Bout You

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  Tão calmo como sempre fazia, DongHae entrou no quarto de cores apáticas e angustiantes fechando a porta atrás de si e encarando por alguns segundos o corpo que o sol fazia quase questão de ilustrar pela janela.

  -Bom dia, Hyuk. -Sussurrou caminhando com seu típico nervosismo em estar perto dele, com sua tão comum sensação de rebuliço tomando conta de seu estômago e seu peito parecia demasiado para as sensações contidas.  Sentia-se até mesmo agoniado pelo tamanho de seu nervosismo.

   Debruçou seu magro corpo e com uma ternura que nunca o abandonou,  beijou os cabelos de EunHyuk,  sorrindo enquanto se sentava na poltrona que ele mesmo havia levado até ali para seu conforto.  Deixou a sutil pilha de livros em seu colo,  destacando um caderno de capa velha e folhas tolerantemente amarelas.

  -Olhando agora... - murmurou baixinho encarando a estante de livros do outro lado do quarto. - Nós lemos uma quantia bem numerosa de livros.

   Lembrava-se com perfeição de todas as histórias que diariamente leu para Eunhyuk,  mas que nunca produziram o efeito que chorava pela ansiedade em receber.

  DongHae  segurou com delicadeza  a mão do maior,  entrelaçando seus dedos enquanto que sua outra mão abria seu diário.  Sorrindo como de costume,  observou o rosto de Eunhyuk, mudanças que apenas ele parecia anotar, Eunhyuk havia emagrecido consideravelmente,  sua pele sempre tão morena tornava-se alvo pelo tempo que passava naquela cama,  em seus braços havia marcas das agulhas e tristemente decoradas com tubos.  Entretanto a aliança reluzente permanecia em seu dedo anelar.

  DongHae era periodicamente abordado por enfermeiros ou médicos lhe perguntando por que continuava a visitar Eunhyuk  diariamente, mas DongHae  não  respondia,  nunca respondeu algo que sanasse as curiosidades. Donghae apenas continuava a ler livros para Eunhyuk, pausando e perguntando se fazia sentido em terminada parte da história,  tendo como resposta um "não" tão doce e silencioso.  Continuava com uma esperança invejável que muitos naquele hospital haviam deixado de ter. Continuava todo dia, após sua voz findar uma história,  esperando que houvesse resposta para aquele sono tão duradouro.

    Mas não tinha.

   Todos os dias, na exata mesma hora, Donghae aparecia no hospital e sorria apenas quando atravessava o batente do quarto de numeração 22.

   - Eunhyuk, hoje vou lhe contar uma história diferente... -Disse baixinho abrindo com sua mão livre o diário, e ainda baixinho ele começou a ler.

   "Sinceramente? Eu ao menos sei como carrego tantas forças, mas ainda assim as carrego. Não sei muito bem porque, mas talvez, Eunhyuk,  essa história possa lhe fazer acordar e sorrir novamente para mim...  Como antigamente.  Eu espero que com a história que lhe contarei,  você acorde com um dejavú de incentivo.  Então... decidi relatar para você nossa história."

  Há momentos em que você simplesmente para o que faz e pensa, simplesmente pensa.  Dá um tempo em tudo à sua volta e, caso houver algo rondando  sua mente, será esse assunto que simplesmente  divagará sobre.

   Naquela noite, eu encontrava-me em um desses momentos.

    É cômico o quanto o desespero lhe aflige quando algo estupidamente simples torna-se um problema. Aos olhos de alheios os problemas que você carrega, aqueles que lhe assombram, são coisas fúteis e fáceis de resolver. É apenas o pensar constante sobre tal problema que o faz ser tão complicado. Talvez por isso exista pessoas impulsivas, afinal, não pensar e apenas agir tem seu lado bom... Não há desistência por parecer complicado.

   Eu, por exemplo, não era impulsivo e por esse motivo eu sempre desistia de bater de frente com meu doce problema. É nesses momentos que você não nota o quão estúpido é, por naquele momento em que teve chances, não resolveu.  Talvez naquela chance fosse o momento perfeito para se resolver.

    Sentado na beira da minha cama, mexia minhas mãos freneticamente sentindo a agonia me corroer...  A incerteza me fez diversas vezes desistir de enfrentar meu doce problema.

   Doce problema.  O defini pela situação que me encontrava, ser tão afável ao ponto de ao fim de uma tarde com ele,  mesmo que infantilmente jogar me na cama e repassar momentos em minha mente como flashes, como naqueles filmes piegas e caminhando junto ao afável,  algo me corroia por não ser exatamente o que desejava, fazendo me achar que era apenas um iludido.

    Fugir daquele problema fazendo mais de um ano completo, sendo frustrante. Deverás. Aliás, estar apaixonado é frustrante.

    "Não há escolha por quem se apaixonar."

    Definitivamente essa frase encaixa-se em qualquer relacionamento amoroso, sem exceções.  De qualquer forma não há modos de escolher se apaixonar e é nesse sutil detalhe que tudo se torna mais intenso e divertido.

   Afinal, qual seria a graça em encontrar alguém sem a mínima ajuda do destino, seria algo um tanto quanto...  Robótico.

   Sempre me mantive dizendo que, em cada paixão, há sua complicação e barreira que lhe faz se empenhar e realmente ter a certeza se sua paixão é grande o suficiente para dedicar-se.

Complicações e barreiras....

Também chamava isso de doce problema. Afinal, eu convivia dia-a-dia com um. Não que tivesse fazendo o papel de dramático em não ter o que tanto desejava e amava, de forma alguma.

   Não saber se minha paixão compartilhava do mesmo sentimento era algo que me trazia um sentimento de frustração e naqueles momentos era onde tinha meus, não frequentes, surtos de coragem para ir falar com ele.

    Nunca fui poético para me expressar da maneira que desejava, então faço-lhe da maneira que me parece afável tanto quanto. Entretanto ainda me permito arriscar.

  EunHyuk

Sempre achei seu nome exótico e pertencente a um único dono.  Tinha certeza que se encontrasse um Eunhyuk durante minha vida,  ele nunca teria a afável beleza de tal nome.  Único.  Assim como ele, exótico e único.  Não que para o definir eu tenha o comparado a alguém,  afinal, minhas amizades eram um tanto quanto escassas. Eunhyuk vinha sendo meu melhor amigo desde a morte de meus pais.  Na época que minha felicidade reiniciou-se,  vivíamos em um orfanato na capital coreana e Eunhyuk tornou-se meu melhor amigo desde o momento em que ele próprio fora falar comigo,  afinal,  um garoto de 15 anos que perde seus pais não é muito sociável. Hyuk sempre cuidou de mim,  me dando tudo o que precisava e sempre me perguntei se ele apenas não estava esperando por alguém que também entendesse,  se fosse isso,  havia o encontrado.  Alguém difícil de lidar,  mesmo tendo tantos amigos,  ainda era alguém complicado. Eunhyuk  estava envolto de tantas pessoas que não resistiam a sua encantadora presença que incontáveis vezes, pegava-me perguntando se seria passageiro. 

   
     E naquela época ser apenas um rascunho borrado do passado vinha tornando-se mais provável de se concretizar, pois seu melhor amigo estava apaixonado incondicionalmente por ele.

Eunhyuk era o cúmulo da complexidade, mas admito que sempre apreciei isso. Sempre nos entendemos com poucas palavras, porém não conseguia decifrar seus sentimentos dirigidos a mim.

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