Capítulo 35 - Pra começar preciso do seu cartão de crédito.

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- É claro que não vou – Alex disse olhando no fundo dos olhos da irmã.

- Ufa! – Natasha levou uma mão ao coração, respirou aliviada e recomeçou a andar pelo saguão do aeroporto.

- Nós vamos.

- O que você disse? – Natasha parou bruscamente e colidiu com um grupo de turistas gringos que acabava de desembarcar e olhavam as gêmeas com curiosidade - I'm so sorry. My sister is losing her mind.

- Você vai comigo – Alex puxou Natasha que ainda se desculpava e a conduziu para longe do grupo. - Vou pedir a Júlia em casamento durante o recesso de final de ano do campeonato. Ela não pode vir, mas nós podemos ir.

- Ahn, me deixa ver se entendi direito. Você quer pedir sua namorada, sua namorada lésbica, totalmente lésbica, em casamento em um país onde o governo proibiu por três anos seguidos a parada do orgulho LGBT e fez a polícia prender ativistas e reagir a manifestação com violência e repressão, é isso?

- Isso – Alex respondeu orgulhosa.

- Ok, você sabe que 99% da população turca é muçulmana? E que apesar da homossexualidade não ser considerada crime na Turquia ela não é exatamente bem vista?

- Sei – Alex não se abalou com as informações de Natasha.

- Então por que diabos você quer pedi-la em casamento lá? O casamento homoafetivo nem é legalizado na Turquia. Alex, você pirou de vez? Zero chances de isso dar certo. Você pode morrer!

- Eu acho que será interessante, faz parte da nossa história e de tudo o sonhamos e o que não vivemos, mas que agora podemos fazer ser realidade – Alex respondeu calmamente.

- Vão para o Canadá! Apresente-a para nossa família, faça um pedido na Torre CN, será lindo. Nossos primos vão adorar e você vai ser o assunto do Natal por uma década. Ou melhor, peça aqui em São Paulo, o lugar onde vocês se reencontraram, essa cidade linda e gay friendly que todas nós amamos viver. Se achar entediante, vá para Brasília, faça um cenário no parque. Se ainda não for suficiente tente Goiânia, Belo Horizonte, até Tel Aviv, mas pelo amor de Deus, não faça isso na Turquia. Estamos no Brasil, aproveite esse lugar maravilhoso onde você pode ser e se casar com uma lésbica e faça o pedido aqui.

- Você está exagerando.

- Alex! Em alguns países pessoas morrem somente por serem quem são, você não pode simplesmente chegar lá e...

- Nat, eu agradeço a sua preocupação, realmente agradeço, mas isso não vai me impedir. Você sabia que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo? E que a cada 25 horas um LGBT é assassinado aqui?

- São situações diferentes, não dá para comparar as duas realidades.

- Não tem nada de diferente, Natasha. Se você quer falar sobre realidades, infelizmente a única que temos é que homofóbicos existem e são violentos. Seja aqui no Brasil, na Turquia ou no Canadá. Espero que um dia essas pessoas se preocupem mais consigo mesmas e menos com a vida dos outros, mas esse dia ainda não chegou e enquanto isso eu não vou deixar que elas me aterrorizem aqui e nem em nenhum outro lugar. Relaxa, eu sei o que estou fazendo.

- Alex... – Natasha disse exaurida e coçou a cabeça. – Não importa o que eu diga, você está decidida, não é mesmo?

- Estou. Você vai me ajudar ou eu vou ter que me virar sozinha?

- Tá legal, eu vou te ajudar, mas você vai ligar para o pai e dizer que a ideia foi totalmente sua e que eu não tenho nada a ver com isso.

- Eu faço isso quando chegarmos em casa, prometo que assumo toda a responsabilidade.

O céu em seus olhos - Romance Lésbico (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora