Minha filha, Catalina, ama Halloween, ou o Dia de Brujas, como é conhecido aqui na Colômbia. Nós moramos na capital, Bogotá, e aqui o jeito de comemorar é bem tradicional.
É comum que pais e filhos se fantasiem e saiam pelas ruas, parques e shoppings da cidade, num clima super descontraído para pedir "dulces o travesuras". Foi em um desses passeios que encontramos um homem com uma fantasia bem incomum, e não teria entendido se não conhecesse a história. Era um homem corcunda, com um chapéu na cabeça, os ombros caídos, que carregava um saco nas costas e assobiava.
— Olha filha, é o Silbón! — Cutuquei Catalina quando passamos ao lado dele, mas o homem se misturou entre as outras pessoas e ela não o viu.
Coincidentemente naquela mesma semana eu havia lhe contado sobre a lenda do Silbón, ou simplesmente o "assobiador". Trata-se de uma lenda latina sobre um espectro de um homem que vaga pelo mundo assobiando. Dentro daquele saco ele carrega os restos de suas vítimas.
A parte sombria da história eu não contei para minha filha, mas eu me lembrava muito bem. O silbón havia sido fruto de um estupro e sua mãe havia sido tão espancada pelo marido quando estava grávida que ele nasceu com a coluna torta e problemas de fala. Por não conseguir falar direito, ele simplesmente desistiu e apenas assobiava.
Quando não aguentou mais a violência do pai, que abusava e espancava a mãe impiedosamente, o filho o matou com uma faca. O avô, ao descobrir o assassinato, amarrou o jovem em uma árvore, o chicoteou e esfregou limão com pimenta nas feridas para que ardesse ainda mais.
Depois de tudo isso, dizem que o avô deu a ele um saco que continha os restos mortais do pai e o obrigou a carregar pela floresta, soltando os cães em cima dele. Ao fim das contas, os cães o mataram, mas o Silbón não aceitou essa morte, achando-a injusta, e por isso seu espírito continuou na terra.
Dizem que sua alma foi condenada a vagar pelo mundo, carregando os restos de seu pai em um saco nas costas. Sempre está com um cão espectral que o persegue e costuma parar nas janelas ou portas das casas para contar os ossos. Nessas horas é comum que os moradores ouçam assobios do lado de fora, mas não veem ninguém.
Naquele dia no shopping, mesmo pensando que era apenas uma fantasia, fiquei desesperada para que Catalina o visse, mas não o viu. Nós até o procuramos de novo, mas ele havia sumido.
Estou abraçada à minha filha agora, esperando o dia amanhecer e sinto certo desespero em meu coração. Dizem que se você vir o Silbón, ele vai embora e não faz nada. Porém, se você apenas ouvir seu assobio, mas não o ver, no dia seguinte, alguém na sua casa não acordará.
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Nota: A lenda é real, quis escrever sobre ela por gostar das lendas latinas. Estou pensando em trazer outras. Não sei se ficou interessante. O que pensam?

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Histórias estranhas
HorrorColetânea de contos curtinhos de terror e mistério com finais inesperados