A semana passou se arrastando. Parecia que cada dia mais as coisas ficavam tensas na cidade e no país.
Minhas ligações com Camila foram ficando cada vez mais raras até que ela parou de me ligar por ordem de sua mãe. Já minha mãe, não gostava muito da ideia de eu ficar socializando com minhas amigas, pra ela, todas seriam minhas concorrentes.
- Você vai precisar eliminá-las - dizia ela a cada dia - quanto mais cedo cortar os laços, melhor será pra você.
A cada afirmação que ela fazia sobre isso, eu tinha vontade de gritar com ela e dizer que as coisas não eram assim, mas estava tão esgotada que não sentia necessidade de gritar com ninguém. Apenas comigo mesma por me sujeitar a algo assim.
- Ansiosa? - disse meu pai no café da manhã - hoje é um grande dia...
- Não sei como poderia ser mais pior - digo revirando os olhos - não vejo a hora desse circo acabar.
- Liz - interrompe minha mãe - precisamos estar impecáveis para hoje à noite. Caso dê tudo certo, você parte amanhã cedo.
- Porque tão rápido assim?
- Thomas não quer perder tempo querida - diz meu pai cortando sutilmente a acidez que viria da minha mãe - ele só quer mostrar que é um bom líder.
- Pobre garoto - minha mãe disse por fim - com essa pressão toda imagine como ele deve estar...
- Não entendo - digo me levantando da mesa - porque nós nunca vimos o filho de Victor antes?
Minha mãe tenta formular alguma coisa mas parece não saber responder, meu pai por fim tira os olhos do jornal e me olha com sinceridade:
- A política do nosso país é bem estruturada Liz...- ele faz uma pausa como se estivesse pensando no que falar exatamente - porém, Victor avança de idade, é ideal que em um momento como esse, o filho aprenda os deveres de ser um líder.
Paro por um instante e me lembro da cena de Thomas entrando no palanque em rede nacional. Ele parecia feliz, estava pleno. Porém, porque isso agora? Eu sabia já pelo meus pais, que o intuito dessa competição era fortalecer a esperança do país. Mas fortalecer porque? Já não estavam todos devotados o suficiente? O sistema de pareamento não funcionava muito bem? Não era um dos melhores governos de todas as Ordens Mundiais?
Só surgiam cada vez mais perguntas que eu não sabia responder e ficava de certa forma, desesperada por respostas.
- Você não precisa se preocupar com isso - diz minha mãe calmamente - contratei uma cabeleireira e comprei alguns vestidos pra você, está noite, você estará radiante.
Penso que não tinha como ficar pior, mas minha mãe supera todas as expectativas.
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••'"Boa noite cidadãos americanos"
A voz de Bartolomeu ressoa da sala. Tudo porque a cobertura e a seleção começaria dali em instantes. Treva!!
"Muitas expectativas na noite de hoje. Acho que em cinquenta anos, algo nunca foi tão importante e festejado nesse país. A competição das noivas é um grande sucesso. "
Meu pai aplaude da sala. Com a alta taxa de inscrições, muitas famílias contrataram meu pai para tirar suas fotos. Ele era o melhor fotógrafo da cidade do Oregon e fotógrafo do prefeito Wilson. Não havia nada melhor que ter um retrato tirado por ele.
"O número de inscrições superou as expectativas. Foram mais de quinhentas inscrições oficiais, mas apenas cem garotas entrarão nesse castelo. Vocês já tem suas apostas? Creio que cada família tem. "
A campainha toca e a cabeleireira que enfim me deixará linda para hoje à noite chega. Ela não parece muito simpática e é meio baixinha. Tem uma maquiagem carregada, mas os cabelos são de um ruivo lindíssimos.
- Sandra - minha mãe praticamente exclama das escadas - entre querida. Sinta-se a vontade.
Sandra não tem cara de muitos amigos e logo me olha de cima a baixo.
- O serviço vai ser duro com sua filha - diz gesticulando pra mim como se eu fosse um manequim.
- Nem me fale - diz minha mãe olhando pra mim - pago o que for preciso. Quero Elisabeth uma princesa está noite.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Sandra pode ser um porre, porém era muito habilidosa. Sempre gostei do meu cabelo alisado pelo simples fato de poucas pessoas da minha cor usarem o cabelo natural.
Não havia muitas modelos negras licenciadas pelo governo e de fato as vezes me sentia menos representada. Porém, Sandra pensava diferente. Ela havia hidratado meu cabelo com algo que eu não sabia ser ao certo o que era e agora meu cabelo estava fofo e cheirava a morango. Pra melhorar ainda mais, ela o ajustou com o babyliss e agora ele descia em cachos nos meus ombros.
Na maquiagem, ela não fez nada pesado. Pelo contrário, ela suavizou para que a minha cor entrasse em contraste perfeito com o cabelo. Meus lábios estavam mais fartos pela cor do batom, que era um vermelho vivo. Eu de fato, não me reconhecia. Estava linda.
- Meu Deus - exclamei assim que Sandra terminou o delineado nos olhos - você é incrível. Obrigada.
Sandra pela primeira vez sorriu:
- Eu sou não sou? - ela disse rindo - foi trabalhoso mas você é linda. Sua mãe está certa quando vê potencial em você.
Sorrio com a gentileza dela.
- Obrigada - digo sorrindo pra ela - não gosto da idéia do que está acontecendo, mas fico grata por me proporcionar esse dia de princesa.
- Disponha - ela sorriu e logo depois se fechou em seu mundo particular, arrumando sua bolsinha de maquiagens e acessórios para cabelo.
- UAU - meu pai exclama quando passa pelo meu quarto - que gatinha.
- Obrigada pai - digo sem jeito - super produção não é?
- Acho que se Thomas visse você assim, não precisaria de competição.
Confesso que fico corada com o comentário mas logo afugento a idéia. Eu queria era fugir dali. Essa super produção indicava que a competição era real.
- VOCÊ ESTÁ LINDA - minha mãe grita e logo lágrimas brotam de seus olhos - vai ficar ainda mais perfeita quando provar esse vestido que comprei pra você.
E pendurado em um cabide mesma cor, o vestido era de um rosa todo bordado. A coisa mais linda que eu já havia visto ou vestido. Ele com certeza cairia perfeito em meu corpo. E com a maquiagem e cabelo que Sandra havia feito, não tinha como ser mais perfeito.
- É lindo mãe - digo por fim - claro que irei usá-lo.
Ela bate palmilhas feliz e me despeço de Sandra que me dá um animado *boa sorte garota*, e segue seu caminho com a minha mãe.
Quando por fim estou só no meu quarto já vestida, sinto um misto de sensações. A primeira: era que eu não queria estar naquela posição. Nunca gostei de ser obrigada a nada. A segunda é que: por mais confusa e brava que eu pudesse estar, tinha gostado do dia de beleza de hoje. Gostei da idéia de ter minha mãe por perto sem aquelas cobranças de sempre. E isso me afligia, porque o objetivo dela não tinha sido me fazer de sentir melhor, mas sim um vale Noiva para a Ordem. Terceiro: Eu estava ansiosa para a apuração. Eu sabia que não queria estar no palácio, mas e "se"?
Tentei ignorar os meus devaneios de adolescente e desci por fim as escadas. Para minha surpresa, meu pai estava muito bem arrumado também e minha mãe também. Estavam todos fabulosos. O porque? Eu não sabia dizer. Mas gostei de vê-los assim. Parecia mais real pra mim.
- Você está perfeita - diz meu pai vindo até mim e me ajudando a descer os últimos degraus - se ele não escolher você, provavelmente ele é um idiota.
Sorrio e aceno com a cabeça:
- Talvez ele seja - digo sorrindo mas torcendo pra que isso acontecesse. Ou não.
- Antes que a apuração comece, gostaria de dizer algo a você...
"Boa noite Americanos e Americanas. O grande momento chegou. Eu sou Bartolomeu o correspondente do Governo sobre a competição das Noivas e sua apuração.
Ao meu lado está o homem mais badalado e disputado do momento. Thomás Salazar Petravicius.
Thomás estava literalmente impecável. O paletó preto fazia mais uma vez ele parecer o homem mais perfeito da Terra. A barba estava por fazer e os cabelos estavam impecáveis. O caimento da camisa fazia seus braços parecerem mais musculosos que tudo. Realmente eu entedia o alarde todo por ele. Porém, gostava de pessoas mais imperfeitas, ele parecia perfeito demais.
"Não tenho nem palavras Bartolomeu. A ansiedade por conhecer todas essas jovens está me matando até agora. Acho que será ótimo para o país acompanhar a construção de sua nova líder junto a mim."
"Você tem alguma ideia da garota ideal Thomás? - Bartolomeu pergunta de forma despretensiosa. Há uma pausa e Thomás parece sair do personagem por algum tempo."
"Ela precisa ser real. Acho que...quero uma garota que pareça mais real para as pessoas. Até por que, ninguém e perfeito o tempo todo."
Minha mãe aplaude e pelo visto não é a única porque quando a câmera abre para o espaço aonde está sendo gravado, um enorme salão banhado em outro se estende. Existem pessoas ali como impressa, famosos e atrizes assistindo tudo de perto. Fico enjoada, confesso.
"Sem mais delongas, acho que está na hora não é mesmo? - Bartolomeu cutuca Thomás de brincadeira. "
"Claro.- Thomás sorri perfeitamente para a câmera em sua frente - por favor, tragam a urna, vamos começar. A hora finamente chegou senhoras e senhores."
Como ele parece perfeito em frente as câmeras. A forma como levanta para ir até a urna trás uma dramaticidade que só vejo em atores profissionais. Como ele conseguia ser tão despretensioso assim?
Bartolomeu por outro lado parecia aflito mas curioso. Ele parecia um monte de glacê essa noite. Seu terno era branco porém muito curto para seu tamanho. Não estava muito bem não. Coitado!!
A câmera foca em Thomas que suavemente desliza sua mão até a enorme urna preta, e retira um envelope branco. Ele o abre calmamente, o maior suspense do mundo. Finalmente depois de aberto ele sorri e anuncia:
"A primeira selecionada senhoras e senhores, é Camila Medeiros da Cidade do Oregon número 136. Parabéns Camila."
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A Noiva
RomanceEm Um Mundo Futurístico as mulheres são quase extintas. Um novo governo chamado Nova Ordem assumiu o controle, e para salvar a população desse colapso, eles decretam que jovens de 16 anos são obrigadas a casar. Elisabeth Smith completará 16 anos da...