Quando voltou a despertar e abriu os olhos, Delphine percebeu que a chuva já havia parado e o sol tomava conta do céu. Ao mexer a cabeça, resmungou ao sentir uma dor aguda no pescoço causada pela forma torta com que tinha dormido na poltrona. Estava com a boca seca e com o estômago reclamando de fome, o que a fez lembrar que sua última refeição havia sido um lanche rápido no meio da tarde anterior.
Mas mesmo que seu corpo estivesse clamando pelos cuidados básicos, a primeira coisa que ela fez ao se levantar, foi ir pegar o celular para efetuar uma ligação.
–Alô?
– Oi, bom dia Felix – ela disse de pé, com uma mão apoiada sobre a mesa enquanto a outra segurava o telefone.
– Ah, bom dia Delphine – o rapaz respondeu. – Está tudo bem? Eu fiquei preocupado com o jeito que você foi embora ontem à noite...
– Não se preocupe, eu estou bem – ela se apressou em dizer. – Mas e a Cosima? Como ela está?
– Tirando as dores que ela está sentindo no corpo e na cabeça, também está bem. O médico disse que isso já era esperado e que está tudo certo com o cérebro dela. Agora eu vim em casa buscar uma roupa limpa, porque daqui a pouco ela vai receber alta.
Delphine suspirou um pouco mais aliviada ouvindo aquilo.
– Que ótimo, eu fico mais tranquila assim.
– Você não conseguiu falar com ela? – Felix perguntou estranhando a loira ter ligado para ele e não para a namorada. – Quer que eu peça pra ela te ligar quando chegar no hospital?
– Não, não se incomode com isso – ela respondeu cabisbaixa. – Olha Felix, eu preciso ir agora. Obrigada por me dar notícias.
– Ok então... Tchau.
Se sentindo um pouco mais tranquila em saber que Cosima não havia tido nenhuma piora durante a noite – embora o mal estar por conta de tudo que havia acontecido não tivesse passado completamente – Delphine pegou sua bolsa e saiu do consultório ansiando por chegar logo em casa.
Cosima acordou com a nítida sensação de ter ouvido o som da porta acabando de ser fechada. Ela passou os olhos pelo quarto – que estava sendo iluminado apenas pela luz da tela que monitorava seus batimentos cardíacos – e constatou que não havia ninguém ali com ela. No entanto, em meio ao cheiro característico e asséptico do hospital, ela conseguiu identificar um sutil traço do perfume francês por ela já tão conhecido e apreciado.
A cabeça doía, sua boca estava com um gosto ferroso terrível e a impressão que ela tinha era de que seu corpo havia sido atropelado por um caminhão. Seus pensamentos estavam confusos e a última memória nítida de que Cosima conseguiu recuperar era de estar em seu laboratório discutindo com Delphine. Depois disso, tudo o que vinha à sua mente eram borrões sem sentido e cenas desconexas.
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Je L'aime à Mourir
FanfictionÉ janeiro e o inverno toma conta da paisagem e dos dias de Toronto. Cosima está ansiosa para retomar seu PhD em Desenvolvimento Evolutivo. Seria um dia promissor se não fossem aquelas malditas dores mensais a obrigando a chegar atrasada... mais uma...