Coincidências

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O vento soprou os papéis que escorregaram para fora da pasta, e se nada fosse feito, logo estariam espalhados por toda a rua. Felizmente foram empurrados na direção da morena, que não hesitou em recolhê-los antes que fossem danificados pela umidade da neve.

– Você deixou cair isso – ela disse ao se aproximar da loira e devolver as folhas.

Quando a moça se virou, Cosima ficou momentaneamente impactada. Tinha alguma coisa, ou melhor, tudo naquela jovem distraída havia despertado o seu interesse.

– Ah, muito obrigada! – a desconhecida disse com um sorriso constrangido enquanto recuperava seus pertences. – Não percebi que tinham caído.

Mesmo sem maiores referência, Cosima podia dizer que ela era pelo menos 10 centímetros mais alta do que si. Era dona de um cabelo realmente incrível, sem contar pinta localizada logo abaixo da boca do lado esquerdo, que parecia estar atraindo seu olhar como um imã. Vestia trajes simples, mas sua presença e elegância eram marcantes, a fazendo destoar dos outros transeuntes.

– Tudo bem, sem problemas – a morena retribuiu o sorriso meio sem jeito. – Bom, e-eu acho que já vou – Ela começou a passos para trás, se afastando aos poucos, mas seu corpo estava reticente em dar as costas para aquela mulher. – Tchau.

– Tchau.

Reconhecendo que aquilo era o fim de sua curta, porém impactante interação, Cosima se obrigou a retomar seu caminho. Sua mente, por outro lado, não seria convencida assim tão fácil. Foi inevitável não tentar imaginar quem seria aquela moça e como nunca havia a notado antes. Talvez fosse de alguns dos departamentos com instalações mais afastadas no campus... Se pelo menos tivesse espiado algum dos papéis voadores antes de entregar a ela, agora poderia ter alguma pista.

– Com licença... – O chamado tímido naquela voz tão doce fez Cosima se virar.  – Você estuda aqui, não é?

Pouco mais de cinco metros as separavam, distância essa que a morena não se lamentou em voltar a reduzir.

– Estudo sim. Precisa de ajuda?

– Acho que sim – ela passou a mão pelos cabelos parecendo constrangida. – Você sabe me dizer se existe um guia, um mapa do campus ou algo parecido? É o meu primeiro dia e eu estou meio perdida...

– Não, infelizmente não temos. Quer dizer, alguns pontos têm umas placas que indicam a sua posição em relação aos outros lugares, mas acaba sendo mais decorativo do que útil.

– Entendo. Bom, obrigada de novo.

Dessa vez foi a loira quem se virou para retomar sua rota, dando a conversa por acabada. Cosima se manteve onde estava, observando a novata se afastar e sentia como se um marcador de contagem regressiva se aproximasse mais e mais do zero a cada passo que ela dava. Mordeu a ponta da língua na tentativa de impedir que o impulso nascido em seu estômago agora escapasse de seus lábios.

Nem pense nisso Cosima!

– Eu não tenho aula agora ­– ela imprimiu um pouco mais de potência na voz para se fazer ouvir à pouca distância que as separava. Prontamente a loira retornou a atenção para a morena. – Se quiser, posso te mostrar onde ficam os lugares mais importantes. – Seu alto controle estava falhando e ela se recriminou por isso, mas por fora conseguiu transparecer calma e casualidade.

– Ah, não sei... Isso não vai te atrapalhar?

– Não, impossível!

O que diabos você acha que está fazendo?!

– Como disse, não tenho compromisso essa manhã.

– Nesse caso, acho que vou aceitar sua ajuda. ­– Ela voltou a se aproximar e estendeu a mão sorrindo. – Delphine.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora