Je L'aime à Mourir

Enfim, a Tempestade

Cosima já se sentia incomodada antes mesmo de ser chamada para a consulta. Quando entrou no consultório, viu Dra. Duncan – uma mulher elegante na casa dos 60 anos – esperando por ela sentada à mesa, com os óculos apoiados na ponta do nariz.

– Cosima Niehaus? – perguntou a doutora olhando para ela por cima das lentes.

– Isso mesmo.

– Boa tarde, Cosima. Sente-se, por favor.

A morena terminou de adentrar o ambiente encostando a porta ao passar. Caminhou pela sala impecavelmente limpa e organizada até a mesa, sentando-se de frente para médica.

– Como vai? – a doutora perguntou apertando sua mão assim que ela ocupou uma das cadeiras.

– Tudo bem, obrigada.

– Bom, como é a sua primeira consulta comigo, vou começar fazendo algumas perguntas para poder te conhecer um pouco melhor, ok?

– Ok.

– Qual é a data da sua última menstruação?

– Foi na semana passada.

– Você tem vida sexual ativa?

– Sim.

– E faz uso de algum contraceptivo?

– Não, isso nunca foi necessário.

– Certo. – A médica falava alterando o olhar entre ela e a tela do computador. – Já Contraiu alguma IST?

– Nunca.

– E quanto ao seu ciclo? É bem regulado?

– Sim – Cosima disse suspirando. – Às vezes adianta alguns dias, mas no geral é bem controlado.

– Você tem alguma queixa? Como dor ou corrimento, por exemplo?

– Bom, na verdade esse é o principal motivo para eu ter marcado essa consulta, doutora – ela falou se ajeitando na cadeira. – De uns tempos pra cá eu tenho tido cólicas bem fortes.

– Consegue estimar há quanto tempo?

– Um ano, talvez um pouco mais. Elas foram piorando aos poucos. Eu sempre tive cólicas, mas agora elas estão começando a atrapalhar muito a minha rotina e os remédios nem fazem mais efeito, só aliviam um pouco.

– Você tem alguma alteração já diagnosticada? Cistos nos ovários, miomas...?

– Não que eu saiba. Da última vez meus exames não identificaram nada.

– E quando foi a última vez que você fez exames?

– Minha última consulta foi há mais de dois anos... – Cosima disse forçando a memória. – Mas na ocasião o médico não chegou a pedir exames de imagem, então faz ainda mais tempo do que isso.

De repente pensar e falar aquilo em voz alta fez com que a morena se desse conta do quão negligente ela estava sendo com sua própria saúde.

– Não é bom ficar tanto tempo assim sem fazer exames – reforçou a doutora.

– É, eu sei disso. – Ela coçou a nuca reconhecendo a legitimidade daquele puxão de orelha.

– Você tem histórico familiar de endometriose? – a médica prosseguiu com os questionamentos.

– Eu não sei dizer. Não sou filha biológica da minha mãe...

– Entendo. Sua queixa é apenas quanto as cólicas ou tem mais alguma coisa fora do normal?