Vovó

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O sonho de minha avó sempre foi ter um neto. Então, quando nasci, fui o garoto mais mimado de todo o quarteirão.

Meus pais até discutiam com ela, pois vovó queria estar comigo o tempo todo e até tinha tentado ficar com a minha guarda. Foi uma grande confusão.

Até os 7 anos, ela sempre me levava para passear, me comprava brinquedos e doces. Quando completei 8, no entanto, meus pais me proibiram de ir à casa dela. Parece que vovó ficou um pouco adoentada e já não podia cuidar de mim. Ainda assim, nós dois nos divertíamos muito, pois eu dava um jeito de fugir para sua casa.

Uma coisa que comecei a fazer nessa época foi me esconder debaixo da cama dela sempre que se deitava para tirar um cochilo. Então eu cantava uma música que havia aprendido na escolinha e vovó acordava assustada.

Ela sempre se levantava fingindo de brava e então se abaixava para me puxar de debaixo da cama. Eu fugia dela e ficava rindo descontroladamente de sua cara de raiva.

Hoje em dia, minha avó está morando em um asilo, pois não podia mais se virar sozinha. Eu sempre venho visitá-la e brinco de me esconder debaixo da cama, porém, vovó acaba sempre chorando quando eu canto. Sei que ela se sente sozinha e fica com raiva da minha mãe por tê-la colocado ali. Mesmo assim, eu tenho tentado animá-la.

Outro dia, no entanto, foi muito estranho. Cheguei ao quarto da minha avó e ela estava olhando debaixo da cama e chamando por mim. Eu disse "ei, vovó, eu estou aqui", mas ela já não está com a mente boa e não me ouviu. Ficou chorando e tentou quebrar o abajur, gritando "Vá embora! Me deixe em paz".

Foi quando duas enfermeiras vieram e a colocaram na cama de volta. Ela dormiu logo que lhe eram um medicamento.

Quando ela dormiu, as enfermeiras saíram para o corredor e fui atrás. O que ouvi me deixou confuso:

- Ela não para de procurar esse menino debaixo das camas. Já está chato isso.

- Nunca viu alguém com Alzheimer, não? O garoto morreu há mais de cinco anos, mas ela nunca vai esquecer.

- Eu é que nunca vou esquecer que aquela senhora de aparência tão doce foi capaz de esfaquear o próprio neto e enterrar debaixo da cama.

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