CAPÍTULO ONZE: Um bilhete estranho

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ANITA.

Minhas mãos tocaram no papel enrugado, sentindo a caligrafia grossa e carrancuda desenhadas de forma rude. As letras cingiam o papel amassado e se atrelaram compondo o nome de Anita. Um leve calafrio subiu pelas minhas costas. De certa forma, eu sabia que aquilo não era algo bom. Aquela estrela que estava ali, abandonada em cima da minha cama era similar a estrela que jazia na lápide de Melissa Rangel, a garota que o Monstro derrubou da torre e que o seu sangue varreu o mato úmido que rodeava o internato.

Meus olhos correram pelo quarto. Luiza e Cida riam animadamente enquanto Anita preparava sua roupa para o banho da tarde. Laura deitou na cama. Ela parecia cansada se mexendo para um lado e para outro, resmungando algo imperceptível.

Suspirei alto, provavelmente aquilo era coisa da Anita. Afinal era o nome dela que estava escrito no papel de forma grosseira e não o meu, mas porque diabos aquilo estava na minha cama? Resolvi perguntar diretamente para a dona daquele bilhete estranho.

— Anita. — Caminhei até a outra extremidade do quarto apertando a estrela que se desmontará na minha mão esquerda. — Acredito que isso seja pra você.

Anita me olhou com uma sobrancelha arqueada e a testa franzida, eu lhe entreguei o papel amassado e ela o leu um pouco incrédula.

— Tinha o formato de uma estrela, igual àquela que estava mais cedo no túmulo... — Tapei a boca antes de concluir a frase. Que idiotice a minha dizer aquilo para ela. Anita inclinou o corpo e apoiou os cotovelos no joelho enquanto dobrava novamente o papel formando outra vez uma estrela. Ela ergueu os olhos e olhou diretamente para mim. Seus olhos verdes pareciam duas pedras de gelo me congelando lentamente. As demais meninas se silenciaram prestando atenção na nossa conversa. Eu vi quando Laura ergueu a cabeça e a inclinou na nossa direção com a boca entreaberta como se estivesse esperando o pior e se preparando para separar uma briga se fosse necessário.

Anita franziu o cenho e cerrou o punho. Dei um passo para trás por precaução. Eu não queria brigar. Só estava desfazendo um mal-entendido. Ela levantou da cama ficando assim frente a frente comigo. Amassou o papel furiosa o transformando em uma bola amassada e o tacou no meu rosto de forma brusca, com tanta força para acertar e ferir as maçãs do meu rosto.

— Idiota! — ela gritou. — Você passou dos limites!

— O que está dizendo? — perguntei chocada sentindo o sangue ferver no meu rosto. — Eu achei esse papel na minha cama, só estava querendo ajudar já que ele estava endereçado a você.

— Acha mesmo que eu vou acreditar nisso? — Ela cruzou os braços, seu tom de voz demonstrava toda a sua fúria. — Você é uma cretina! Cínica! Desde que a Mel morreu essas malditas estrelas aparecem no túmulo dela. E você, enxerida do que jeito que é, viu mais cedo uma dessas estrelas e resolveu copiar só pelo prazer de me amedrontar. Mas saiba que eu não sou burra como essas daí que acreditam que você é uma santa com essa sua cara de sonsa. Eu sei quem é você, Sofia. E sei que você não veio pra cá só porque o seu pai morreu. Eu sinto cheiro de mentira e podridão de longe.

— Anita, quem está passando dos limites aqui é você — Luiza se intrometeu.

— Cale a boca sua estupida! Essa sonsa aí está tentando zombar de mim. Me pregar uma peça. Todo mundo diz que quem coloca essas malditas estrelas no túmulo da minha irmã é o Monstro. Ela com certeza ficou sabendo disso e veio querer me atazanar.

— É mentira. — Tentei me defender. Meu coração batia acelerado. Eu não tinha escrito aquele bilhete para assusta-la e me irritava ser acusada daquele jeito.

— Anita, Sofia tem razão. Ela estava o tempo todo conosco, como iria conseguir fazer tudo isso sem que nenhuma de nós percebêssemos?

— Vocês estão cegas por acaso? Ela está mentindo. Vai saber se ela não mentiu sobre ter visto o Monstro também? Eu conversei com a Sarah e ela me disse que não estava fugindo do Monstro.

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