Wake me up inside

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No dia seguinte, após nossa real primeira vez juntos, eu acordei com Eunhyuk emaranhando seus dedos em meus fios descoloridos, em um carinho gostoso. Eu resmunguei baixo e ele riu sonoro. Calmo ele desceu sua mão até meu pescoço, onde caminhou seus dedos aleatoriamente. Lembro-me tão perfeitamente daquela manhã, que se torna nostálgica ao vir átona em minha cabeça nos dias de hoje.

Com seus carinhos tudo parecia tão certo...

Caso fosse um poeta ou romântico frustrado, diria que pude ouvir os pássaros cantarem mais alto, o quarto se iluminar mais fortemente com a luz do sol e, talvez, até sinos soarem apenas por acordar com seus carinhos e sussurros, mais uma vez, não compreendidos. Mas não, eu só sorri ainda com meus olhos fechados e resmunguei, virando-me para encarar seu sorriso de bom dia.

Eu nunca entenderei com exatidão aquele dia, mas arriscando-me em metáforas frustradas, comparo ao amargo e ao mais delicioso doce, em um agridoce tão sufocante que a nostalgia se abala diante de minha caligrafia trêmula. Talvez – e apenas talvez –, fosse uma prova do que eu poderia aguentar. Talvez fosse meu condutor emaranhando os fios de sua marionete que lhe convinha, talvez a marionete fosse eu.

Eu não imaginava que tudo fosse correr rápido demais, e fosse apedrejado com realidades que, diante a nossa história de amor, eram irreais.

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 – Hyung! A correspondência chegou! – O chamei, me assustando com o eco do apartamento, porque, mesmo depois de algumas semanas eu não havia me acostumado com tudo.

Ele não respondeu, e voltando ao que fazia, caminhei descalço até a cozinha onde terminava meu desjejum, antes de Eunhyuk me levar para o colégio. Despreocupado e sem ter muito a fazer, deslizei uma carta sobre outra, checando sem real atenção e importância àquela correspondência atrasada. Afinal, até arquivarem o novo endereço, custou-lhes tempo.

O som abafado do banho de Eunhyuk tornou-se ainda mais abafado, um nó formou-se em minha garganta e eu não soube ao certo se deveria me preocupar. Mas, talvez, um sábio dentro de mim se impulsionou a fazer o que lhe convinha. Eu rasguei o envelope branco aos detalhes azuis, minhas mãos trêmulas desdobravam o papel tão bem dobrado e minha visão tornou-se gradativamente turva.

 Na verdade, eu não soube o que li, não tinha uma experiência que me permitia entender a escrita formal e, estranhamente, condolente.

Atesto para os devidos de direito que o Sr. Eunhyuk é portador

dos resultados positivos transcritos.

Mas houve algo que eu soube compreender, e mesmo que hoje ainda esteja relatando a mesma cena, não muda nada os sentimentos igualados aos daquela manhã.  Eu engoli o que comia em seco, encarei minhas mãos ainda mais trêmulas e frias. Mas não chorei, não gritei e também não me exaltei. A verdade é que não soube como reagir e se devia reagir a alguma coisa, eu apenas sentia-me confuso e idiota por não entender o que aquele simplório papel dizia.

– O que é isso? – Ele perguntou surgindo a minha frente, com seu cabelo úmido e seu cheiro inconfundível junto ao de sabonete. – Donghae...

Ele arrancou aquelas folhas de minhas mãos, encarou os papeis por momentos que não contei, e depois, tudo se tornou amargo a meu paladar.

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