Mamãe me comprou um novo tutu cor-de-rosa no meu aniversário de seis anos. É tão bonito! O que eu usava nas primeiras aulas de balé não me servem mais. Mamãe diz que estou crescendo rápido e que vou ser uma grande bailarina algum dia.
Ela sempre me aplaude, diz que danço bonito, como a Anna Pavlova. É por causa dela que meu nome também é Anna.
Todos os dias, quando a tarde começa a chegar, desço as escadas e vou para a sala. Estou ensaiando para apresentar o Lago dos Cisnes na escola! Mamãe chega do trabalho à essa hora para me ver dançar.
— Mamãe, olha pra mim! — Eu dou piruetas — Como estou indo?
— Está linda, amor! É a bailarina da mamãe!
— E do papai também?
Ela sempre fica triste quando eu pergunto.
— Do papai também. — Ela diz — É a nossa bailarina.
Um dia desses tudo mudou. Ouvi um barulho mais cedo, então desci correndo, pensando que a mamãe já tinha chegado. Só que a sala estava escura e havia apenas um homem ali. Logo vi que era o papai e fiquei contente, pois há tempos não o via.
— Papai! — Corri em sua direção e o abracei — Olha só, gosta da minha roupa de bailarina? Vai me ver dançar na escola?
Ele me olhou sério. Quando me virei, vi mamãe dormindo no carpete em cima de um líquido escuro. Parecia vinho ou talvez suco de morango.
— O que houve papai?
— Feche os olhos.
— Pai? — Então senti algo frio em minha nuca e em seguida um barulho de um estouro muito alto. Ficou tudo muito confuso depois disso. Não sei, acho que dormi.
Hoje em dia eu não danço mais para a mamãe. Não a encontro em lugar nenhum. Fico bastante triste por isso, mas por sorte sempre encontro o papai.
— Papai, olha pra mim! — Dou piruetas — Sou sua bailarina! Olha pra mim!
Ele sempre grita, me dizendo para parar de atormentá-lo. Sei que está brincando, então eu morro de rir enquanto danço em seu quarto de madrugada. Ele vive se mudando, mas eu sempre o encontro. Agora sou a bailarina do papai. Para sempre.
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Histórias estranhas
HorrorColetânea de contos curtinhos de terror e mistério com finais inesperados