- Você sempre demora assim pra se arrumar? Ou foi para me evitar mesmo? - disse Thomás assim que meus empregados saíram do quarto deixando o caminho livre para ele.
- Ainda estou me habituando - digo seca - é muito luxo, até mesmo para mim.
Thomas está com uma cara cansada, diferente do jantar, seus olhos como sempre parecem mudar de cor, será que ele usa lentes?
- Queria conversar com você um pouco - diz se sentando na minha cama e olhando pra mim - acho que, passei a impressão errada nas saudações. Queria me desculpar.
Continuo sentada na mesa em frente a penteadeira mas me viro para encara-ló. Já que estava só olhando seu reflexo pelo espelho.
- Você usa lentes de contato?
- Que?
- Lentes de contato! Seus olhos sempre mudam de cor tão repentinamente, parece até que são bicolores.
Thomas parece pensar sobre minha pergunta e vai até a minha sacada.
- Acho que você está ficando doida Elisabeth.
- Eu sei o que eu vejo. Se você gosta de usar lentes, saiba que não vejo problemas... mas acho que deveria ser mais natural.
Risadas, mais uma vez risadas. Ele olha pra mim e da o sorriso mais bonito que eu já vi. INFERNO!!
- Eu já disse que meus olhos continuam da mesma cor.
- Ta - digo rindo um pouco - desculpo você.
- Você realmente se sente inferior às outras?
Ele realmente sabia sobre a entrevista!! As notícias correm rápido por aqui.
- Mais ou menos - digo bufando - não é algo que me incomoda mas me irrita um pouco.
Thomás parece compreender e faz sinal para que eu me junte a ele na sacada. Eu ainda não havia descoberto essa parte do meu quarto, mas quando me achego, percebo que a brisa está morna e a vista da de frente para os portões do castelo. Lindo, aliás.
- O que posso fazer pra te ajudar? - sua voz soa gentil e calma.
- Como assim?
Ele sorri, de novo aquele sorriso torto, mas lindo. É como se o sol e a lua emprestassem um pouco de seu brilho quando ele sorri. É divino.
- Sei que você não quer estar aqui - diz ele me olhando - mas não quero te mandar embora agora. Pelo menos, ainda não.
- Ainda não? - isso era supresa pra mim.
- Preciso conquistar as pessoas. Preciso que elas saibam que eu sei governar. Que sei lidar com pessoas diferentes. Era o desejo da minha mãe.
Pausa e longo silêncio entre nós.
- Você deve me achar um idiota, e deixe eu simplificar pra você, eu sou. Sou um almofadinha que sempre teve de tudo. Mas não sou um idiota. Eu não posso arriscar o governo. Há muitas coisas em jogo.
- Então você quer me usar? É isso?
Thomás me olha profundamente e seus olhos castanhos escuros parecem varrer a minha alma.
- Quero fazer um acordo com você - diz ele me fitando - porém, a decisão é extremamente sua.
- Acordo? - agora era o auge para mim - Com você?
Ele sorri mais uma vez, mas deixo que ele fale. Será que seria tão ruim?
- Preciso que você fique Elisabeth pelos mesmos motivos que já lhe disse. Eu sei que você não tem interesse em mim, e posso afirmar que é recíproco. Porém, as pessoas precisam saber que sei lidar com as diferenças. Existem pessoas da mesma cor que você, que estão se espelhando na senhorita. Então por favor, - ele se vira e pega mão - coopere comigo. Eu prometo que nada lhe faltará, nem comida, nem dinheiro para sua família, a medida que avançarmos na competição, esse dinheiro aumentará, e quando chegar a hora, eu a mandarei embora. Eu prometo.
Essa proposta era tentadora demais. Mas como poderíamos passar a perna na competição justo agora no começo? E por que eu? Como ele tinha sacado isso tão depressa? Só com a minha entrevista?
- Você ficou sabendo de tudo isso só por causa da minha conversa com o Bartolomeu?
Ele franze a testa mas ainda assim continua me olhando.
- Nenhuma pessoa gostaria de estar aqui pelos motivos os quais a senhorita foi chamada. Isso não foi ideia minha, foi ideia do meu pai.
- Seu pai? Quer dizer que a ideia de cotas... Foi do seu pai?
- Em partes - diz ele suavemente - o projeto era para ser inclusivo, mas não assim. Por isso, deixe eu mostrar que estão errados. Que meu pai está errado. Eu notei que você não está feliz, mas preciso que fique. Se sair agora, vai causar um reboliço nas manchetes...
- Tudo bem - digo por fim - porém, quero algo em troca pelo menos dessa vez...
Thomás sorri e parece que o Sol emprestou sua luz para aquele sorriso.
- Tudo o que você quiser senhorita Smith.
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A Noiva
RomanceEm Um Mundo Futurístico as mulheres são quase extintas. Um novo governo chamado Nova Ordem assumiu o controle, e para salvar a população desse colapso, eles decretam que jovens de 16 anos são obrigadas a casar. Elisabeth Smith completará 16 anos da...