With You

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Eu demorei em voltar para casa, me demorei sentado naquele meio-fio. Pensava no que poderia ser de minha vida sem Eunhyuk, não era como se eu dependesse dele, era apenas o acomodamento de dormir olhando para ele, acordar sentido seu cheiro, levantar e saber que quando voltasse do colégio ele estaria me esperando no quarto. Eu não tinha por o que lutar, vivia sendo alvo de perseguições por ser um apaixonado gay e aquele por quem sofria de cabeça erguida, estava se esvaindo entre meus dedos, sem aparentes opções.

Não esperava o ter para sempre ao meu lado, dormindo sempre no mesmo quarto e sempre no mesmo casarão. Vivíamos em um orfanato onde uma amizade era algo passageiro, sempre pensei assim. Mas ser um apaixonado correspondido nas primeiras setenta e duas horas, lhe faz criar ilusões de que tudo vai ser único e perfeito. Porque você acaba achando que vai fazer a diferença em uma história de amor.

Meu Deus! O quão eu fui patético com dezesseis anos de vida?! Um adolescente normal deveria ter uma, mesmo que pequena, lista de vivencias emocionantes! Um futuro que queira trilhar e se esforçar... Uma lista onde eu deveria ter momentos bons.

Estava sendo tão miseravelmente estúpido e egoísta que me perguntava como Eunhyuk podia dizer me amar. E ainda sentado naquele meio-fio com um frio que espero nunca mais sentir, eu deixava coisas comuns como seu sorriso em me ver, suas palavras sussurradas dizendo gostar de sutis coisas vindas de mim, deixava diversos detalhes de suas provas amorosas para achar que ele tivesse feito aquilo apenas por amizade, por um amor fraternal. Ele já tinha tudo devidamente certo para ir embora, isso era certo, mas o errado foi achar que o que o impedia frustradamente era eu.

Até mesmo agora, declarando isso nesse caderno velho, eu encaro todas as surras que recebi como meus castigos futuros. E cada soco eu paguei pelas vezes que achei que, por sermos amigos, não deveria ter sido fácil para ele ouvir duas noites antes de ir embora que seu melhor amigo estava incondicionalmente apaixonado, que ele deveria ter decidido por me corresponder apenas para não me magoar tanto.

Levantei-me suspirando com o controle emocional estável, acreditava. Começara a caminhar sem pressa e sem lágrimas nos olhos, mas sabia que estava com o rosto inchado e os cabelos desalinhados. A noite estava mais fria, muito fria, me encolhia em meu pijama fino notando que estava descalço em meio a uma camada fina de neve que caía. Sorria de escárnio, afinal, estava recebendo mais um castigo merecido. Tirei meu celular do bolso. Vinte e sete ligações perdidas e nove mensagens não lidas. Cada uma sendo perguntas como onde estava, que pelo amor de Deus eu voltasse e dizendo que me amava. E descobri aquela ser umas das palavras que me movia até ele. Sorri, é uma palavra bonita se prestar devida atenção.

Uma das poucas coisas que me lembro de minha mãe é da explicação que me dera sobre o que é amor... Ela dizia que amar alguém é o que faz com que nossa vida valha algo, é algo puro e afável que lhe faz cometer loucuras. Por qualquer amor que carregue. Eu adorava seus exemplos, o que ela deu sobre amor é que parecemos viver em um potinho de vidro, onde você vive ali dentro com quem ama. Você só consegue ouvir aquela pessoa, tocar aquela pessoa, enxerga apenas a ela. O mundo exterior é sem cor, sem sons, sem toques.

Me perguntava se era por essa razão que diversos amigos de minha mãe reclamavam que ela não saia de casa para divertir-se com eles. Mas me lembro dela sempre sorrindo, cantando e um sorriso encantador nascia em apenas ouvir o nome de meu pai. Ela dizia que ambos nasceram e foram moldados um para o outro.

Eu gostaria de ter um amor semelhante.

E eu tive.

Quando cheguei em frente do casarão com os portões abertos, senti uma dor leve em desfazer o sorriso que permanecia em me lembrar de minha mãe, fazia muito frio e passavam das sete ou oito horas da noite.

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