Still You

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  O único ruído perceptível no quarto eram os ponteiros do relógio marcando o tempo, isso sempre me acalmou, fazendo com que pensasse de forma rápida e focada e daquela forma permaneci divagando se aquela era a noite certa para realmente dizer o que estava acontecendo. Esperava apenas que ele voltasse do jantar, refeição aquela que não participei por motivos óbvios.

Durante o tempo que passei sozinho, dividi os lados negativos e positivos.

O negativo era que ele poderia não ser gay e eu sofreria durante todos os anos em que estivéssemos juntos. Simples.

O positivo era o contrário e era exatamente aquele que me agarrava em um fio de esperança, me levando forças para ter continuado sentado naquela cama abraçado a seu travesseiro. Um ato tanto quanto infantil da minha parte, porém era algo que me acalmava mais que o som do relógio.

Talvez eu devesse me arriscar ao menos uma vez em minha vida. Eunhyuk dizia diversas vezes, promessas, que sempre estaria comigo, mas não acho que ele tivesse imaginando essa situação, o fazendo ter tido o direito de não ter cumprido com sua promessa.

Ri de escárnio com minha possibilidade não tão distante - naquela época - de perdê-lo, mas talvez não devesse pensar naquelas possibilidades. Em distração, foquei minha mente no cheiro que seu travesseiro sempre teve, cheirava a baunilha e casca de laranja. Eunhyuk tinha um cheiro apenas dele e aquilo eu ia carregar para toda minha vida, lembrava-me de minha antiga casa... Do jardim de minha mãe. Baunilha e casca de laranja.

Repentinamente a sincronização do relógio tornou-se distante, assim como seu cheiro quando ouvi seus passos pesados na madeira do corredor. Ele sempre pisou firme e aquilo sempre me intimidou. O ruído da porta se abrindo me fez travar o olhar nela. O quarto foi tomado por seu forte e agradável cheiro único, sorri largamente ao o ver parado olhando interrogativamente para mim.

-DongHae?

Seu cheiro tornou-se gradativamente forte e cada vez mais parecia cercar-me.

-DongHae!? - Era estúpida a visão de o enxergar caminhar lentamente e chacoalhar meus ombros, em movimentos lentos e delicados. Cena privilegiada de um romance de baixo orçamento.

-...Sim?

-Está tudo bem? -Ele sorriu contido e sentou-se ao meu lado, virado para mim. Não ousei me virar para ele, precisava de mínima coragem.

-Está... Por quê?

-Está agarrado a meu travesseiro como se ele fosse eu. -Olhando para ele a sincronização do relógio tornou-se audível e o quarto pareceu mais claro. Espantei-me e pela primeira vez, havia corado diante de si.

- Eu... Eu não me agarro a você desse modo!

-Quando dorme comigo, agarra sim... Principalmente quando está frio. - Ele sorriu doce, um sorriso que sempre fazia minha mente gradativamente ficar nublada. Tão estupidamente encantador... - Parece querer me contar algo... O que é?

Ele sorriu, aproximando mais e fixando seu olhar no meu, sempre adorei aquele detalhe seu, sempre que conversa comigo nossos olhos se mantinham focados um ao outro. Sorri fraco percebendo que havia demorado ao responder acidamente.

Sempre pareci ser um livro aberto para Eunhyuk mas naqueles momentos aquilo me assustava. Meu sorriso se fechou e afastei-me, virando para frente e apoiando minhas mãos, desnecessariamente suadas, em meus joelhos os apertando como se aquilo fosse me levar forças.

-Eu tenho um problema... M-meu... - Respirei fundo, não era de gaguejar e não seria naquela noite que planejava começar. -Meu problema é complicado.

Parando e analisando, eu poderia me bater por ser tão redundante e tosco. Afinal, qualquer problema é complicado, caso contrário não carregaria tal nome. Eles são como uma junção das mesmas palavras.

Entretanto ele pareceu ignorar e ainda assim havia mudado o curso de minha última frase, mas daquela forma seria melhor. Esperava.

- Problema?... O que está havendo? - Ele aproximou-se mais e me encolhi em meus próprios ombros.

- Eu... -Encarava aquilo de modo tão ridículo, mas havia prometido a mim mesmo que continuaria. Olhei para ele de canto e pude ver seus olhos fixos em mim, preocupados. - Deixa, cara.

Sorri forçado e me levantei indo diretamente até minha cama a contornando e sentando me de costas para ele, puxando o meu urso de pelúcia e apertando na espera de dissipar o nervosismo.

Franzi o cenho ao ouvir seus passos firmes. Estúpida ideia, estúpida!! Uma coisa da qual, com certeza, não estava em meus planos. Era como pedir para ele não desistir do assunto.

-DongHae, pode me contar... - Seu tom de voz soou calmo e suave, seu cheiro novamente me cercou e fechei meus olhos com tal aroma.

-Estou apaixonado.

Olhei para ele fixamente e o vi se afastar com a expressão séria, focando seu olhar no completo nada, parecia tentar assimilar algo. Seu maxilar travara e o vi mordendo seu lábio inferior, o que me fez apertar com mais força o urso em minhas mãos. Porém, rapidamente voltou seu olhar para mim sorrindo forçado.

- O que há de complicado nisso, criança? -Ele se jogou em minha cama, se deitando torto e olhando para o teto.

-É impossível... - Sussurrei com pesar repentino.

- Por quê? - Pareceu definitivamente se interessar apoiando-se em seu cotovelo esquerdo.

Desviei nossos olhares virando-me para frente. Naquela noite o urso em meus braços pareceu-me ter detalhes impressionantes, fazendo-o virar o ponto forte da noite.

-Eun.. - Respirei fundo, era a primeira vez que lhe contaria. - Eu... Eu sou gay.

Rápido e direto. Esse sou eu.

Sorri de escárnio com seu silêncio.

Havia me levantado sem nenhuma vontade e a passos lentos fui até meu guarda-roupa do outro lado do quarto e de lá tirei uma calça e camisa simples de moletom. Troquei de roupa tentando, inutilmente, ignorar sua presença no quarto. O que não era nada simples levando em conta que estava convicto que não haveria mais volta naquela conversa. Ao me virar para voltar à cama, ele permanecia lá acompanhando meus movimentos com seu olhar. Me sentei defronte a si, encostando me na beira da cama e o vendo pegar o urso do lugar onde se sentaria.

-Ainda não entendo o porquê de complicado... Eu o conheço, quero dizer, conheço... O cara? - Estalei a língua. Todas as pessoas que conhecia, ele também conhecia. Afinal, eu era um perfeito exemplo de ignorado e muito provavelmente, metade do orfanato não me notaram.

E não era como se isso me fosse um peso.

   Um arrepio repentino cruzou meu corpo, aquele não sendo de frio. Ele havia tocado minha perna a apertando em forma de incentivo à uma continuação. Acomodei-me a cama fechando os olhos por segundos e soltando todo o ar possível. Procurava por mais coragem, em qualquer lugar que ela pudesse estar, estava desesperadamente sendo consumido por uma adrenalina que nunca havia sentido, uma adrenalina que fazia meu estômago parecer dar voltas e minhas mãos tremerem tímidas. Fechei minhas mãos em punho vendo minhas falanges tornarem-se brancas. Foquei minha atenção em seu cheiro e ele logo invadiu minha cabeça jovem, fazendo me relaxar.

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