Istambul se transformara em um cenário de terror, carros e tanques da polícia rondavam procurando sinais de ameaças de um novo ataque. Ambulâncias corriam pelas avenidas vazias, jornalistas desembarcavam aos montes e entes queridos se amontoavam nos estacionamentos dos hospitais esperando notícias. Entre eles estava Júlia, que já havia concedido dezenas de depoimentos e entrevistas sobre sua versão do atentado e quanto mais falava, menos entendia as motivações da crueldade a qual fora submetida.
Enquanto Alex passava pelo procedimento para remover a bala que se alojara, Júlia tentava descobrir onde estava Natasha e a cada minuto a falta de notícias fazia o aperto no peito crescer.
- Natasha Collins, 24 anos, canadense – Júlia procurava em mais uma lista feita por alguns voluntários que se organizavam em tendas na frente dos principais hospitais.
- Ela deu entrada no Medial Park Bahçesehir o estado é grave, porém estável – uma voluntária leu a informação que recebera após atualizar o tablet que segurava.
- Muito obrigada! – Júlia agradeceu com lágrimas nos olhos e disparou a procura de um táxi.
Júlia chegou ao hospital e após dar mais algumas entrevistas conseguiu ter notícias de Natasha.
- Ela passou por uma cirurgia e recebeu uma transfusão de sangue, está em observação, mas fora de perigo – a médica que operara Natasha trouxe as atualizações.
Uma mistura de alívio e emoção tomou conta de Júlia e a fez desabar em um comovente choro que fundia lágrimas com preces de agradecimento.
- Moça, você acabou de perguntar pela filha? – uma mulher loira que observava atentamente se aproximou de Júlia e a forçou a interromper o choro.
- Não – Júlia limpou a rosto com as duas mãos. – Eu estava procurando minha cunhada, irmã da minha noiva que está em outro hospital.
- Alex? Você sabe onde Alex está? – a mulher perguntou e Júlia balançou a cabeça confusa.
- Você conhece a Alex? Minha Alex?
- Ela é minha filha...
- Você é a mãe delas? Nem meus piores pesadelos chegam perto do que está sendo essa noite – Júlia respirou fundo e esfregou os olhos cansada. Não podia acreditar que depois de tudo a mulher ainda tinha coragem de tocar no nome de Alex.
- Eu errei com Alex e vim até aqui para pedir perdão.
- Olha, eu não sei se você reparou, mas acabamos de sobreviver a um ataque terrorista. Alex está em estado de choque, ver você não é exatamente a melhor coisa para ela agora. E Natasha acabou de sair de uma cirurgia, ainda não sabemos como ela vai acordar.
- Ela já acordou, eu estava com ela.
- Desculpa, o que você disse?
- Eu estava com Natasha depois da cirurgia, na verdade eu a tirei debaixo dos escombros do palco e a trouxe para o hospital, ela teve hemorragia interna e os médicos fizeram uma transfusão com o meu sangue – a mãe das meninas mostrou um pequeno curativo no braço.
- Espera aí, Natasha estava embaixo dos escombros? No palco?
- Sim, quando o ataque começou a correria fez o palco cair e ela foi soterrada. Eu assistia ao show de perto e consegui tirá-la de lá – a mulher falava com lágrimas nos olhos. – Mas não consegui achar Alex.
- Você salvou a vida dela – Júlia disse frágil. – Eu fui procurá-la e nem pensei em olhar sob os escombros.
- Por favor, me leve até Alex, prometo que não irei perturbá-la. Eu só preciso vê-la outra vez.
- Vou levá-la, Mariah – Júlia disse o nome o que Alex tanto evitava dizer quando contava sua história.
Mariah e Júlia atravessaram a cidade até o hospital onde Alex estava. O clima de terror e caos continuava o mesmo e conforme o número de mortos aumentava, o choro desesperador tomava conta das tendas de informações.
- Meu amor – Júlia se jogou nos braços de Alex que estava se recuperando em uma maca improvisada em um dos corredores do hospital. – como você está?
- Estou bem – Alex tentou se levantar, mas a dor na perna a impediu. – E você? Está ferida?
- Não. Só preciso de um banho, mas não consigo pensar nisso agora – Júlia alisou os cabelos empoeirados de Alex e não conseguia conter as lágrimas de alívio.
- Você a encontrou? – Alex também chorava e temia pela resposta de ouviria.
- Sim, ela passou por uma cirurgia e está fora de perigo. Ainda não pude vê-la, mas a médica me garantiu que assim que for possível me deixará entrar.
Alex afundou a cabeça nos cabelos de Júlia e se deixou desabar.
- E suas amigas? – Perguntou entre soluços.
- Estela e Bia estão bem, só alguns arranhões – Júlia fez uma dura pausa. – Nicole não resistiu. Valéria está localizando a família dela.
- Eu sinto muito – Alex chorava cada vez mais alto - É tudo culpa minha. Vocês não estariam lá se não fosse por mim e essa ideia idiota.
- Amor, você não colocou uma metralhadora nos ombros e saiu atirando em pessoas inocentes, nada disso é culpa sua. E vou repetir isso quantas vezes forem precisas.
- Preciso avisar meu pai, o Tiago e a Lara – Alex limpou os olhos com a costa da mão.
- Já cuidei disso. A embaixada brasileira está estudando a viabilidade de trazer algum deles para dar suporte aqui depois que a possibilidade de novos ataques for descartada.
- Obrigada. Obrigada por tudo, Juh. Você salvou a minha vida e se arriscou procurando pela Natasha ...
- Xiiu! – Júlia interrompeu Alex com um beijo. – Eu não fiz nada, mas a verdade é que alguém salvou a vida de Natasha e acho que você vai querer agradecê-la.
- De quem você está falando? – Alex pensou nas dezenas de bombeiros e policiais que viu ao sair da boate e sentiu-se grata pelo trabalho de cada um deles.
- Quero que saiba que eu só aceitei trazê-la porque acho que você merece saber quem foi a responsável por salvar a vida da sua irmã. Foi ela quem tirou Natasha da boate e a doadora de sangue que proporcionou que fizessem a cirurgia – Júlia disse tensa - Prometa que não vai surtar.
- Ai meu Deus! – Alex sabia exatamente a quem aquela expressão estava ligada. – Não me diga que ela está aqui.
- Oi, filha – Mariah aproximou-se da maca de Alex e a estendeu os braços na esperança de um abraço. – Eu sinto muito.
Alex olhou para Júlia e teve ciência da terrível sensação que queimava em seu peito desde o momento em que achou que fosse perdê-la. Pensou em Natasha sozinha e ferida em algum hospital sem saber o que estava acontecendo e lembrou-se de Nicole. A garota que não chegara a conhecer, e que tivera seu sorriso interrompido pela violenta e destruidora força do ódio. E em meio a lágrimas de dor e perdão, se deixou cair nos braços da mãe.
- Eu te perdoo.
E ai, pessoal, o que estão achando da história? Se possível, deixe seu voto nos capítulos pra eu saber quem está acompanhando. Beijos ;)
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O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)
RomanceJúlia era uma garota absurdamente comum. Tudo em sua vida a levava para o futuro que ela sonhava desde que era criança: ser uma jogadora de vôlei e passar o resto dos seus dias ao lado do seu namorado. Mas quando uma garota nova chega na escola e me...