefone que insistentemente tocava.

– Alex?

– Oi, Emma – Alex reconheceu a voz do outro lado da linha.

– Estou na clínica, pensei que fosse me esperar para jantarmos juntas.

– Droga! – Alex havia se esquecido de que marcara de sair com a ex-namorada canadense. Era a terceira vez só naquela semana que furava com a menina – Me desculpa, Em. Tive um dia cheio e perdi dois pacientes.

– Tudo bem – Emma disse com um traço de tristeza na voz. – A gente marca outro dia.

– Desculpa mesmo. Vamos sair amanhã, eu te encontro na sua casa e nós vamos, pode ser?

– Pode sim – Emma pensou um pouco antes de responder, mas acabou concordando.

– Ótimo, nós vemos amanhã – Alex disse fingindo animação e desligou o telefone.

Emma viera morar no Brasil há dois anos e desde então tentava reconquistar Alex.

Algumas vezes pensava enxergar indícios de que a veterinária estava cedendo, mas na maioria das vezes Alex era fechada e não demonstrava sinais de que se envolveria novamente. E apesar das duas terem trocados alguns beijos, que Natasha classificou como carência e excesso de tesão acumulado, Alex não via como era possível se relacionar com Emma. Ou com qualquer outra pessoa.

Alex mal tivera tempo de desligar o telefone e ele voltou a tocar.

– VOCÊ A VIU? – Natasha gritou fazendo Alex afastar o telefone do ouvido assustada.

– Natasha, por que você está gritando? – Alex perguntou brava.

– Porque eu quero saber se você viu quem estava dando uma entrevista na televisão.

– Não precisava gritar, você pode falar comigo como uma pessoa normal, eu juro que não ligo – Alex respondeu sem se abalar.

– Você viu ou não? – Natasha voltou a perguntar quase perdendo a calma, mas dessa vez sem gritar.

– Se você quer saber se eu vi a Júlia, então sim. Eu a vi. O que tem isso?

– COMO ASSIM O QUE TEM ISSO? – Natasha voltou a gritar e Alex deu um pulo antes de quase largar o telefone no chão.

– Natasha, se você continuar gritando eu vou desligar. Por favor, recupere um pouquinho de senso se civilidade que eu tenho esperanças de que você ainda tenha guardado em algum lugar.

Sis, é a Júlia. A sua Júlia. Como você está tão calma? Eu quebrei três copos em menos de 10 minutos e ainda não consegui parar de tremer – Natasha exclamou exasperada.

– Ela não é minha Júlia. É a Júlia do Gustavo. E eu não estou calma, mas também não estou alvoroçada a ponto de gritar para televisão ou quebrar o único copo que eu ainda tenho – Alex confessou sem graça.

– Alex, como você pode ter certeza de que ela ainda está com Gustavo? Já se passaram cinco anos.

– Exatamente. Passaram-se cinco anos e ela não veio atrás de mim. A Júlia me esqueceu, Nat. E eu preciso fazer o mesmo, talvez esteja na hora de eu dar uma chance para Emma.

– Caso tenha esquecido, foi você quem foi embora e deixou uma carta pedindo para que ela não te procurasse – Natasha disse em um tom mordaz.

– Que ela teria ignorado se realmente gostasse de mim – Alex disse fazendo bico.

– Deixe de ser imatura e tente encontrá-la, quem sabe ela tem alguma coisa para te dizer.

– Não vou largar meus pacientes e ir para Brasília só porque ela apareceu na televisão e me despertou sentimentos – Alex disse mal-humorada.

– Você sempre foi lerda assim ou piorou depois que começou a conviver com esses cachorros fedorentos? A Júlia disse na entrevista que está morando aqui em São Paulo. Ela joga em um time do interior.

– Disse? – Alex perguntou espantava. Estava tão perdida nos olhos da menina que mal escutara o que ela dissera – Não importa, ela poderia ser minha vizinha que eu ainda não iria procurá-la.

Little sis, você realmente não viu que ela usava a aliança que você deu para ela na mão esquerda? – Natasha perguntou antes de desligar o telefone.

Alex correu para o computador e digitou Júlia Andrade em uma página de pesquisas.

Em todas as fotos e vídeos que a garota aparecia a aliança se destacava em sua mão esquerda. A aliança que Alex lhe dera no dia em que a abandonara. 

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora