Lado obscuro - continuação.

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" O coração é tão forte mas ainda assim se quebra"

— Eu Sou SoL

" Querido diário! quando foi que comecei a te deixar de lado ? Quando foi que o céu de repente ficou tão cinzento ? Vi na tv que passaríamos por grandes tempestades mas jamais imaginária que séria tão devastadora, casas foram varridas e várias vidas perdidas, talvez seja um pouco cedo para perder a fé?! 29/ 02/ 2019 ? Se passou tão pouco tempo desde que escrevi aqui mas aconteceram tantas coisas ruins e só me restou você para desabafar e abraçar.

Minha mãe dizia que nós adolescentes somos como fogos de artifício,sempre explosivos e barulhentos tanto no amor quanto no ódio, não sabemos esconder nossas emoções. Eu nunca me encaixei nesta frase, eu sempre fui a adolescente que chorava escondido, que se machucava sozinha,sempre senti tudo calada,enquanto eles sorriam na sala eu chorava em silêncio no quarto, por coisas que eu nunca conseguia explicar, e talvez nunca consiga.

—  SoL! Venha aqui por favor, dona Forbes ta na sala
— corre,corre— continuou meu tio enquanto dava pequenas batidas na porta

—Se eu pudesse correr, eu correria bem pra longe dela— disse

Meu tio caiu na risada, às suas bochechas ficaram avermelhadas.

Nós nos aproximamos bastante durante esses últimos dias, ainda não somos bons amigos mas já não somos tão inimigos, já não sinto medo de estar a sós com ele no mesmo cômodo, tudo começou quando meu coração estava um pouco quebrado e ele foi meu apoio,meus avôs passaram tempo com a igreja e seus deveres com as obras de caridade, então nessa velha casa só sobrou nós dois, então passamos a ter que dialogar, no meio de discussões entre qual era o melhor filme da marvel acabamos trocando algumas indicações de livros, indiquei para ele meu livro preferido de poesias e ele jurou que iria ler, mas quando chegou na vez dele de me indicar um livro, ele me indicou um livro de Nicholas Sparks" um homem de sorte", eu já li tantas vezes este livro, que o final já não me deixa triste.

Quando cheguei na sala, lá estava ela sentada com às pernas cruzadas, com toda sua etiqueta, e proeza em ser durona, ao menos era isso que ela demonstrava ser.
O cabelo estava mais longo e em um tom mais escuro, os óculos já não estavam mais ali em sua face ofuscando seus olhos verdes, por fora não havia vestígios da velha senhora Forbes.

—Então... quanto tempo faz que não fazemos às lições? —disse ela descruzando às pernas.

— Não o suficiente—respondi

E ela me olhou com os olhos arregalados.

—Não o suficiente para esquecer— completei.

Passou-se um mês desde a nossa última aula, e ainda não sentimos empatia uma pela outra.

—Bueno! así que ahora, volvamos a los estudios, espero que seas mejor en ese tema— disse com os livros em mãos.

-— Tenho que ter mais habilidade Tenhono inglês dona Forbes. — disse enquanto me ajeitava á mesa com a minha cadeira de rodas
Ela por sua vez não disse mais nada, ajeitou-se na cadeira e abriu o grande livro de geometria analítica na página  57.  Eu já havia me esquecido do quanto eu odiava essas aulas, do quanto eu odiava a Dona Forbes e a sua arrogância, ela sempre me olhava de uma forma diminuitiva, como se eu fosse um pequeno inseto prestes á ser esmagado por qualquer um, meus olhos não paravam  de encarar o velho relógio que também acabou ganhando um lugar novo, meu tio nos observava enquanto segurava seu velho copo de whisky, uma vez ou outra dava-lhe um gole,mas mantinha um olhar  apreensivos, a tarde chegava e nada dos meus avós ,já estava preocupada pós Salinas se encontrava em meio há uma grande tempestade, eu sei que eles sabem se cuidar mas ainda assim não consigo deixar de pensar neles.

— ¡De angelis! Espero que en la próxima clase estéis más atentos. ¡Terminamos por hoy!— dizia fechando o grande livro de geometria.

Senti-me aliviada, já não estava conseguindo acompanhar a aula.

Meu tio a acompanhou até o carro, eu os observei de longe, não sei muito bem qual o grau de intimidade existente entre os dois ,mas se mostram cúmplices em  algo, sempre que estão a sós eles sussurram, quando estou junto á eles fingem que não se falam, ou apenas se comunicam com formalidade,ou talvez eu que esteja imaginando coisas, ultimamente tenho tomado uma medicação mais forte, pós voltei a  sentir falta de ar, meu médico disse que eu preciso passar mais tempo deitada ao invés de sentada nesta cadeira, meus órgãos estão sendo comprimidos. Eu tenho feito todo o tratamento adequado, faço fisioterapia mas ando perdendo muita massa muscular dos membros inferiores.

— Até amanhã Forbes! — diz meu tio fechando a porta do carro para ela.
E ele continuou parado lá  com o braço erguido em um loop infinito de tchau, esperando o carro desaparecer em meio ao chuvisco.

— Sabe ? Seus avós demoraram muito! Oque você acha de irmos atrás deles ? Sua vó com todo aquele tremilique não pode se esforçar muito— disse ele enquanto subia os pequenos degraus da varanda.

— Eu prefiro esperar por eles aqui, seria menos idiota da nossa parte tio, daqui a pouco escurece e eles logo chegam— não vejo necessidade de sairmos  com toda essa chuva — completei.

Como um adolescente rebelde  ao ser contrariado ele jogou seu copo de whisky na parede com tanta raiva que o quebrou, e eu apenas travei nem consegui ao menos gritar.

— São apenas 16:30 e sabe oque seria idiota ? Eu não vou te dizer, vou te mostrar. — fez se um silêncio enquanto ele caminhava em minha direção, com os olhos cravados em mim.

— Passei esses dias sendo simpático, até li aquele livro idiota e no fim você simula que sou idiota ?— Tá bom, agora você verá meu lado idiota.

Ainda tentei balbuciar alguma coisa, mas ele apenas ficou de frente a mim e começou a  empurrar a minha cadeira  para fora de casa.
— Isso é ser idiota! Você vai ficar ai até aqueles velhos chegarem e reze pra eles chegarem cedo.— dizia enquanto  trancava a porta me largando na pequena varanda, todo aquele pequeno chuvisco logo se transformou em um pé d'água  infernal,meu tio continuava a me observar da janela talvez para o caso de  passar alguém ,assim ele teria tempo de me arrancar de lá.   implorei por várias vezes, gritei, bati na porta, chorei e por fim pedi desculpas por algo que não deveria ser errado.

— Você é uma falsa arrependida igual ao seu pai, eu odeio que simulam que eu sou idiota, passei minha vida toda ouvindo isso — dizia enquanto dava pequenas batidas na janela. — Mas vou relevar  só porque gosto de você Sol.

Ele veio a passos curtos enquanto eu me tremia de frio, meu corpo já não é tão forte quanto antes, sou fraca e estou sempre doente, talvez eu realmente seja fácil de pisar como deve pensar dona Forbes.

Ao abrir a porta ele não apresentou um pingo de arrependimento.

— Já abri a porta! Ainda quer que eu te ajude a entrar? Você é inútil mesmo heim— dizia enquanto puxava a minha cadeira com violência, carregando um belo sorriso no rosto enquanto fazia isso.
Senti tanta raiva de mim,eu queria parar de tremer, parar de tremer de frio, medo.

— Nunca mais saia sozinha pra varanda sobrinha, ainda mais com o tempo assim. Agora vá para o quarto — e enquanto eu me direcionava para o quarto ele me acompanhou até o corredor  --- Sol isso é um segredo nosso, espero que compreenda o quão imprudente eu posso ser mesmo que  por pequenas coisas. ---- dizia com um pequeno sorriso nos lábios.

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Eu Sou SoLOnde histórias criam vida. Descubra agora