Eu Não Quero Te Limitar

87 10 0
                                    


Poucos dias após a chegada de Sally e Gene em Toronto, Cosima finalmente retornou para a sala de cirurgia. E com uma quantidade até mesmo excessiva de cuidado e atenção ao seu dispor, seu pós-operatório não poderia deixar de superar as expectativas.

Como havia sido da primeira vez quando ela fez a retirada do tumor e de um ovário, ela passou seus dias de repouso no apartamento de Delphine. Por conta das pendências do trabalho, Gene precisou se ausentar por pouco mais de uma semana, o que fez com que Sally também ficasse com as duas, no quarto de hóspedes.

Ter a companhia dos pais fez com que tudo se tornasse mais fácil para Cosima, já que não precisou passar os dias todos sozinha presa dentro de casa. Delphine estava se ausentando bastante em termos físicos durante os dias úteis da semana, embora se desdobrasse para que os três Niehaus tivessem o maior conforto possível. E na intensão de proporcionar uma melhor comodidade para todos, a francesa decidiu não mais adiar para enfim adquirir um carro para chamar de seu.

– Eu não estou fazendo isso só para mimar você. – Foi o que ela disse para se justificar com a namorada. – Eu sinto falta de dirigir. Além disso, eu não suportaria mais um inverno canadense tendo que andar a pé.

Apesar de não ser um argumento de todo mentiroso, se esse fosse o único motivo certamente poderia esperar mais tempo, já que o inverno ainda demoraria pelo menos mais uma estação para dar as caras. No fundo ela sabia que aquele seria um luxo bastante necessário de se ter quando Cosima finalmente começasse pra valer com o tratamento.

E por falar em tratamento, o processo de dessensibilização estava se desenrolando da maneira prevista. Seu inconveniente – além das idas semanais ao hospital – era que por contas das baixas doses do quimioterápico, seus sintomas de falta de ar e tosse com sangue, timidamente voltaram a ganhar espaço. Mas era por um otimismo forjado ou não, isso parecia não ser o fator que mais estava perturbando Cosima.

– Maravilha! – ela ironizou em certa ocasião em que teimava em diminuir ainda mais a temperatura do ar condicionado enquanto todos na sala estavam visivelmente desconfortáveis com o frio. – Meu sonho sempre foi entrar na menopausa antes dos 30, de qualquer forma...

– Tenha um pouco de paciência – Delphine insistia. – Seu organismo não vai demorar para se adaptar a reposição hormonal, esses sintomas não vão durar para sempre.

Mas no fundo a loira entendia que aquela certamente não era das condições mais tranquilas de se aceitar, especialmente para alguém tão jovem.

De modo geral, aqueles dois meses haviam sido – apesar das circunstâncias – bem felizes e passado como em um piscar de olhos. A dessensibilização havia sido efetiva e já na segunda-feira, Cosima finalmente iria receber a primeira dose de quimioterapia, embora ainda fosse necessário que ela ficasse internada e recebesse o medicamento durante uma longa sessão de 12hrs.

A estadia de Sally e Gene na cidade já estava se aproximando de seu fim, embora desejassem continuar ao lado da filha. O tipo de carreira que eles tinham exigia movimento e não poderiam ficar longe do trabalho por muito mais tempo, especialmente agora que precisariam bancar as despesas de Cosima, já que ela tinha perdido a bolsa da universidade.

Seja pela partida dos pais, para comemorar os procedimentos bem sucedidos até o momento ou mesmo como forma de aliviar a tensão que certamente iria surgir nos dias seguintes, Cosima havia tramado com os dois para desfrutar de uma tarde de domingo especial com Delphine.

Depois de um agradável – e farto – almoço preparado pela francesa, os quatro foram de carro até o porto sob o pretexto de finalmente apresentar a casa barco dos Niehaus para Delphine.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora