Without You

35 4 9
                                    

Um cheiro bom invadiu meu olfato assim que Heechul e eu adentramos a porta de entrada. Éramos sempre um dos últimos a chegar em casa, levando em conta que os outros garotos do orfanato estudavam no mesmo colégio. A causa era de Heechul fazer parte do time de vôlei e por simples amizade, Siwon e eu o esperamos.

– Que cheiro bom. – Heechul respirou fundo, e fiz o mesmo sentindo o cheiro de frango e feijão no ar. – Vamos logo, estou morrendo de fome.

Subimos as escadas com pressa, Heechul apenas por fome, já eu para chegar ao meu quarto e ver Hyuk.

Adentrei o quarto olhando em volta, não o encontrando. Fui ao banheiro, também vazio. Bufei, tratando de tirar minha camisa e a jogar no chão. Caminhei até a cama, logo desamarrando meus cadarços e visualizando um papel bem dobrado sobre minha cômoda. O peguei notando a caligrafia desajeitada de Hyuk a decorando.

“Saí para resolver algumas pendências, desculpe não estar para lhe dar um beijo de boas vindas... Estarei de volta antes que sinta minha falta.

PS: Eu te amo

– Eunhyuk”

– Está atrasado, idiota. – Resmunguei amassando o papel e o arremessando na lixeira, errando o alvo e estalando a língua. Não fiquei muito no quarto, logo indo tomar um banho rápido.

As portas do guarda roupa de cor branca foram deixadas abertas por mim, que observava com respiração descompassada as malas empilhadas uma sobre uma em um canto sem uso do móvel. Eu não me lembro com clareza, mas em determinado momento escorreguei da parede ao chão, sentindo sensações antes nunca sentidas por mim, meu peito parecia querer explodir com a agonia crescente.

Eunhyuk havia feito suas malas.

Minha visão não deixou de embaçar ao realmente ligar todos os pontos e, finalmente, desviar meu olhar das malas. Não havia nenhuma de suas roupas dobradas ou em cabides. Apenas seu pijama dobrado sobre sua cama. Levei minha mão até a boca calando um soluço desesperado, olhava aquelas malas negando freneticamente com a cabeça, vendo tudo a minha volta começar a ficar borrado e os sons dos cascalhos lá fora pareciam muito baixos para parecerem perto.

– Hae? – A voz de Heechul soou tão baixa que tranquei minha respiração e o movimentar das minhas pernas que se debatiam em desespero. O ignorei, o ouvindo me chamar duas vezes e depois o silêncio.

Minha cabeça havia começado a doer de uma forma que me perguntava se era possível, mas levando em conta as força que minhas lágrimas caiam era aceitável. Ele... Realmente estava indo embora!

Naquela época, eu não ligava muito para o que diziam, mas com o passar dos meses e anos eu notara e hoje, tenho certeza. Eu tinha sérios problemas em não aceitar ficar sozinho, talvez fosse um trauma, mas acima de tudo era medo. Naquela época eu não raciocinei corretamente, eu só pensava que ele iria embora me deixando talvez com seu remorso de abandonar um amigo. Eu não me importava se ele era obrigado a ir, não me importava que estivesse agindo igualmente a um egoísta e infantil. Nada me importava. Ele era a única coisa que me fazia, todos os dias, continuar a ter algum tipo de razão pra não querer ter ido junto de meus pais, de nunca ter de abandonar minha mãe e pai. Era apenas a imagem dele que me fazia levantar do chão após uma surra e, debilmente, caminhar até o orfanato. Era sua imagem sorrindo e dizendo que tudo vai ficar bem se fazia presente quando, em alguma distração, acabava sendo encurralado recebendo socos, chutes, xingamentos, e todo o pacote completo. Era unicamente ele...

Me arrastei até o móvel, puxando com dificuldade uma das malas de couro, ouvindo o som pesado bater no chão. Busquei os fechos abrindo-os com mãos tremulas, constatando as roupas devidamente dobradas dentro dela. Puxei os fios de meu cabelo com força, não contendo um soluço alto.

Wake Me UpOnde histórias criam vida. Descubra agora