Onde Você Está?

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Se aquilo tivesse acontecido com qualquer outra pessoa que não fosse Delphine, Cosima provavelmente teria se sentido constrangida ao ser pega no flagra. Porém, quando a francesa lhe enviou uma mensagem no instante em que ela ainda relia suas conversas passadas, tudo o que conseguiu foi ficar muito contente em saber que a namorada também estava pensando nela àquela hora da madrugada.

Cosima não podia negar; preferia que Delphine tivesse lhe respondido e dado continuidade à conversa ao invés de apenas visualizar sua última mensagem para voltar a ficar offline logo depois. Mas compreendia os motivos dela, talvez simplesmente estivesse cansada demais e aquela foi a última conferida que ela deu no aplicativo antes de enfim pegar no sono.

Sono, a propósito, era algo que ela vinha falhando miseravelmente em conseguir. Desde que abriu os olhos depois de... depois de seja lá o que foi aquilo que aconteceu com ela naquela noite mais cedo, Cosima não conseguiu mais nem sequer tirar um cochilo. Havia terminado o livro que ela tinha começado a ler nos últimos dias e o lençol só faltava se desprender do colchão de tanto que ela já via revirado na cama, mas nada do sono dar o ar de sua graça.

Na verdade, parecia que quanto mais ela insistia em tentar dormir, mas ativa sua mente se tornava. E isso acrescido uma sensação de que algo estava prestes a acontecer – uma sensação intensa – eram exatamente as coisas que fizeram com que Cosima acabasse com o celular na mão lendo conversas que havia tido com Delphine meses atrás.

Seja por coincidência ou não, depois de responder à namorada e retomar a leitura, agora de mensagens trocadas em um tempo mais recente – onde o tom leve e as brincadeiras entre elas foram aos poucos perdendo espaço para os avisos de agendamentos médicos e Delphine se certificando de que Cosima estava bem enquanto trabalhava no hospital – seu conforto foi se esvaindo e ela começou a sentir o peito ficando apertado. Se tratando de um sintoma físico, ela temeu que pudesse ter se esquecido de tomar algum de seus remédios, embora isso fosse bastante improvável.

Cosima se levantou, foi até a cômoda onde costumava deixar sua medicação. Fez questão de até mesmo contar as pílulas para ter certeza, mas não havia erro; ela realmente não havia deixado de tomar nenhum comprimido. Tendo consciência de que estava sozinha em casa e de que Felix não voltaria antes do amanhecer, ela abriu o armário e tirou o medidor de pressão lá de dentro. Se o desconforto em seu coração fosse os primeiros sintomas de um infarto, ela ia querer saber a tempo de poder fazer algo sobre isso. Afinal de contas, amava sua avó, mas não estava em seus planos voltar a se juntar a ela tão cedo.

Depois que a braçadeira relaxou e o visor digital deu seu veredicto, ela ficou satisfeira em saber que ao invés de uma pressão alta capaz de lhe causar um ataque cardíaco, sua pressão para além de controlada podia ser lida até mesmo como baixa. Contudo, saber que não estava prestes a infartar sem ninguém presente para lhe socorrer não diminuiu em nada o que a essa altura podia ser definido como dor no peito e angústia crescente.

Cosima voltou o aparelho para dentro da caixa e em seguida o retornou para seu lugar de costume. Porém, logo após fechar a porta do guarda-roupas, um forte calafrio se espalhou por todo seu corpo. Ela até mesmo precisou se apoiar para evitar de cair ao sentir sua visão escurecendo e sua cabeça ficando bastante zonza. Esperou alguns segundos até se sentir um pouco mais estável, para então rápida, porém cautelosamente, conseguir voltar para a cama. Apesar de depois de ter se deitado seu mal estar físico tenha diminuído um pouco, a sensação de que algo estava muito errado não a deixou assim tão fácil.

Cerca de 15 minutos mais tarde, Cosima se surpreendeu ao ouvir uma sirene de polícia passando pela rua. Era fato que aquela estava sendo uma noite atípica e ela se deu conta de que independentemente do tivesse acontecido, devia ser algo grave, uma vez que instantes depois foi a vez de uma ambulância cortar a rua à toda velocidade.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora