Acordei com os gritos eufóricos da minha mãe. Eu não estava nem um pouco interessada, então resolvi ignora-la pra voltar a dormir mas mesmo assim ela continuava gritando de tão empolgada.
- Que inferno - gritei pra ela - porque a gritaria? - comecei a calçar as pantufas e desci as escadas quando me deparei com dois soldados, na realidade guardas de preto e vermelho na minha sala.
- Elisabeth - gritou minha mãe mais uma vez - esses são guardas oficiais do palácio.
- O que eles estão fazendo aqui? - disse em voz alta mas não queria parecer rude, porém, eles não deram a mínima atenção pra mim. Continuavam olhando o formulário.
- Pela crescente onda de inscrições - disse minha mãe sorrindo - Victor ficou com medo de extraviarem as inscrições, sabe como são os rebeldes...Então, mandou esses cavalheiros para recolher as inscrições de cada jovem do país.
- Mas isso vai demorar dias... Não é possível que até o final da semana eles tenham acabado...
- Errado Senhorita Smith - cortou o guarda que agora olhava sério pra mim - nossas tropas são mais rápidas e eficazes do que a senhorita pode imaginar. Digo com certeza que até o final da semana teremos os resultados oficiais.
O guarda acena para nos com a cabeça e diz que todas as partes estão preenchidas corretamente e se retira.
Minha mãe parece mais radiante do que nunca e eu me sinto um pouco afobada. Não porque quero fazer parte desse circo que está a minha vida, mas sim pelo fato de que tudo está mudando.
- Que horas são? - é tudo o que consigo dizer após a saída do guarda - tenho aula.
- Você não tem aula, na realidade nenhuma das meninas tem.
- Como assim mãe? - agora era só o que me faltava...
- Foi decretado que vocês meninas - minha mãe faz um aceno com a cabeça e sorri - ficassem em casa por medida de segurança.
- Como é que é? - digo irritada - medida de segurança?
- Você sabe que ainda existem rebeldes Elisabeth - ela diz com certo medo na voz - isso seria um prato cheio para eles. Atacar as jovens que serão prometidas a competição.
- Faz muito tempo que não vemos Rebeldes mãe...
- Não significa que eles não estão por aí filha - ela diz por fim - você não sabe como eles podem ser cruéis.
Queria perguntar o que ela estava querendo dizer com isso, mas receio não gostar muito da resposta e me calo. Por fim, resolvo subir para meu quarto.
Penso em ligar para Camila, mas acho que não seria uma boa ideia por sinal, quartas são dias que sua família fazem os cultos em casa. Não gostaria de atrapalhar, além de que, pedir conselho para uma amiga que pode estar na mesma situação que eu, é burrice.
- É Liz - digo para mim mesma - você está sozinha, pelo menos até isso acabar.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
- Por que não me ligou antes? - Camila praticamente berra ao telefone.
Sorrio pela iniciativa dela ter me ligado.
- Amiga - começo a rir - hoje é o dia do culto doméstico - falo meio sem jeito. Minha família não é religiosa, a devoção deles ao contrário da de Camila é para o Governo.
- Para de ser idiota - ela parece sorrir - sempre tenho tempo para minha melhor amiga.
Meus olhos se enchem de lágrimas, mas afugento a possibilidade. Camila e eu sempre nos demos bem desde o jardim de infância. Sua mãe, é tão amável, bem diferente da minha, e seu pai é um homem bom. Sempre me trataram como filha.
- Acho que vou surtar - digo por fim.
Ela fica calada e acho que isso é um sinal para que eu continue falando.
- Essa história de pareamento, agora competição, meus pais me pressionando - minha voz vai vacilando - não sei se aguento Camis.
- Eu entendo Liz - ela diz calmamente - se isso te faz se sentir melhor, estamos todas, no mesmo barco. Iremos juntas caso sejamos escolhidas. Infelizmente não há o que ser feito.
- Mas é tudo tão injusto...Sei que não vou ser escolhida, mas odiaria a possibilidade de competir com você ou Lorena.
- As vezes nem é uma competição - ela diz pra me acalmar - as vezes é só um alarde do Governo.
- Meu pai disse que já foi feito uma vez e que lembra o sucesso que foi - digo baixinho.
- Minha mãe disse a mesma coisa - ela completa - parece que acalmou a situação nos primeiros anos de governo. Ter uma representante feminina que se dispusesse a se sacrificar pelo Bem Maior.
- Acha que dessa vez dará certo?
Ela faz una pausa e suspira:
- Não tem como dar errado Liz. E pra ser bem sincera, se não formos enviadas para isso, teremos que enfrentar o pareamento da mesma forma.
- Eu odeio isso - digo sorrindo - vou ficar longe de vocês.
Ela sorri mas percebo que ela suspira mais uma vez.
- Pelo menos temos o direito de escolher a casa de acordo com os formulários e se queremos trabalhar ou não.
- Grande coisa - comento mais para mim mesma - sinto que é tudo injusto da mesma forma.
- E é mesmo - ela diz fungando porém parece ficar mais otimista - estaremos de todo jeito...Juntas. - ela suspira - Liz,jamais abandonarei você nessa fase.
Sorrio com a possibilidade de sermos selecionadas, ou até mesmo de ver minha amiga na TV. Camila era ótima em diplomacia e de todas as meninas da escola, suas notas eram as mais notáveis.
- Você daria uma ótima representante - digo sorrindo - estarei torcendo por você.
E no fundo do meu coração era verdade. Se alguém merecia ter o melhor que alguém pudesse oferecer, esse alguém é Camila.
- Não seja idiota - ela diz sorrindo - você é mais durona do que eu. Sou apenas mais racional.
- Apenas mais racional - imito sua voz um pouco fina demais e caímos na risada.
- Liz - ela diz por fim com a voz meio trêmula - promete que vamos continuar amigas? Mesmo que uma de nós seja selecionada ou não...
Minha voz também vacila ao responder, mas sei que nunca abandonaria minha amiga.
- Sempre - e nos duas ficamos horas a fio conversando no telefone.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
- Será uma grande estrutura - diz meu pai no jantar. Eu ainda não estava falando com ele, porém, não queria ser mal educada. Eu não sabia quanto tempo estaria em casa.
- Como assim querido? - diz minha mãe carinhosa até demais.
Meu pai faz uma pausa na comida e direciona o olhar pra mim e minha mãe.
- Na primeira vez que a competição aconteceu, não tínhamos tanta tecnologia como temos hoje. E muito do que se tinha, ou era caro demais, ou foi perdido na guerra.
Isso era um fato histórico importante. Com o fim da quarta guerra, além da economia e pandemia, tudo de tecnologia que existia foi perdido. Computadores, celulares, carros, satélites, foi uma era de caos. Assim como a Ordem demorou para reorganizar um mundo em caos, a tecnologia demorou o mesmo processo de tempo se não mais.
- Vocês serão filmadas quase vinte e quatro horas por dia - meu pai diz por fim.
- Sem privacidade - digo comendo um pedaço de batata - Ótimo. Não poderia ser melhor.
- Porém só será televisionado na hora do Jornal da Ordem. Parece que haverá meio que uma programação especial para apresentar vocês. Será tudo com grande investimento e tecnologia.
Enquanto minha mãe fazia um discurso sobre como o governo estava pensando em tudo, ao fundo eu podia ver uma reportagem sobre o castelo. O repórter já era um velho conhecido do governo. Acho que ele era mais velho até que o próprio Victor.
* Faz quase menos de vinte e quatro horas que a competição das Noivas foi anunciada, e a chuva de especulações não para de crescer.
Thomás Salazar nunca esteve em frente as câmeras antes, e há certo receio de parte da população em saber porque Victor , nosso representante, manteve o filho tão longe dos holofotes.
Será que Victor preparou o filho para ser líder? Ou simplesmente está testando os deveres do filho de escolher uma boa esposa? Ou ver quão devotada está sua população?
Segundo dados oficiais do governo, as inscrições já superam o número inicial de expectativas. O que gera ainda mais especulações para quais requisitos Thomás escolherá suas selecionadas. Será a beleza? O alto poder aquisitivo? Políticas de inclusão? Cotas? Essas respostas teremos até sexta feira no Jornal Oficial da Ordem.
Aqui é Bartolomeu Scott o correspondente oficial da Competição das Noivas".
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A Noiva
RomanceEm Um Mundo Futurístico as mulheres são quase extintas. Um novo governo chamado Nova Ordem assumiu o controle, e para salvar a população desse colapso, eles decretam que jovens de 16 anos são obrigadas a casar. Elisabeth Smith completará 16 anos da...