Descemos para o refeitório que era um lugar imenso e pavoroso. Três mesas compridas se estendiam entre o salão. A frente delas uma cozinheira robusta de cabelos vermelhos e com sardas abaixo dos olhos servia as alunas retirando de algumas tigelas fumegantes uma gororoba viscosa e pouco convidativa.
Laura estava na minha frente na fila. Eu e ela não havíamos conversado muito desde que saímos do dormitório, ela praticamente se arrastou até lá, gemendo de dor. A vez de Laura chegou e ela se aproximou da mulher ruiva. Laura sorriu e falou:
— Boa noite, dona Carlota.
A mulher que logo julguei se chamar Carlota retribuiu o sorriso e colocou duas colheres cheias de arroz empapado, uma colher de purê de batata que estava viscoso e que se parecia com uma meleca amarela, e um bife queimado no prato dela. Laura agradeceu e virou-se para mim que estendi o meu prato de ferro ágata para Carlota.
— Essa é Sofia, Carlota.
Laura falou assim que percebeu que a mulher me olhara com estranheza. Ela me olhou de cima abaixo e grunhiu. Dei um sorriso amarelo e ela colocou a comida nada apetitosa no meu prato.
— Você se acostuma com a comida daqui — Laura sussurrou quando saímos da fila e nos dirigimos a um bebedouro para encher nossas canecas de água.
Eu a segui até a ponta de uma das mesas de madeira e me apertei para caber no banco já que estava abarrotado de garotas, todas devidamente vestidas e devorando a comida feito loucas. Abaixei a cabeça e encarei o meu prato quando percebi que um grupo de alunas que pareciam ser mais novas me olhavam com curiosidade.
— Sabe — Laura falou enchendo a boca de comida —, nós não temos lanche aqui. Só fazemos tlês refeições por dia, por isso não ligue se notar que deixamos a etiqueta de lado e estamos devolando a comida como animais selvagens. A plopósito é melhor você comer rápido, porque aqui ninguém pode repetir, então é melhor não deixar o seu plato de comida dando sopá.
— Obrigada. — Sorri sem jeito enchendo o garfo com uma quantidade mínima de arroz. Só de olhar para aquela comida o meu estômago revirava. Um sentimento nostálgico bateu em meu peito, senti saudades da comida da Maria, do seu tempero tipicamente nordestino e da sua maravilhosa torta de frango. O que Maria estaria fazendo agora que não trabalhava mais para mamãe?
— Você é de onde? — Laura perguntou com a boca cheia, fiquei feliz em ver que ela estava se esforçando para me conhecer. Sorri. Era a minha vez de me esforçar também.
— Sou de São Paulo — respondi animada.
— São Paulo? E o que veio fazer nesse fim de mundo?
— Minha mãe estudou aqui, ela acha que vai ser bom pra mim — respondi e logo em seguida bebi um gole d'água. O que a minha mãe estaria fazendo agora?
— Minha mãe também — Laura falou animada. — Minha mãe é médica.
— Nossa que legal. A minha é professora de dança.
— Então, você vai escolher balé como opção pra Educação física? — inquiriu.
— Não — falei —, vou fazer natação. Não sou uma boa dançarina.
— Eu e a maiolia das meninas fazemos ballet, mas você vai gostar do Lucas o professor de natação. Ele chegou a ser cotado para as olimpíadas.
— Sério? Uau — falei admirada.
— Sim, mas ele teve uma contusão e aí você já viu. Teve que dar adeus a plofissão e voltar pla esse fim de mundo.
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Estrelas de Papel (Disponível na amazon)
Fantasy1970. Ditadura militar. Sofia é mandada para um colégio interno no interior de São Paulo. Triste por ter sido separada da família, a jovem de 17 anos se vê desamparada em um colégio extremamente autoritário. Entretanto, o que mais intriga Sofi...